A juíza luso-venezuelana Glória Pinho é um dos 13 candidatos às eleições primárias da oposição, previstas para 22 de outubro, que espera ser eleita a candidata da oposição que competirá contra Nicolás Maduro nas presidenciais de 2024 na Venezuela.
A minha aspiração deve-se à necessidade que senti de uma representação independente, que não esteja relacionada com os movimentos ou partidos políticos que se encarregaram de garantir a permanência do Governo desde há 25 anos”, explicou à agência Lusa.
Com mais de 30 anos de experiência profissional, 25 deles como juíza, Glória Pinho explicou que ao não se sentir representada por nenhum partido nem político venezuelano, decidiu “dar este passo, como independente, para fazer parte deste grupo de candidatos”.
“Temos uma autocracia, em que a democracia não existe, em que os poderes estão tomados pelo Governo, em que não há segurança jurídica, e todo o sistema e instituições foram politizadas, por isso é imperativo fazer uma mudança imediata para despolitizar as instituições e dar segurança jurídica”, disse, sublinhando que sem essa segurança não há garantias constitucionais e não é possível atrair o investimento estrangeiro.
Professora e produtora do programa de televisão “Palavra Final”, Glória Pinho sublinhou “é preciso despolitizar as Forças Armadas, recuperar a meritocracia para que os militares ascendam com base no mérito e não pela escolha a dedo ou em simpatias políticas”.
Os militares têm que ir para os quartéis, não têm nada a fazer do ponto de vista político. O direito de voto deve ser-lhes respeitado, mas não têm que participar politicamente, porque as Forças Armadas são para a proteção do país, dos cidadãos e não para parcialidades políticas”, frisou.
Por outro lado, explicou que na Venezuela, “as pessoas passam fome, têm problemas, não apenas com os rendimentos, mas também com os serviços básicos como a eletricidade, a água, o gás, e passam muitas dificuldades”.
Para a luso-venezuelana, “é imperativo e necessário resgatar os serviços básicos”, apontando como causa das falhas a falta de manutenção e os altos níveis de corrupção no país e afastando justificações relacionadas com as sanções internacionais.
“Eu tenho um projeto para resgatar o país, que consiste em 11 pontos que devem ser ativados de imediato, que não podem esperar 100 dias”, precisando que o primeiro e mais importante é reeducar os valores cívicos e do lar da população para ter cidadãos com verdadeira vocação para o serviço.
Também a atualização tecnológica, económica e de gestão, o resgate das escolas técnicas para que os venezuelanos aprendam a fazer tudo, desde um parafuso a um carro e não dependam de outros países para desenvolver a pátria.
Glória Pinho quer “resgatar a terra, a agropecuária” para converter a Venezuela na primeira potência agrícola latino-americana, e reativar o aparelho produtivo para oferecer salários dignos e ser competitivos.
Do seu programa faz parte reestruturar e despolitizar o poder judicial, para sanear a justiça venezuelana e substituir a Sala Constitucional do Supremo Tribunal de Justiça por um Tribunal de Proteção dos Direitos Humanos.
A Sala Constitucional converteu-se no braço executor do Governo, que quando não gosta de algo ou não lhe convém, anula os atos administrativos”, frisou.
Esta lusodescendente referiu que o país precisa de segurança para poder impulsionar o turismo, sem necessidade de depender de uma indústria petrolífera que está deteriorada, devido “a uma má gestão, porque colocam militares em funções para as quais não estão preparados”.
Por outro lado, é necessário rever as negociações da Venezuela com outros países, para verificar que são benéficas para o país.
Sobre os candidatos opositores que estão “inabilitados” (desqualificados legalmente), insiste que “devem dar um passo atrás” na sua candidatura às primárias.
Estamos a falar de desqualificações que uns dizem ser ilegais e outros inconstitucionais, mas a verdade é que estão ‘inabilitados’ (…) Se você está ‘inabilitado’ e não tem possibilidade de disputar umas presidenciais não pode enganar os cidadãos, nem continuar a alimentar falsas esperanças”, frisou.
Então, “se realmente querem [o melhor] para o país e não estão a medir egos nem maquinarias políticas devem retirar-se e dar oportunidade a quem não está ‘inabilitado”, defendeu.