Saint-Étienne na década de 60. Nantes nos anos 70. Bordéus e Montpellier na década de 80. Marselha e Bastia nos anos 90. Lille, PSG (por três vezes), de novo Marselha, Lyon (em duas ocasiões), mais uma vez Bordéus e Mónaco este século. O Benfica já defrontou quase metade das equipas que ocupam (ou ocuparam) um espaço de destaque na Ligue 1 mas havia ainda espaço para uma estreia após tanto tempo nas provas europeias, tendo agora pela frente no playoff de acesso aos oitavos à Liga Europa o Toulouse, formação que ocupa nesta altura o 15.º lugar no Campeonato – o último antes da zona de despromoção.

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Vencedor por três ocasiões da Segunda Liga, o Toulouse teve na última temporada o momento grande da sua história com a conquista da Taça de França após golear o Nantes por 5-1 no Stade de France, num triunfo que valeu a entrada na Liga Europa. Também aqui, os violets deram uma imagem bem diferente do que têm feito na Ligue 1, com 11 pontos em seis partidas incluindo uma vitória em casa frente ao Liverpool que foi a chave para segurar a segunda posição à frente do Union Saint-Gilloise e do LASK Linz. No Campeonato, a equipa de Carles Martínez tem apenas duas vitórias em 16 jornadas, levando uma série de nove partidas sem qualquer triunfo entre cinco empates e quatro derrotas que deixam o Toulouse em zona de perigo.

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O clube por onde já passaram técnicos como Jacques Santini, Alain Giresse e Guy Lacombe tem desde 2020 como presidente Damien Comolli, na sequência da compra da maioria do capital social pela RedBird Capital. E foi a partir daí que começou a ser reescrita a história do Toulouse (onde jogou Oceano no último ano da carreira, em 1998/99), com a subida à Ligue 1 em 2021 e a vitória na Taça de França em 2023.

O francês de 52 anos trabalhou no departamento de prospeção e identificação de talentos de clubes como o Mónaco, o Saint-Étienne, o Arsenal e o Tottenham antes de chegar ao Liverpool, projeto que o catapultou em definitivo para um estatuto diferenciado no futebol. Porquê? Porque acabou por ser uma espécie de Billy Beane da filosofia Moneyball, conceito que veio do ex-diretor desportivo dos Oakland Athletics e que conseguiu fazer grandes equipas de basebol através de um sistema inovador de estatísticas que permitia recrutar jogadores que eram desvalorizados pelo mercado mas que acrescentavam muito à equipa, numa ideia que chegou a Anfield com a compra do clube por parte do John W. Henry no ano de 2010.

“Os dados fazem parte de uma cultura e a nossa identidade é definida por isso. Mesmo quando as coisas não estão a correr bem, nunca abdicamos da sabedoria dos números para aumentarmos o nosso rendimento, o nosso números de golos. Temos de estar todos alinhados nesta base e os treinadores são escolhidos por nós tendo esta perspetiva por base. Conseguimos explicar através dos números e das estatísticas todas as opções que tomamos, explicamos como trabalhamos, o que temos, o que desenvolvemos e o que queremos. Os treinadores podem sugerir ideias mas não mudamos o processo. A seguir a um jogo, para nós, nenhuma página tem o resultado mas sim as estatísticas porque é assim que tentamos perceber como ganhámos ou como perdemos. Traduzimos os números para todos, isso é fundamental”, explicou Damien Comolli na última edição da Web Summit, onde participou num painel com o ex-técnico André Villas-Boas.

“Quando começámos a perceber as condições para uma compra, perguntámos o que representava Toulouse. Dizam que era o ‘Too lose’, nós queríamos que passasse a ser o ‘Too win’. Ainda precisamos de continuar a nossa transformação, percebendo também onde podemos colocar mais a parte humana também conjugada com os números. Analisamos 71 ligas por todo o mundo, procurando jogadores com menos de 25 anos e que possamos ainda competir a nível de preço. A partir dos filtros chegamos a um top 10 e depois vamos à procura de mais informações, se é boa pessoa, como é a vida fora de campo. O que podemos melhorar? Por um lado, ainda há determinadas coisas que não percebemos no plano defensivo, é um desafio. Por outro, a prevenção de lesões, que melhore também as decisões na altura da substituição”, acrescentou. Neste ponto em particular, o número de problemas físicos do Toulouse baixou de forma drástica; todavia, o rendimento desportivo sobretudo no plano interno continua muito aquém, com o 15.º lugar a ser reflexo disso mesmo.