É um Folio “na sombra” de José Pinho. A programação deste ano do festival literário, apresentada esta quinta-feira aos jornalistas e que decorrerá pela oitava vez no concelho de Óbidos, reflete a cada passo a influência do livreiro e divulgador cultural, fundador da conhecida livraria Ler Devagar e do próprio festival. De 12 a 22 de outubro, com mais de 600 eventos, entre lançamentos, concertos, exposições e conversas com autores e personalidades várias, num programa pensado à imagem de uma das principais constantes na vida de José Pinho: o “risco”.
A apresentação desta quinta-feira, que decorreu no Centro Cultural do Bairro Alto – um espaço multidisciplinar, que abrirá ao público nas próximas semanas e era um dos grandes projetos ao qual Pinho estava dedicado antes de morrer, no passado mês de maio – serviu para apresentar a longa lista de convidados, nacionais e internacionais, que vão passar por Óbidos no próximo mês de outubro.
Entre os destaques no leque de presenças estão nomes como Terry Eagleton. O filósofo britânico vai estar à conversa com Pedro Mexia, ao abrigo da curadoria da Folio Autores, tendo por tema o “pensamento crítico”.
O ciclo de debates inclui ainda autores como Geoff Dyer, numa conversa sobre “o fim” com o autor português João Tordo, Julia Navarro e Hervé Le Tellier, que abordarão o conceito de “utopia”, o cantor brasileiro Ney Matogrosso, para falar sobre a “vida” com Júlio Maria, Leonardo Padura, num debate sobre “coerência” com Carlos Vaz Marques, e Antonio Scuratti, autor de M, biografia romanceada de Mussolini e que irá conversar com o deputado Rui Tavares sobre a questão dos novos populismos. No último dia do evento, Paulo Portas e Michel Eltchaninof juntar-se-ão para uma conversa sobre “o futuro”.
A estes colóquios, juntam-se ainda outros, no âmbito do Folio Mais, que pretende dar espaço a conversas transversais à literatura e às artes. Mariana Enriquez, Sérgio Godinho, Pilar del Río, Capicua, Jorge Carrión, Susana Moreira Marques, Zeferino Coelho, Ondjaki, Ana Zanatti ou Gonçalo M. Tavares (este último responsável por lecionar um curso literário) são algumas das personalidades associadas ao evento, que contará, no total, com dezenas de lançamentos de livros, concertos e exposições.
“O Pinho deixou-nos instrumentos, capacitou-nos, cuidou deste projeto, e o que temos que fazer é dar continuidade àquilo que foi semeado”, disse, em jeito de homenagem, o presidente da Câmara Municipal de Óbidos, Filipe Daniel. “É um projeto muito grande que vai muito além de qualquer pessoa, e o Pinho deixou-nos um conjunto de ferramentas muito importantes” acrescentou, ladeado pela equipa responsável pela organização do evento e que inclui Joana Pinho, diretora das Livrarias Ler Devagar e filha do livreiro.
A vida e obra de José Pinho será, de resto, lembrada através da exposição PIM! deste ano. Programada por Mafalda Milhões, terá como tema “O Risco de Ler Devagar”, reunindo 69 ilustradores (tantos quantos os anos de vida do livreiro quando morreu) que ilustrarão, cada um, um ano da vida de Pinho.
Presença constante no festival literário, que é também multidisciplinar, são os concertos, organizados pela Fundação INATEL, que gere a curadoria Folia. Júlio Resende, Marco Rodrigues, Ana Lua Caiano, Sircaia e Lavoisier são alguns dos nomes em destaque na programação deste ano.
A edição deste ano do FOLIO começa a 12 de outubro, mas o programa do festival já está na estrada – literalmente, neste caso. Uma das novidades deste ano é a “Carrinha do Desassossego”: trata-se de uma carrinha itinerante que, antes dos dias do festival propriamente dito, andará pelas várias freguesias do concelho de Óbidos, em escolas, lares e nas ruas, numa iniciativa que, de acordo com a vereadora da autarquia para a Cultura, Ana Margarida Reis, visa “desassossegar” os munícipes e aproximá-los dos livros e do meio cultural. Durante estes dias, os habitantes poderão ter contacto com os livros que estarão presentes no festival, e que estarão disponíveis para consulta na carrinha.
