“Vou ter que me ausentar, mas ficarei aqui muito bem representado pelo vice-presidente da Câmara”. Passavam três horas e meia da reunião descentralizada da Câmara Municipal de Lisboa (CML) desta quarta-feira quando Carlos Moedas cedeu o seu lugar a Filipe Anacoreta Correia, o seu número dois na liderança da autarquia.

Antes, como é possível ver no direto da reunião camarária transmitido no Youtube, Moedas agradeceu aos munícipes presentes no encontro descentralizado que decorria na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa e que se destinava a discutir questões relativas às freguesias de Alvalade e Marvila. “A reunião ainda vai continuar, a minha missão era ouvir todos os munícipes e presidentes da junta”, explicou momentos antes de começarem as intervenções dos vereadores da oposição. E justificou: “Tenho amanhã as cerimónias do 5 de outubro, vou ter que me ausentar”.

Ora, fonte do PCP na Câmara de Lisboa adiantou ao Observador que todos os vereadores foram convidados para as cerimónias de comemoração da Implantação da República Portuguesa nos Paços do Concelho, o que faz do argumento “absurdo”. João Ferreira, que se manteve na reunião após Moedas sair, por exemplo, estará presente.

O vereador comunista pediu a palavra de imediato, enquanto Moedas estava a sair da sala. “Peço que não fuja e que ouça o que nós temos para dizer”, apelou. “Senhor presidente, não é a primeira vez que faz isso, deixou correr três horas de reunião e decidiu fugir da reunião antes de ouvir todos os vereadores aqui sentados nesta mesa”, acusou o vereador do PCP, recordando a “legitimidade” dos vereadores que também são “membros do Executivo”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Segundo João Ferreira, não foi permitido aos vereadores da oposição usar da palavra durante mais de três horas, enquanto o presidente da autarquia estava presente, para depois o autarca se ausentar no momento em que se iam pronunciar. E acusou: “Isto é tanto mais condenável quando não só acontece hoje, mas tem acontecido de forma reiterada e sistemática“.

Uma opinião também partilhada por Inês Drummond, vereadora do PS em Lisboa, que na sua intervenção enumerou as saídas de Moedas antes de as reuniões descentralizadas terminarem nos últimos meses: em maio, nas Avenidas Novas, em julho, na Ajuda e em setembro, nos Olivais. Ou seja, segundo as contas da vereadora socialista, esta foi a quarta vez que Moedas deixou as reuniões mais cedo.

Ao Observador, a mesma fonte do PCP assegura que o comportamento do presidente da Câmara não se refere só a reuniões descentralizadas, mas também a reuniões ordinárias e reitera que a disponibilidade do presidente tem de ser a mesma dos vereadores. “A exigência que temos é a mesma que pedimos — que se permaneça na reunião até ao final”, afirma.

O Observador questionou a assessoria de Carlos Moedas na autarquia de Lisboa sobre o sucedido, mas até ao momento não obteve resposta.