A fotografia dos participantes no 3.º Fórum da Iniciativa Faixa e Rota expôs uma diminuição substantiva na representação de alto nível, face às edições anteriores, contrastando com a promoção de Pequim de uma nova ordem mundial.

Apenas 23 chefes de Estado ou de governo viajaram para Pequim. Na primeira edição, em 2017, participaram 30 líderes. Na edição de 2019, que contou com a participação de Marcelo Rebelo de Sousa, estiveram 37 líderes.

Entre os países de língua portuguesa, o primeiro-ministro de Moçambique, Adriano Maleiane, foi o único participante. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, e o presidente sérvio, Aleksandar Vucic, foram os únicos líderes europeus presentes.

A China não publicou a lista detalhada com os participantes de alto nível. Ao invés, Pequim disse repetidamente que o evento contou com “representantes de mais de 130 países e de muitas organizações internacionais”.

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No discurso de abertura no Grande Palácio do Povo, junto à Praça Tiananmen, no centro de Pequim, o líder chinês, Xi Jinping, apontou a Faixa e Rota como um novo quadro de cooperação internacional, que “transcende as diferenças entre culturas, civilizações e estágios de desenvolvimento”.

“Não entramos em confrontos ideológicos, não entramos em rivalidades geopolíticas e não fazemos política de blocos”, realçou.

Isto reflete a posição de Pequim contra a atual ordem internacional liberal, liderada pelos Estados Unidos, e o que considera a “hegemonia” Ocidental.

Xi considerou que “encarar o desenvolvimento dos outros como uma ameaça e a interdependência económica como um risco não nos vai permitir viver melhor ou desenvolvermo-nos mais rapidamente”.

As palavras do líder chinês surgem numa altura em que os países ocidentais tentam reduzir dependências económicas e comerciais face à China.

Convidado para falar logo após Xi, o Presidente russo, Vladimir Putin, elogiou o que disse serem os esforços do programa de infraestruturas para construir um “mundo e um sistema de relações internacionais mais justos e multipolares”.

A proeminência dada a Putin, que entrou ombro a ombro com Xi no Grande Palácio do Povo, contrastou com a queda na participação europeia.

Em 2017, o primeiro fórum dedicado à iniciativa contou com 10 chefes de Estado ou de governo de países europeus. Em 2019, o número de líderes europeus aumentou para onze.

Na semana passada, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, disse, em Pequim, que a confiança política mútua entre a União Europeia UE e a China foi “minada” pela posição de Pequim sobre a guerra na Ucrânia.

“Precisamos que a China convença os europeus de que não está aliada à Rússia nesta guerra”, observou.

A China afirmou ser neutra no conflito, mas mantém uma relação “sem limites” com a Rússia e recusou-se a criticar a invasão da Ucrânia. Pequim acusou o Ocidente de provocar o conflito e “alimentar as chamas” ao fornecer à Ucrânia armas defensivas.

Também não se verificou um aumento acentuado da participação dos países em desenvolvimento.

Entre os líderes da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), uma região chave para a iniciativa, apenas cinco participaram – Camboja, Indonésia, Laos, Tailândia e Vietname -, face a sete, em 2017, e nove, em 2019.

Cinco líderes africanos viajaram para Pequim, o mesmo número de 2019.

Designado por Xi Jinping como o “projeto do século”, em 2013, a Iniciativa Faixa e Rota foi inicialmente apresentada no Cazaquistão como um novo corredor económico para a Eurásia, inspirado na antiga Rota da Seda.

O projeto tornou-se, entretanto, no principal programa da política externa de Xi Jinping. Na última década, mais de 150 países em todo o mundo aderiram à Faixa e Rota.