“Esta é a última marcha do ano e, em 2024, vamos voltar e teremos surpresas inimagináveis”, disse à Lusa Venâncio Mondlane, candidato da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), durante a marcha que juntou centenas de simpatizantes do partido na capital moçambicana.
Desde o anúncio de resultados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), Venâncio Mondlane conduziu cerca de 50 marchas contestando os resultados eleitorais, com registo de pelo menos dois episódios que culminaram com escaramuças entre os simpatizantes do partido e as forças policiais, tendo algumas pessoas chegado a ser detidas.
“Não vamos desistir. Se isto for verdadeiramente uma república, ninguém vai tomar posse [em janeiro] sem que respondam ao recurso extraordinário que o partido submeteu”, disse Venâncio Mondlane.
Empunhando dísticos com mensagens de repúdio ao que alegam ser uma “megafraude” e ao som de “mas quem ganhou?”, música da Renamo que se tornou viral nestas eleições, hoje, os simpatizantes do maior partido de oposição em Moçambique percorreram as avenidas Guerra Popular, Eduardo Mondlane e de Angola, nesta última passando pela sede da cidade do partido Frelimo, no poder, onde, em coro, gritaram “ladrões […] não vão governar”.
“Esta é uma marcha também de celebração porque, apesar de tudo, tivemos bons resultados, […] tivemos uma mobilização popular inacreditável. A cidade de Maputo era conhecida como uma cidade de pessoas imobilizáveis, mas nós, em média, tivemos entre três e quatro mil pessoas nas marchas”, declarou Venâncio Mondlane, destacando também alegados avanços na democracia, tendo em conta que é a primeira vez que o Conselho Constitucional é interpelado juridicamente por um partido.
“O Conselho Constitucional tem agora dois documentos nossos que não consegue responder: primeiro é o pedido de aclaração do acórdão [que aprovou os resultados do escrutínio] e o pedido de atas que estiveram na base da elaboração do acórdão”, frisou Venâncio Mondlane.
O cabeça-de-lista da Frelimo a Maputo, Razaque Manhique, foi anunciado como vencedor das eleições autárquicas na capital.
A autarquia de Maputo sempre foi liderada pela Frelimo, mas Venâncio Mondlane reclamou vitória nestas eleições, com 55% dos votos, com base na contagem paralela que afirmou ter sido feita a partir dos editais e atas originais das assembleias de voto.
O CC, órgão de última instância da justiça eleitoral com competência para validar as eleições em Moçambique, proclamou em 24 de novembro a Frelimo vencedora das eleições autárquicas em 56 municípios, contra os anteriores 64, com a Renamo a vencer quatro, e mandou repetir eleições em outros quatro.
As ruas de algumas cidades moçambicanas, incluindo Maputo, foram tomadas por consecutivas manifestações da oposição contra o que consideram ter sido uma “megafraude” no processo das eleições autárquicas e os resultados anunciados pela CNE, criticados também pela sociedade civil e organizações não-governamentais.