Dizer que tinha todas as condições para ser um encontro ao nível das melhores ligas europeias ainda pode ter o seu quê de exagero mas também não andará assim tão longe. De um lado estavam Koulibaly, Milinkovic-Savic, Mitrovic, Rúben Neves, Bono, Malcolm ou Michael (sendo que a grande figura, Neymar, recupera de uma lesão grave no joelho). Do outro encontravam-se Ronaldo, Otávio, Brozovic, Laporte, Sadio Mané, Alex Telles ou Fofana. É certo que ter a possibilidade de gastar mais de 500 milhões em contratações só por duas equipas ajuda, com 351,1 milhões para o Al Hilal e mais 165,1 milhões pelo Al Nassr, mas as duas melhores equipas da Arábia Saudita chegaram a um nível que lhes permite agora partir como favoritas à conquista da Liga dos Campeões Asiática e proporcionar bons jogos de futebol. Este foi “apenas” mais um.

Ambas as equipas chegavam ao dérbi de Riade com uma série de 11 vitórias e um empate nos últimos 12 jogos na Liga mas com uma nuance que fazia toda a diferença neste momento: enquanto o Al Hilal de Jorge Jesus teve apenas um deslize caseiro com o Al-Fayha, o Al Nassr de Luís Castro iniciou a prova com dois desaires consecutivos diante do Al-Ettifaq e do Al Taawon. Eram esses quatro pontos que faziam toda a diferença na liderança, sendo que uma vitória do Al Hilal em casa deixaria tudo com uma distância já “confortável”.

A par disso, havia também uma “vingança” em causa. Antes do arranque do Campeonato, os dois conjuntos estiveram na final da Taça dos Campeões Árabes onde o Al Nassr, mesmo reduzido a dez, ganhou no prolongamento com um bis de Cristiano Ronaldo. Após a lesão sofrida na última partida da Champions diante do Persepolis, o português ainda esteve em dúvida por um traumatismo no ombro e no pescoço mas foi mesmo opção inicial de Luís Castro, não conseguindo impedir a terceira derrota na Liga (primeira desde agosto) e fazendo por duas vezes uma atitude que poderá trazer problemas no futuro, com o gesto de alguém que paga dinheiro por algo na sequência de um golo anulado e de um penálti não assinalado.

Num ambiente verdadeiramente frenético e com muitos potes de fumo abertos antes do início do encontro que condicionaram a visão nos minutos iniciais, o Al Hilal de Jorge Jesus não demorou a criar oportunidades soberanas para se adiantar no marcador com um tiro que saiu pouco ao lado de Mitrovic (2′) e um remate de Salem Al-Dawsari sozinho na área em posição central que saiu por cima da baliza de Nawaf Alaqidi (4′), um constante pesadelo para a própria defesa do Al Nassr pela forma como era capaz de fazer o melhor e o pior na mesma jogada. Talisca, num grande trabalho individual que terminou com um chapéu a Bono por cima (11′), ainda deu um primeiro aviso para os visitantes mas era o líder do Campeonato que estava por cima.

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Aos poucos, a formação de Luís Castro foi reagindo. Entre despiques diretos que provocaram momentos de maior tensão no relvado com Otávio ao barulho, o Al Nassr teve mais bola, assumiu outra postura em campo e conseguiu ainda meter duas transições que mereciam outra conclusão, com Sadio Mané a rematar ao lado na mais perigosa após uma assistência que ficou um pouco mais curta do que o desejável por Ronaldo (25′). No entanto, e a nível de golos, nada. E esse cenário pior ficou no reatamento, com as equipas a entrarem mais ao jeito dos seus treinadores sem deixarem que o jogo partisse e a ter outra certeza em posse mesmo sem ter tantos riscos. Faltava algo para mexer com o desenrolar da partida. Algo que chegou pelo Al Hilal.

Na primeira oportunidade do segundo tempo, Milinkovic-Savic foi à área contrária, saltou mais alto do que Sultan Al-Ghannam após cruzamento da direita e marcou de cabeça o 1-0, provocando o delírio num estádio a abarrotar para mais um dérbi de Riade (64′). Pouco depois, na sequência de um grande passe de rutura de Otávio, Ronaldo acertou nas malhas laterais (67′) mas o Al Hilal ia conseguindo segurar a vantagem entre um golo anulado ao avançado português que motivou muitas críticas por parte do Al Nassr (74′). Ainda houve um lance de penálti não assinalado que deixou Ronaldo à beira de um ataque de nervos mas a história do jogo não ficaria por aí, com Mitrovic a fazer o 2-0 de cabeça após canto com o português a dizer que foi empurrado pelo sérvio (89′) e a marcar pouco depois o 3-0 numa transição rápida (90+2′). Ghareeb ainda viu outro golo anulado por fora de jogo de Ronaldo mas o Al Hilal tinha há muito a vitória no bolso.