Como é habitual, sobrou um “se”. “Se” aquele chapéu de Ana Capeta a dez minutos do final depois de um erro defensivo da França (e da experiente Wendie Renard, uma das melhores centrais da década) sai mais ao lado para bater nas malhas de dentro e não laterais, Portugal teria conseguido um empate que até poderia tornar-se resultado final – além de ser o primeiro golo na história às gaulesas em sete partidas. Não aconteceu. Por isso, a estreia da Seleção na Liga das Nações ficou marcada pelo “mas”. A equipa fez uma segunda parte muito interessante mas as visitadas foram melhores e justificaram a vantagem pelo primeiro tempo. A equipa mostrou em alguns momentos que pode competir contra as maiores potências mas em alguns momentos não teve o mesmo andamento. Agora, em Barcelos com a Noruega, a equipa queria deixar o “mas” de parte.

A Chapetada para a história ficou na malha lateral: Seleção feminina perde em França na estreia na Liga das Nações

“Sabemos do que somos capazes e só queremos que chegue a hora do jogo para mostrar a nossa identidade. Confiamos muito nas nossas jogadoras e no seu compromisso. Entre duas equipas muito equilibradas e mais encaixadas, com menos espaços, queremos que a criatividade surja e damos essa liberdade às jogadoras. A única coisa que controlamos realmente é a nossa forma de jogar, a nossa forma de estar, como encaramos os jogos. Temos que manter o nosso ADN”, tinha pedido Francisco Neto quase num prolongamento do que fizera antes da partida em Valenciennes, onde falou em ideias como coragem ou audácia mantendo a mesma filosofia de jogo, neste caso contra aquela que parte como principal favorita teórica à liderança do grupo.

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“Sabemos que é uma equipa técnica que já está na estrutura federativa da Noruega há muitos anos, com trabalho nos Sub-21. Analisámos o historial do treinador e a sua liderança, nota-se nitidamente algumas alterações nas dinâmicas da equipa desde o Mundial”, apontou ainda em relação a uma Noruega que agora tem Leif Smerud no comando técnico em vez de Hege Riise e que começou esta Liga das Nações com um empate frente à Áustria após um Mundial em que ficou nos oitavos frente ao Japão na sequência de uma fase de grupos em que teve uma vitória (Filipinas), um empate (Suíça) e uma derrota (Nova Zelândia). Já sabendo da ausência da estrela Ada Hegerberg, que ainda não se estreou pelo Lyon em 2023/24, também Caroline Hansen, do Barcelona, ficava de fora por lesão entre outras alterações face ao último onze inicial.

Se antes da partida Hegerberg, mesmo estando longe dos relvados, tinha sido notícia por um bug improvável e invulgar que fez com que fosse “apagada” do EA Sports FC 24 enquanto não se perceber o que se passa (o facto de se carregar no L2 fazia com que automaticamente perdesse a bola), no final da partida a própria Noruega passou a ser notícia por um bug real chamado Portugal. A Seleção conseguiu ser melhor do que a atual 13.ª do ranking mundial, conseguiu superar uma desvantagem contra a corrente do jogo que poderia ter deixado mossa e conseguiu ultrapassar um (raro) erro em zona proibida que valeu o empate no segundo tempo para atingir a primeira vitória de sempre na Liga das Nações, subindo ao segundo lugar com três pontos num grupo que mantém a França na liderança após novo triunfo diante da Áustria (1-0). E, mais uma vez, com Carole Costa a decidir de penálti como tinha acontecido no playoff intercontinental que realizou na Nova Zelândia frente aos Camarões e que valeu o primeiro apuramento para um Mundial.

Elas são um exemplo de tudo, elas não têm de provar mais nada (a crónica do Portugal-Camarões que valeu a qualificação para o Mundial)

O encontro começou de uma forma atípica e com prejuízo para ambos as equipas. Expliquemos: um primeiro esboço de ataque da Noruega que poderia até levar perigo mas perdeu-se, um primeiro esboço de ataque de Portugal que poderia até levar perigo mas perdeu-se, uma nova tentativa das visitantes que terminou com um choque aparatoso entre Sophie Haug e Inês Pereira. Ambas ficaram no chão, ambas foram assistidas, ambas acabaram por sair numa fase precoce da partida após um lance ao quarto minuto que deixou a guarda-redes com a cabeça ligada e muitas lágrimas que tentava disfarçar antes de receber o conforto de todas as jogadoras que estavam no banco e do próprio selecionador. Havia quase uma “motivação extra” para a vitória.

Portugal ia dominando nos números sem que com isso ganhasse muito em termos práticos. Apresentando quatro mudanças face ao último onze (que passaram a três com a entrada de Patrícia Morais para a baliza, ficando assim Fátima Pinto, Andreia Jacinto e Ana Capeta como as novidades sem alterar o 4x4x2 losango habitual), a Seleção tinha mais bola, estava mais tempo no meio-campo contrário mas teve apenas uma tentativa que podia ter levado algum perigo com o desvio de cabeça de Ana Capeta por cima após cruzamento de Ana Borges (12′), ao passo que Elisabeth Terland, substituta de Haug (que foi conduzida ao hospital), teve um remate muito por cima (15′). Contra a corrente do jogo, foi mesmo a Noruega a adiantar-se no marcador com Frida Maanum, jogadora do Arsenal, a receber à entrada da área e a atirar em arco para o 1-0 (33′).

O domínio territorial de nada valia e nem o facto de tentar ser melhor evitara a desvantagem. Ainda assim, foi aqui que tudo mudou. E se com a França houve um período em que Portugal acusou o golo sofrido, aqui teve a capacidade de acreditar no processo, manter-se fiel à identidade de jogo e procurar ser feliz. Foi. E logo em dose dupla: Andreia Jacinto, na sequência de um cruzamento de Capeta cortado de forma incompleta na área pelas norueguesas, aproveitou a segunda bola para atirar sem hipóteses para Aurora Mikalsen (38′) e Carole Costa, numa grande penalidade sofrida por Diana Silva, fez a reviravolta antes do descanso com a guarda-redes contrária a tocar ainda na bola que saiu para o seu lado direito (44′). Barcelos já festejava e Kika ainda ficou perto de chegar ao 3-1 mas o remate da jovem jogadora saiu prensado para canto (45+2′).

A segunda parte arrancou com características semelhantes ao que se passou na maioria do primeiro tempo mas com a Noruega a ter uma nuance tática que causou mossa, baixando ligeiramente o meio-campo na zona de pressão para procurar depois a profundidade. Foi assim que Terland, aproveitando uma bola perdida no lado direito, isolou-se nas costas das centrais para ver Patrícia Morais fazer a defesa do jogo (57′). Foi assim que Terland, após uma perda de Andreia Jacinto a meio-campo, voltou a ser isolada nas costas mas desta vez não perdoou (58′). Voltava tudo à “estaca zero”, com Ana Capeta a deixar de novo a sensação de golo num desvio de cabeça após uma saída precipitada de Mikalsen que saiu perto do poste (66′) antes de Carole Costa a bisar em novo penálti por falta clara sobre Catarina Amado (69′). Até ao final, Terland ameaçou o empate numa bola perdida na área mas Patrícia Morais segurou a vantagem com nova boa defesa (87′).