O Benfica sequestrou o brilhantismo numa sala da qual perdeu as chaves. Na receção ao Casa Pia, a missão era encontrar forma de voltar a convencer o Estádio da Luz de que os encarnados ainda eram capazes de fazer aquilo que mostraram quando Roger Schmidt chegou a Portugal. Até o alemão, que chegou a parecer incontestável no universo encarnado, já é questionado. “Não, acho que não”, disse o técnico quando lhe perguntaram se considerava ter o lugar em risco.

Contra a Real Sociedad, para a Liga dos Campeões, a meio da semana, o Benfica deixou uma imagem de redenção que caiu mal. “No campeonato merecemos todas as vitórias, mesmo não estando na melhor forma. Mas claro que não podemos estar felizes com o que estamos a fazer na Liga dos Campeões”, disse o técnico alemão do Benfica antes da receção ao Casa Pia. “A nossa ambição é jogar futebol ao mais alto nível e ganhar jogos. É o que os adeptos esperam da equipa e o apoio tem sido sempre fantástico. Mas se os adeptos não estão satisfeitos, claro que o podem mostrar. Nós também não estamos felizes, estamos desiludidos pela forma como jogámos”.

Apesar de ter fechado a primeira volta da fase de grupos da Liga dos Campeões sem golos marcados e sem pontos, o Benfica, ao nível das competições nacionais, leva oito vitórias consecutivas e entrava para a nona jornada do campeonato a um ponto do líder Sporting. Assim, em caso de vitória perante o Casa Pia, as águias podiam subir à condição ao primeiro lugar do campeonato.

Filipe Martins, treinador do Casa Pia, apesar de ciente das dificuldades do jogo, demonstrava ter uma receita para conseguir chegar à vitória. “Temos de ser muito competentes e esperar o Benfica no máximo. Só assim podemos almejar trazer pontos do Estádio da Luz. Isso faz-se com organização, qualidade e ser muito próximos da perfeição. Não devemos ter muitas oportunidades de golo, mas é muito importante sermos eficazes. Defensivamente, transmitir o que tem sido a nossa organização e retardar ao máximo o golo do Benfica, porque aí poderá haver alguma inquietação dos sócios do Benfica. Para que esse estado de espírito se venha a sentir, temos de estar focados nos nossos comportamentos”.

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O onze inicial escalado por Roger Schmidt trouxe algumas novidades, mas o foco estava em quem ficou no banco. Di María, que não jogava desde a visita o Inter para a Liga dos Campeões, regressou às opções. No onze inicial, Aursnes jogou como lateral direito e Bernat desempenhou a mesma função à esquerda. Arthur Cabral repetiu a titularidade na frente de ataque. No meio-campo, o treinador alemão optou por colocar Florentino ao lado de João Neves.

O início de jogo não foi brilhante. O Benfica ia tendo mais bola, mas não criava perigo. Sobretudo pela esquerda, o Casa Pia conseguiu ter espaço para chegar ao ataque, ora por Yuki Soma, ora por Felippe Cardoso. Assim, foram os homens de Filipe Martins a terem à disposição a primeira oportunidade do encontro. Leonardo Lelo cabeceou ligeiramente por cima. Arthur Cabral respondeu com igual perigo. O avançado brasileiro atirou para defesa de Ricardo Batista.

Ficha de Jogo

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Benfica-Casa Pia, 1-1

9.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Cláudio Pereira (AF Aveiro)

Benfica: Trubin, Aursnes, António Silva, Otamendi, Bernat (Jurásek, 64′), Florentino, João Neves, Neres (Di María, 64′), Rafa, João Mário e Arthur Cabral (Tengstedt, 74′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Morato, Gonçalo Guedes, Chiquinho, Tomás Araújo e Tiago Gouveia

Treinador: Roger Schmidt

Casa Pia: Ricardo Batista, Fernando, João Nunes, Zolotic, Larrazabal (Geraldes, 87′), Pablo Roberto (Samuel Justo, 87′), Neto (Beni, 72′), Lelo, Soma, Felippe (Tiago Dias, 83′) e Jajá (Clayton, 83′)

Suplentes não utilizados: Lucas Paes, Tchamba, Telasco e Serobyan

Treinador: Filipe Martins

Golos: João Mário (44′) e Larrazabal (82′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Larrazabal (41′), Pablo Roberto (72′) e Florentino (73′)

Notava-se alguma impaciência no Estádio da Luz. Os assobios a cada decisão do árbitro faziam-se sentir com vigor. O Casa Pia estava a reagir bem à perda da bola, o que não deixava os encarnados terem posses de bola assim tão controladas, pois o portador estava sempre condicionado. Se inicialmente os assobios na Luz eram para as decisões dos árbitros, posteriormente, a contestação foi mesmo para os jogadores, em especial para Arthur Cabral. Os gansos pareciam predispostos a aguentar o ritmo que a primeira parte estava a levar. Acontece que os jogadores do Benfica levaram a peito o assobios dos próprios adeptos. Isso notou-se na celebração de peito erguido para a bancada que João Mário (44′), mesmo em cima do intervalo, realizou quando fez o golo.

Filipe Martins tinha motivos para estar satisfeito com a exibição da equipa casapiana, só que os jogadores vacilaram no aspeto que o treinador mais tinha referido, ou seja, a eficácia. Florentino não teve um regresso à titularidade feliz e derrubou Jajá dentro da grande área. O árbitro, Cláudio Pereira, assinalou penálti a favor do Casa Pia. Felippe Cardoso assumiu a responsabilidade, mas Trubin, tal como tinha acontecido em Portimão, defendeu.

O Benfica melhorou na segunda parte e, por se sentir bafejado pela sorte após se ter salvado do empate, o ânimo era diferente. António Silva foi apanhado fora de jogo, caso contrário, o cabeceamento que colocou dentro da baliza de Ricardo Batista, teria valido o segundo golo. Di María voltou à competição ao render Neres e mostrou que está aí para as curvas, tal o arco que deu à bola, forçando o guarda-redes do Casa Pia a defender.

Roger Schmidt continuou a mexer na equipa. Arthur Cabral saiu e, quando se encaminhava para a linha lateral, foi assobiado de novo pela Luz. Entrou para o ataque Tengstedt. A equipa do Benfica leu as mudanças do treinador como um sinal de que o trabalho estava feito e o Casa Pia, ainda com pilhas, voltou à carga. Beni fez uma grande abertura para Larrazabal (82′) que esperava o passe na direita. O lateral espanhol fez um remate fraco, mas traiçoeiro. A bola passou entre as pernas de Trubin que foi do céu ao inferno.

A reação do Benfica foi fraca. Quase de forma fortuita, Florentino acertou na barra e, já em desespero, António Silva levou a bola ao poste. O Benfica não conseguiu ir além do empate (1-1) e perdeu os primeiros pontos em casa esta temporada. No final, a equipa encarnada não se livrou de mais assobios e de lenços brancos, mesmo que, à condição, até tenha conseguido subir ao primeiro lugar do campeonato.