Esta quarta-feira, milhões de polacos, que tinham os televisores sintonizados no principal canal de notícias da televisão pública do país, ficaram subitamente com a televisão a negro. O novo governo polaco, de centro esquerda, interrompeu a emissão do canal numa altura em que vários membros do partido Lei e Justiça (nacional-conservador, e que governou nos últimos anos) e apoiantes do anterior governo se concentravam junto à sede da emissora estadual TVP, conta a Reuters.

O objetivo do protesto era contestar o afastamento — determinado pelo novo governo, liderado por Donald Tusk — dos diretores do canal de notícias da televisão pública e a nomeação de uma nova administração. Para os apoiantes do Lei e Justiça, as demissões representam “um ataque ilegal à televisão pública e à liberdade” e “o primeiro passo para uma ditadura”.

Perante a pressão exercida sobre as instalações da TVP, e que obrigou à intervenção da polícia, o novo governo decidiu dar indicação para que o canal noticioso TVP Info (o sexto mais visto do país) deixasse de emitir e para que o site fosse desativado.

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Recorde-se que o novo governo da Polónia, que tomou posse há uma semana e que coloca fim a oito anos de governo conservador, adotou uma resolução, na terça-feira, para restaurar a imparcialidade dos meios de comunicação públicos, em que pedia que “todas as autoridades estaduais tomem medidas destinadas a restaurar a ordem constitucional em termos de acesso dos cidadãos a informações confiáveis e o funcionamento dos media públicos”.

Esta quarta-feira, sucederam-se as demissões não só na televisão estatal (a TVP), como também na rádio pública e na agência de notícias polaca. O canal de notícias estatal TVP Info é conhecido por seguir uma linha editorial marcada por fortes críticas a Donald Tusk (retratando o ex e atual primeiro-ministro polaco como desonesto e um político manietado pela Alemanha e pela Rússia) e por apoiar a linha ideológico do partido Lei e Justiça, nomeadamente na questão da restrição da imigração, uma das bandeiras do anterior governo.

“É claro que os políticos do Partido Lei e Justiça não defendem a liberdade dos media, eles defendem a liberdade da sua própria propaganda”, disse Milosz Motyka, do Polish People’s Party, um dos partidos que formam a coligação de esquerda.

No entanto, tanto o supervisor dos media como o presidente polaco, Andrzej Duda, vieram, entretanto, contestar veementemente as demissões nos media públicos. Maciej Swirski, diretor do Conselho de Supervisão dos media, apoiado pelo partido Lei e Justiça, descreveu a medida como uma “violação flagrante da lei”. Já Duda, eleito pelo Lei e Justiça, afirmou que o atual ministro da Cultura, Bartlomiej Sienkiewicz (e que tem a tutela da comunicação social) de ter violado “flagrantemente a Constituição” e de não ter cumprido a lei.

Há mais de 24 horas que o canal de notícias da televisão pública está interrompido. Os media são apenas um dos vários campos de batalha em que se travará, nos próximos meses, a luta entre a nova coligação de centro esquerda (que tem intenção de despolitizar as instituições do país, como os media ou os tribunais) e o Partido Lei e Justiça.