Em desvantagem no marcador mas em superioridade numérica, Roger Schmidt ainda demorou quase 15 minutos para mexer na equipa no segundo tempo mas quando o fez arriscou logo duas alterações, lançando na partida Arthur Cabral e Tengstedt para os lugares de Musa e Florentino Luís. De forma natural, e num plano meramente teórico, o Benfica ganharia tração à frente na equipa. No entanto, e de uma maneira quase instintiva, ouviram-se assobios na Luz. Muitos assobios. E esses mesmos assobios fariam todo o sentido até ao quarto minuto de descontos, altura em que os encarnados continuavam a perder por 1-0 e tinha feito só um remate com perigo desde a expulsão de Gonçalo Inácio. Foi aí que apareceu um herói improvável.

João Neves, um gigante dois em um que vê soluções e esconde problemas (a crónica do Benfica-Sporting)

Até ao dérbi, o primeiro na carreira desde que chegou em janeiro ao Benfica, Casper Tengstedt tinha apenas 11 encontros na presente temporada com um total de 236 minutos. Houve uma exceção na segunda jornada com o Estrela da Amadora, quando o dinamarquês de 23 anos que jogava no Rosenborg entrou para marcar já no último quarto de hora o primeiro golo do triunfo por 2-0, mas as entradas do avançado pouco ou nada tinham acrescentado em termos práticos e de qualidade à equipa. Ainda assim, existem momentos que são quase destinados para deixar a capa do anonimato e cair nas graças dos adeptos (aqueles que menos de meia hora antes assobiavam, alguns até saindo mais cedo do estádio). Tengstedt teve o seu momento.

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Após o empate de João Neves aos 90+4′, o dinamarquês surgiu de forma oportuna na zona entre defesa e guarda-redes depois de um cruzamento de Aursnes da direita para desviar de primeira e fazer o 2-1 aos 90+7′ festejado em dose dupla pela necessidade de validação do lance no VAR na sequência da anulação numa primeira instância pelo árbitro assistente. Com isso, o avançado fez história a vários níveis, logo à cabeça por ter decidido a primeira vitória num dérbi frente ao Sporting com uma reviravolta nos descontos.

Para quem acredita mesmo no destino, houve um pormenor que fazia “adivinhar” um cenário destes. Antes do início da partida, Isaías foi um dos convidados especiais que passou pela BTV e falou não só da carreira no Benfica mas também dos dérbis que foi fazendo na Luz, descrevendo-se como alguém que “quando chegava aos jogos com o rival, aparecia”. Há 30 anos que os encarnados não conseguiam ganhar ao Sporting com uma reviravolta, numa partida marcada de forma emotiva pela dedicatória em lágrimas de Luís Figo a Cherbakov (que tivera uns dias antes um acidente de viação que lhe retirou a carreira e deixou numa cadeira de rodas) e que foi decidida pelo brasileiro. Agora, o cenário voltou a repetir-se na nova Luz.

Em termos históricos, esta foi também a terceira vez que o Benfica teve um dinamarquês a marcar aos leões, depois do gigante Manniche ter feito golos por duas vezes no ano de 1986. Já em relação a Tengstedt, fez apenas o segundo golo em 16 encontros pelos encarnados, carimbando aquela que foi também a primeira reviravolta da temporada para o conjunto da Luz num lance validado por… quatro centímetros.