O livro de poemas inéditos do pintor Júlio Pomar (1926—2018), “Prima Contradição”, é publicado na próxima quinta-feira, com um preâmbulo do seu amigo, o escritor António Lobo Antunes, anunciou a editora.

As liberdades poéticas do pintor eram já conhecidas, uma vez que tinha, anteriormente, publicado dois livros de poemas, alguns dos quais ofereceu a amigos como Carlos do Carmo (1939—2021), para cantá-los.

Recentemente, o Museu do Fado editou um CD com dez fados, cujos poemas são de autoria do pintor modernista, antifascista que foi militante do Movimento de Unidade Democrática (MUD).

O CD abre com “Fado do 112”, gravado por Carlos do Carmo no Fado Manganito, de Armando Freire, e inclui outros intérpretes, nomeadamente, Camané, Carminho, Ricardo Ribeiro, Cristina Branco, Aldina Duarte e Ana Sofia Varela.

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O livro que é dado à estampa em novembro era “um projeto nunca concluído que era alimentado pelo muito amigo António Lobo Antunes”, afirma em comunicado a editora Assírio e Alvim.

O livro foi organizado por José Alberto Oliveira e José António Oliveira que, num “apontamento sobre a edição”, afirmam ter o pintor deixado “milhares de poemas” e que nos últimos anos de vida Pomar se dedicava à realização do terceiro livro de poesia.

Os anteriores livros de poemas de Júlio Pomar foram “Alguns Eventos” (1992) e “Tratado do Dito e Feito” (2003), este incluía o texto “Aponte com o Dedo o Centro da Terra”, de António Lobo Antunes.

José Alberto Oliveira e José António Oliveira referem que o espólio deixado por Pomar inclui poemas concebidos como letras de fados, “vários já musicados“.

O nosso trabalho foi, em primeiro lugar, tentar encontrar um texto tão escorreito quanto possível; em segundo lugar selecionar os poemas que nos parecessem mais conseguidos; em terceiro lugar, tentar acomodá-los no esquema de treze partes (a que Júlio Pomar chamou Cantos) cada um com treze poemas, que era o seu desígnio, conforme transmitido por Teresa Marcha que se empenhou em tornar possível este projeto”, afirmam os organizadores da obra fazendo votos para que tenham “conseguido ser fiéis ao que Júlio Pomar pretendia”. “Encontramos aqui um livro assumidamente descomprometido, mostrando que a poesia pode brincar com a forma sem abdicar da musicalidade e do rigor do verso: um complexo mosaico que glosa temas reconhecíveis da nossa cultura — do fado ao passado histórico, ou ironizando os bons costumes e velhos hábitos portugueses”, afirma a editora.

Pintor e escultor, Júlio Pomar é considerado um dos criadores de referência da arte moderna e contemporânea portuguesa.

O artista é autor de uma obra multifacetada que percorre mais de sete décadas, influenciada pela literatura, a resistência política, o erotismo e algumas viagens, como a Amazónia, no Brasil.

Júlio Pomar estudou na escola de artes decorativas António Arroio e nas escolas de Belas Artes de Lisboa e Porto, tendo-se mudado para Paris em 1963. Vinte anos depois regressou a Lisboa, e passou a dividir a vida e o trabalho artístico entre as duas cidades.

Tornou-se um dos artistas mais conceituados do século XX português, com uma obra marcada por várias estéticas, do neorrealismo ao expressionismo e abstracionismo, e uma profusão de temáticas abordadas e de suportes artísticos experimentados.

A obra foi dedicada sobretudo à pintura e ao desenho, mas realizou igualmente trabalhos de gravura, escultura e assemblage, ilustração, cerâmica e vidro, tapeçaria, cenografia para teatro e decoração mural em azulejo.

Em 2004, foi condecorado pelo então Presidente da República Jorge Sampaio com a Ordem da Liberdade.

Em 2013, abriu o Atelier-Museu Júlio Pomar, instalado num edifício em Lisboa, perto da residência do artista, com um acervo de cerca de 400 obras, da pintura à escultura, passando pelo desenho, gravura, cerâmica, colagens e assemblage.