Quando perdeu com o RB Salzburgo na jornada inaugural da fase de grupos da Liga dos Campeões, há duas semanas, o Benfica sabia que tinha desde logo complicado as chances de qualificação para os oitavos de final. Além disso, o Benfica sabia que tinha de vencer os dois jogos seguintes para chegar ao encontro com o Inter Milão num contexto positivo. O problema? Os dois jogos seguintes implicavam uma deslocação a Portimão e uma receção ao FC Porto na Luz.

Mas o Benfica conseguiu. Ganhou de forma clara no Algarve, abrindo o marcador ainda nos primeiros 10 minutos, e ganhou o Clássico para ultrapassar os dragões na Liga e colocar-se a um ponto da liderança do Sporting. Ou seja, os encarnados tiveram a capacidade de conquistar o tal contexto positivo na antecâmara da visita a Milão — uma visita crucial nas contas do eventual apuramento para os oitavos de final, com Roger Schmidt a assumir que um empate contra o vice-campeão europeu seria um bom resultado para uma equipa que parece estar ainda à procura de uma identidade assumida.

Ficha de jogo

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Inter Milão-Benfica, 1-0

Fase de grupos da Liga dos Campeões

Stadio Giuseppe Meazza, em Milão (Itália)

Árbitro: Danny Makkelie (Países Baixos)

Inter Milão: Yann Sommer, Bastoni, Acerbi, Pavard, Dumfries (Darmian, 73′), Barella (Davy Klaassen, 90+2′), Çalhanoğlu (Asllani, 84′), Mkhitaryan, Dimarco (Carlos Augusto, 84′), Marcus Thuram (Alexis Sánchez, 73′), Lautaro Martínez

Suplentes não utilizados: Di Gennaro, Emil Audero, De Vrij, Juan Cuadrado, Yann Aurel Bisseck, Amadou Sarr

Treinador: Simone Inzaghi

Benfica: Trubin, Alexander Bah (Tomás Araújo, 22′), Morato, Otamendi, Bernat (Jurásek, 80′), Kökçü (Chiquinho, 69′), João Neves, Di María (Arthur Cabral, 80′), Fredrik Aursnes, Rafa (Musa, 69′), David Neres

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Leo Kokubo, Gonçalo Guedes, Tengstedt, João Mário, Tiago Gouveia, Florentino

Treinador: Roger Schmidt

Golos: Marcus Thuram (62′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Lautaro Martínez (67′), a Barella (68′), a Dumfries (70′), a Asllani (90+5′)

“Na última temporada começámos melhor, ganhámos em casa e isso tornou tudo mais fácil. Agora temos uma situação em que perdemos em casa e só existem seis jogos para fazer a diferença. A situação é mais difícil, mas acho que amanhã não é decisivo. Não estamos a olhar ao resultado global, estamos focados no jogo de amanhã. Todos os jogos são decisivos na fase de grupos. Amanhã é a próxima oportunidade de trabalhar na nossa situação. É difícil, claro, e seria fantástico ganhar. Um ponto poderia ser bom. Temos de fazer um bom jogo para ter a chance de conseguir pontos aqui, é esse o nosso foco”, explicou o treinador alemão na antevisão da partida.

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Assim, e de forma algo surpreendente, Schmidt fazia várias alterações ao onze inicial habitual e mais recorrente: Bernat estreava-se pelo Benfica, na esquerda da defesa, e libertava Aursnes para o trio de apoio à referência ofensiva, num esquema que deixava Musa no banco e David Neres a manter a titularidade em simultâneo com Di María, com João Mário a ser novamente suplente. De forma natural, e porque António Silva foi expulso contra o RB Salzburgo, Morato rendia o central português ao lado de Otamendi. Do outro lado, num Inter Milão que empatou com a Real Sociedad na primeira jornada, Simone Inzaghi trocava Darmian por Pavard no trio defensivo e mantinha Lautaro e Marcus Thuram no ataque.

No Stadio Giuseppe Meazza, na repetição da eliminatória dos quartos de final da época passada em que o Inter eliminou o Benfica com uma vitória na Luz e um empate em Milão antes de chegar à final que perdeu para o Manchester City, os italianos tiveram a primeira oportunidade do jogo. Dumfries apareceu nas costas de Aursnes, depois de um grande passe de Çalhanoğlu, e cabeceou por cima da trave (11′). Os encarnados responderam num lance algo atípico em que a defesa do Inter congelou, na sequência de um lançamento de linha lateral, mas Aursnes permitiu a defesa de Yann Sommer quando rematou isolado na cara do guarda-redes suíço (13′).

Dumfries voltou a assustar Trubin pouco depois, com um remate por cima após um ressalto na área (18′), e o Benfica sofreu o primeiro contratempo do jogo ainda dentro dos 25 minutos iniciais. Alexander Bah sentou-se no chão, numa aparente recaída da lesão que já sofreu esta temporada, e acabou substituído pelo jovem Tomás Araújo, que se estreou na Liga dos Campeões. Çalhanoğlu teve um pontapé perigoso ainda antes da meia-hora, de fora de área e para Trubin encaixar (24′), e a partida entrou depois num período de menor qualidade e intensidade.

O jogo discutia-se muito na zona do meio-campo, com a posse de bola altamente dividida e poucas aproximações às balizas, e só existiam alguns lances mais disruptivos no momento em que o Inter arriscava na saída ou o Benfica falhava passes na primeira zona de construção. Aursnes destacava-se, não só pela presença ofensiva como pelo sacrifício defensivo evidente na hora de fazer as dobras de Bernat, e Morato também ia realizando uma exibição muito positiva a neutralizar Marcus Thuram.

Barella teve a última ocasião da primeira parte, com um remate de fora de área que Trubin parou com uma grande defesa (43′), e o jogo chegou mesmo ao intervalo empatado e sem qualquer golo marcado. O Benfica parecia concentrado e ligado à partida, sem oferecer muitos espaços ao Inter — mas os italianos criavam perigo sempre que Dumfries era lançado na direita, com Bernat a revelar alguma escassez de frescura física para correr atrás do neerlandês.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e não foi preciso esperar muito para perceber que o Inter Milão tinha voltado do balneário com vontade de marcar — e de marcar depressa. Os italianos impuseram uma velocidade que o jogo ainda não tinha tido, subiram as linhas e criaram três oportunidades consecutivas, com Dumfries a aparecer novamente na área a cabecear ao lado (54′) e Lautaro a acertar em cheio na trave depois de um passe de Barella (55′) e também no poste com outro pontapé (61′). De forma natural, o golo apareceu.

Numa transição ofensiva muito rápida por parte do Inter, Dumfries foi lançado em velocidade na direita e acelerou até à linha de fundo, cruzando depois atrasado para a área, onde Thuram apareceu completamente sozinho a atirar de primeira para bater Trubin (62′). Os italianos colocaram novamente a bola na baliza logo depois, através de Dimarco, mas o lance foi prontamente anulado por fora de jogo — e Roger Schmidt respondeu com uma dupla substituição, trocando os apagados Kökçü e Rafa por Chiquinho e Musa.

O Inter ainda voltou a ficar perto de aumentar a vantagem, com Lautaro a ter uma dupla oportunidade em que viu Otamendi roubar-lhe o golo na primeira tentativa e Trubin fazer uma grande defesa na sequência do lance (74′), e o jogo foi entrando numa espécie de velocidade-cruzeiro em que os italianos dominavam as ocorrências e o Benfica não tinha capacidade para chegar ao último terço adversário. Roger Schmidt ainda lançou Jurásek e Arthur Cabral, deixando clara a ideia de que Bernat não está disponível para cumprir 90 minutos, mas já nada mudou.

O Benfica perdeu com o Inter Milão em Itália e somou a segunda derrota em dois jogos na Liga dos Campeões, mantendo-se com zero pontos e no último lugar do Grupo D. Independentemente da qualidade e da intensidade dos italianos, que é notória, os encarnados não conseguiram mascarar a fadiga acumulada depois do Clássico de sexta-feira e perderam o encontro devido a uma entrada fraca e cansada na segunda parte. E Di María, que se sentou no relvado e pediu a substituição por exaustão com um único olhar, foi a cara disso mesmo.