Segundo o presidente do Conselho de Fundadores da Casa da Música, “o relatório foi apresentado e vai haver uma reunião em janeiro para as pessoas terem tempo para refletir sobre as propostas relativamente à missão, organização e às finanças”.

O grupo de reflexão que elaborou o relatório a que a Lusa teve acesso defende que a Casa da Música deverá angariar mais mecenas e estabelecer parcerias com mais municípios para assegurar o serviço prestado.

Questionado se o programa para 2024 está comprometido devido às necessidades identificadas de dinheiro, Valente de Oliveira assegurou que “nada está comprometido”.

“O Conselho de Administração (CA) da Casa da Música fez um trabalho excelente de prospetiva financeira, suficientemente a tempo de garantir que se tomam as medidas adequadas sem haver acidente. Nada vai comprometer o programa para 2024”, frisou o presidente do Conselho de Fundadores.

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Do mesmo modo, assegurou “não estar em causa a orquestra sinfónica”.

“É uma peça cara, mas é uma peça importante. Ter uma cidade com uma orquestra sinfónica é uma cidade diferente (…) e a nossa, ainda por cima, é boa”, sublinhou Valente de Oliveira.

O presidente do CA, Rui Amorim de Sousa, interveio na conversa para revelar que em breve será anunciada a programação para 2024 em que será percetível a “diversidade musical e a quantidade que o programa de atividades tem e que é muito ambicioso, muito rico e muito suportado nos quatro agrupamentos residentes na Casa da Música”.

A direção artística de António Jorge Pacheco acaba em dezembro de 2024 e Rui Amorim de Sousa apressou-se a lembrar que “é um cargo de comissão de serviços e que tem sido renovado com o António Jorge por decisões do CA. Não é um lugar perene. Ele acaba o mandato e vai ser naturalmente reavaliado e será aberto um concurso”.

“As instituições ligadas às artes, sejam plásticas ou auditivas, lucram em ter, de vez em quando, uma perspetiva diferente na sua direção artística”, acrescentou Valente de Oliveira.

Sobre o futuro, Valente de Oliveira explicou que a administração “fez um trabalho prospetivo a vários anos”, deu disso conta ao Conselho de Fundadores indicando que “se não for atalhado há de haver um momento no futuro em que pode implicar escolhas radicais”.

“Estamos a trabalhar bem mais do que a um ou dois anos de distância”, revelou, completando Rui Amorim de Sousa que “depois de um passado ganhador, há que olhar para a frente, conhecendo as restrições no futuro e tentar que sejam antecipadas, pois nada pode ser gerido de forma constante, gerando um programa de dinamização e não de encolhimento”.

A Casa da Música foi inaugurada em 2005. Quando da constituição da Fundação da Casa da Música e respetiva construção do edifício, junto à Avenida da Boavista, no Porto, o Estado fixou uma subvenção de 10 milhões de euros, por ano, que inicialmente esperava vir a reduzir com o envolvimento dos privados.

Em 2012, devido à ‘troika’, os 10 milhões de euros foram reduzidos a três milhões de euros anuais, que só foram totalmente repostos em 2021.

O músico portuense Mário Barreiros foi escolhido pelo ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, para representar o Ministério da Cultura no grupo de reflexão sobre a Casa da Música, adiantou, em novembro de 2022, o jornal Público.

O novo modelo de instituição para a Casa da Música deverá ser aplicado pelo próximo conselho de administração, em 2024.

Nos órgãos sociais, a Fundação Casa da Música integra um conselho de fundadores, que inclui representantes do Estado e de privados.

Mais de 3,5 milhões de pessoas assistiram a concertos na Casa da Música

O número corresponde à assistência dos últimos 18 anos, em concertos na Casa da Música, que, até 2024, pretende reforçar o projeto artístico e melhorar a organização, revela também o relatório do grupo de reflexão.

Desde 2005, mais de 3,5 milhões de pessoas assistiram a concertos na Casa da Música, cujo projeto artístico conta com a Orquestra Sinfónica, Remix Ensemble, Orquestra Barroca, coro, coro infantil e um serviço educativo.

Ao longo dos últimos 18 anos, o serviço educativo (oficinas, espetáculos, formação e atividades com comunidades) contou com mais de 300 mil espectadores, mais de 200 mil participantes, mais de mil grupos comunitários e, anualmente, com mais de 150 escolas.

O grupo de reflexão, criado em 2022 para repensar a missão e estrutura da Casa da Música, indica também que foram encomendadas 260 novas obras musicais, 146 das quais de compositores portugueses, que 32 artistas e compositores estiveram em residência ou associação, 16 dos quais portugueses e que, pelos palcos da instituição passaram “alguns dos compositores mais relevantes da cena internacional”.

No circuito internacional, a Casa da Música acolheu mais de 4.500 músicos, 1.800 maestros e solistas e mais de 300 jornalistas.

Anualmente, mais de 30 obras internacionais são estreadas neste equipamento cultural, sendo “metade estreias mundiais”.

Em termos de digressões internacionais do agrupamento de residentes e serviço educativo foram realizados 164 concertos e 46 atividades em 17 países (Brasil, Espanha, França, Alemanha, Países Baixos, China, Japão, Itália, Bélgica, Reino Unido, Áustria, Luxemburgo, Andorra, Suécia, Hungria, Suíça e Moçambique), já quanto a digressões nacionais foram realizados 182 concertos e 118 atividades em 37 cidades.

O relatório indica também que, no ano passado, foram realizados 254 concertos na Casa da Música (112 de música erudita e 142 de música não erudita) que contaram com 129.691 espectadores.

Já fora da instituição, foram promovidos oito concertos e 251 eventos holograma (concertos e atividades educativas).

Em 2022, a Casa da Música promoveu ainda cinco concertos solidários que contaram com 7.392 espetadores.

No âmbito do serviço educativo, foram realizados 848 eventos, que incluíram 13.632 espectadores e 10.807 visitantes.

No último ano foram também realizadas mais de 26 mil visitas guiadas ao edifício localizado junto à Rotunda da Boavista.

O reforço do projeto artístico, o aumento da relevância nacional e internacional, a melhoria da organização e a garantia da sustentabilidade são as principais linhas estratégicas da Casa da Música para o triénio 2022-2024, indica o relatório, que hoje está a ser analisado pelo Conselho de Fundadores.

O documento assinala ainda que, no próximo ano, se prevê que a programação artística da Casa da Música corresponda a 277 concertos, mais de metade de música não erudita e 42% de música erudita.