Dezenas de pessoas foram esta terça-feira detidas numa megaoperação de combate ao tráfico de seres humanos levada a cabo pela Unidade Nacional de Contraterrorismo da Polícia Judiciária na zona de Évora — concretamente nos concelhos de Cuba e Ferreira do Alentejo. A informação foi inicialmente avançada pela CNN Portugal e pelo Jornal de Notícias, tendo entretanto sido confirmada pela própria PJ em comunicado.
Nessa nota, a PJ confirmou que desmantelou uma estrutura criminosa organizada que se dedicava à exploração de trabalhadores imigrantes no Baixo Alentejo, numa operação em que foram detidas 28 pessoas. Numa conferência de imprensa mais tarde, a PJ revelou que em causa estava pelo menos uma centena de imigrantes vítimas de exploração em propriedades agrícolas do Baixo Alentejo. “Voltámos a detetar problemas de sobrelotação. Pessoas a viver em condições com muita falta de higiene. Uma casa de banho para 20 pessoas. Portanto, começámos a perceber bem como é que as pessoas conseguem viver nestas condições”, descreveu inspetora Manuela Santos, da Unidade Nacional de Contra Terrorismo, revelando que os crimes ocorriam em especial nas localidades de Cuba e Ferreira do Alentejo, no distrito de Beja.
A responsável indicou que a denúncia destes crimes de exploração partiu de pessoas que viviam perto daquelas propriedades e não das próprias vítimas, “uma vez que se encontram numa situação de grande fragilidade”. As pessoas eram aliciadas por anúncios. Estamos a falar de uma zona [Alentejo] envelhecida e carenciada de recursos humanos”, justificou.
A inspetora disse ainda que os trabalhadores ganhavam entre 100 e 250 euros por mês, quando lhes prometiam “800, 900, mil ou mais”. Segundo a responsável, o que lhes explicavam é que a diferença “ficava retida” para pagamento do alojamento, alimentação e transporte.
Questionada sobre a forma de erradicar estes fenómenos criminais, Manuela Santos admitiu que tal “será muito difícil nos próximos anos, uma vez que é uma atividade que gera muitos lucros”. “Estas operações são uma pedrada no charco, mas não temos a pretensão de acabar com este fenómeno. Este fenómeno dificilmente será erradicado, principalmente nos próximos anos”, ressalvou.
Os cidadãos imigrantes, na sua maioria, eram “aliciados nos seus países de origem, como Roménia, Moldávia, Ucrânia, Índia, Senegal, Paquistão, entre outros, para virem trabalhar em explorações agrícolas naquela região do nosso país”, assinalou. De acordo com a PJ, os suspeitos, de nacionalidade portuguesa e estrangeira, estão indiciados pela prática de crimes de associação criminosa, tráfico de pessoas, auxílio à imigração ilegal, angariação de mão-de-obra ilegal, extorsão, branqueamento de capitais, fraude fiscal, ofensas à integridade física, posse de arma de fogo e falsificação de documentos.
A Polícia Judiciária realçou que, durante a denominada “Operação Espelho”, foram apreendidos vários elementos probatórios. Esta operação contou com a colaboração da Segurança Social no encaminhamento das vítimas com necessidades de apoio social imediato e o apoio logístico da Força Aérea Portuguesa.
Os detidos vão ser presentes a primeiro interrogatório judicial, na quarta-feira, para aplicação de eventuais medidas de coação. Segundo perspetivou Manuela Santos, os suspeitos deverão ficar sujeitos à medida de coação de prisão preventiva, a mais gravosa, à semelhança daquilo que aconteceu numa operação semelhante ocorrida no ano passado.
Justamente há um ano, a PJ tinha levado a cabo uma outra operação semelhante, também no Alentejo, visando redes de tráfico humano para o trabalho agrícola.
*Notícia atualizada às 19h30 com a conferência de imprensa da PJ