Esquemas de silvicultura, barragens hidroelétricas, parques solares e eólicos, eliminação de resíduos e distribuição de eletrodomésticos mais ecológicos em países em desenvolvimento. São essas as áreas de intervenção de 50 projetos para combater a pegada carbónica mundial. No entanto, uma nova investigação assegura que a grande maioria é “provavelmente um lixo”.

A análise conduzida pela organização sem fins lucrativos Corporate Accountability e o jornal The Guardian estudou os aspetos dos 50 projetos apresentados por “governos, instituições e empresas” — nomeadamente, petrolíferas, companhias aéreas, marcas de fast-food, de moda, entre outras — e detetou diversas “falhas fundamentais”, que tornam praticamente impossível uma contribuição para a redução das emissões de aquecimento do planeta.

As duas instituições consideraram como falhas a possibilidade das “deslocações das emissões de um local para outro” — algo recorrente nos projetos florestais —, “a inflação dos benefícios”, “sobrestimação da desflorestação evitada” e a “não permanência” do carbono, que faz com que ele volte a “escapar” para a atmosfera.

Segundo o relatado pelo jornal, “um total de 39 dos 50 projetos principais, o que corresponde a 78%, foram classificados como provavelmente um lixo ou sem valor”, visto que uma ou mais falhas “compromete o corte de emissões prometido”.

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Foi o caso de um projeto de conservação no Zimbabué, que fez “declarações tão exageradas” e que “provavelmente redirecionou as emissões para outro local”, que até disseram que “tinha mais buracos financeiros do que um queijo suíço”.

Já oito, equivalente a 16%, “parecem problemáticos”, pois têm “provas” que apontam para, pelo menos, uma falha. Desta forma, são considerados “potencialmente lixo”.

No que diz respeito aos restante três projetos, a sua “eficácia” não pôde ser analisada, por não existir “informação pública e independente suficiente para avaliar adequadamente a qualidade dos créditos e/ou a exatidão dos benefícios climáticos alegados”.

Estes projetos funcionam através do sistema de créditos de compensação dos gases de efeito de estufa (GEE), que, como o jornal descreve, são “licenças ou certificados negociáveis que permitem compensar uma tonelada de dióxido de carbono, ou o equivalente nestas emissões, investindo em projetos ambientais” que fazem o contrário.

Até agora, foram negociados mais de um mil milhões de euros nesses créditos de carbono nos projetos classificados como “provavelmente um lixo”. Já os classificados como “potencialmente um lixo”, tiveram um investimento de mais de 370 milhões de euros.

A investigação foi publicada no mesmo dia da Assembleia Geral das Nações Unidas, que ocorreu esta terça-feira, em Nova Iorque, e foi marcada também pelo debate sobre a crise climática, apesar de o assunto preliminar ter sido a guerra na Ucrânia.

Um dos chefes de Estado que mais tocou no assunto foi Lula da Silva, Presidente do Brasil, que garantiu que “agir contra a mudança do clima implica pensar no amanhã e enfrentar desigualdades históricas”.

Os países ricos cresceram baseados num modelo com altas taxas de emissões de gases. A emergência climática torna urgente uma correção de rumos e implementação do que já foi acordado”, reforçou.

Lula da Silva, que voltou a ser eleito Presidente no início deste mês, seguindo a Jair Bolsonoaro, que, durante o seu mandato, fez aumentar as emissões de dióxido de carbono na Amazónia, disse ainda que “87% da energia elétrica” do país “provem de fontes limpas e renováveis”.

Apesar dos danos causados pelo antigo Presidente, Lula garantiu que, “ao longo dos últimos oito meses”, o desmatamento na Amazónia já foi reduzido em 48%”. “O mundo sempre falou da Amazónia. Agora é a Amazónia a falar por si”, apontou.