O futebol é aquele desporto cego, surdo e pouco mudo em relação ao conceito de justiça num resultado final. Porque o jogo pode ter sua história, pode ter as suas oportunidades, pode ter um contexto que mude do nada uma realidade aparente mas no final o que fica é sempre o número de golos marcados e sofridos. Aí, Portugal perdeu na passada sexta-feira na Áustria. No entanto, sobretudo quem tivesse visto uma primeira parte onde Patrícia Morais pouco foi mais do que uma espectadora a assistir ao domínio total da Seleção, dificilmente poderia adivinhar um desfecho que começou a ser escrito numa infelicidade oferecida pela defesa nacional que começou num corte mal calculado de Ana Seiça e terminou num autogolo de Catarina Amado. O que ficou de positivo? O período antes do 0-1 e a reação ao 0-2. E era a isso que o conjunto de Francisco Neto tentava agarrar-se na receção às austríacas, que podia valer nova subida na classificação do grupo.

Pé que ficou torto no aquecimento estragou exibição de mão cheia: Portugal perde com a Áustria na Liga das Nações

“Independentemente do resultado, foi claro que aquilo que fizemos na primeira parte foi bem feito. Sem dúvida que um dos aspetos que temos a melhorar é a finalização mas também é verdade que criámos muitas oportunidades na primeira parte e que, se mantivermos esse volume ofensivo, os golos vão surgir de forma natural. Cada jogo tem a sua história e acredito que o desfecho será agora diferente do que foi na sexta-feira, sendo que precisamos ser consistentes durante os 90 minutos. O público também será essencial. Esta é uma equipa que gosta dos bons ambientes e que se sente muito acarinhada. Esperamos, por isso, um público do nosso lado, a desfrutar connosco e a festejar connosco no final”, comentara o selecionador.

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“A manutenção na Divisão A da Liga das Nações foi o primeiro objetivo traçado. E, neste momento, só depende de nós. O segundo objetivo, que era chegar a dezembro a poder sonhar com a fase final, já depende de uma conjugação de fatores. Independentemente disso, temos que fazer o nosso trabalho, que é continuar a pontuar e conquistar os três pontos amanhã [terça-feira]. Depois, é preparar mais uma dupla jornada de alta exigência. Sabiamos que a competição era curta e a margem de erro diminuta. Somos uma equipa do pote 4, frente a adversários melhor colocados, houve momentos em que fomos superiores e outros em que não. O nosso desejo é sermos superiores durante mais tempo e sermos mais consistentes”, frisara.

Era neste contexto que Portugal entrava, foi num contexto totalmente diferente que se realizou esta partida na Póvoa de Varzim que teve como único ponto comum o resultado de novo por muita culpa própria à mistura. Porque depois da boa entrada da Áustria, Portugal não conseguiu aproveitar as oportunidades que teve. Porque quando estava a controlar por completo o jogo, consentiu o primeiro golo das visitantes. Porque quando conseguiu empatar pouco depois, sofreu logo de seguida o 2-1. Desta forma, todas as contas ficam hipotecadas em relação à Final Four e até a permanência direta no principal escalão da Liga das Nações se torna um objetivo complicado apesar de faltarem ainda duas partidas para o final do grupo.

Com três alterações na equipa inicial entre a surpresa do recuo de Fátima Pinto para o eixo recuado ao lado de Diana Gomes (Ana Seiça deixou a convocatória por lesão), a troca na lateral esquerda de Catarina Amado por Joana Marchão e a aposta em Andreia Norton no meio-campo em vez de Andreia Jacinto, Portugal não conseguiu repetir a entrada que teve na Áustria e, apesar de um remate de Kika Nazareth para defesa fácil de Manuela Zinsberger num lance que poderia conhecer outro desfecho (8′), foram as visitantes que surgiram mais ameaçadoras e com maior capacidade de dar verticalidade ao jogo ofensivo para chegar rápido e com várias unidades ao último terço. Foi assim que, após uma segunda bola à entrada da área, Zadrazil acertou na trave (13′). Foi assim que, em mais uma boa situação, Dunst atirou para defesa de Patrícia Morais (16′). A chuva não parava, o vento não facilitava e a Seleção procurava o melhor clima para assentar o seu jogo.

Aos poucos, Portugal foi finalmente conseguindo colocar a partida mais de feição ao que queria: bola no chão com muita circulação, saídas rápidas, variação de corredores, controlo das transições. Jéssica Silva, depois de um cruzamento da direita, conseguiu encontrar espaço na área para rematar mas a tentativa saiu ao lado (34′). A fechar o primeiro tempo, de novo com mais uma jogada “inventada” pela avançada do Benfica, foi Dolores Silva que surgiu para o remate de meia distância que ainda bateu na trave (45′). Sempre que a Áustria passava a barreira de pressão e chegar ao último terço havia a sensação de perigo mas a Seleção já estava melhor do que na entrada, quase que subindo consoante o tempo melhorava na Póvoa de Varzim.

A segunda parte trouxe uma realidade diferente, com a Áustria a ter poucas chegadas até ao último terço e Portugal a ter capacidade de criar mais oportunidades para marcar. Depois, faltava a finalização. Como por exemplo aconteceu com Jéssica Silva, a atirar para defesa de Zinsberger em boa posição na área (51′). Como voltou a acontecer com Diana Silva, desta vez com assistência de Kika Nazareth para um remate desviado para canto (54′). Como aconteceu mais uma vez com a recém entrada Ana Capeta, a tentar surpreender na primeira vez que tocou na bola (71′). No entanto, acabariam por ser as visitantes a chegar ao golo, com Viktoria Pinther a receber entre as centrais, a ficar isolada e a não falhar frente a Patrícia Morais (72′).

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Contra a corrente do jogo, Portugal ficava em inferioridade mas reagiu da melhor forma, com Kika a lançar Ana Capeta num passe em profundidade que permitiu que a avançada do Sporting se isolasse, passasse por Zinsberger e empurrasse para a baliza (75′). A Seleção mostrava um enorme coração para conseguir quase de imediato empatar o encontro, da mesma forma que não relevou depois a frieza de cabeça para perceber o contexto que o encontro tinha atingido, voltando a permitir que a Áustria ganhasse vantagem no jogo pelas laterais para Eileen Campbell fazer a diagonal da esquerda para o meio até fazer o 2-1 na área (77′). Desta vez, apesar da insistência, já não houve espaço para nova igualdade e repetiram-se os números da derrota.

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