O caminho para começar a aliviar a pressão sobre o SNS é claro: retirar pessoas das urgências dos hospitais, oferecendo-lhes alternativas, e criar finalmente a especialidade de médico de urgência. Quem o defende é Nelson Pereira, o o novo presidente do colégio da competência em emergência médica da Ordem dos Médicos, que é também diretor das urgências do Hospital de São João, no Porto.

Numa entrevista ao Público deste sábado, o médico defende, desde logo, que em Portugal existe uma “má utilização” das urgências, a que as pessoas acorrem por decisão própria e sem ligarem ao 112 ou ao SNS24 primeiro. “Temos seis milhões de episódios de urgência por ano. Acho que precisávamos de reduzir [o total anual] pelo menos em um terço. (…) Temos dois milhões de episódios de urgência por ano que não deviam estar nas urgências”. Ou seja, é preciso chegar a esses dois milhões e “explicar que não precisam de estar no serviço de urgência”, uma solução que admite ser impopular e, por isso, precisar de “coragem política” para ser concretizada.

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Na perspetiva de Nelson Pereira, o caminho também deve passar por criar uma especialidade específica para médicos de urgência, uma ideia que foi chumbada há um ano, na Ordem dos Médicos. Para o responsável do São João, o chumbo mostrou uma “visão corporativa”, mas essa posição pode ser “revista”, tendo já pedido ao bastonário para “começar um diálogo”: “Este processo pode e deve ser revisitado dentro da Ordem dos Médicos”.

Na mesma entrevista, Nelson Pereira explica o que acontece no projeto já implementado na Póvoa de Varzim-Vila do Conde, onde os doentes não urgentes são logo encaminhados para uma consulta no próprio dia ou no dia seguinte no centro de saúde. Para os médicos, serão estes os caminhos a seguir para desentupir as urgências, que são usadas como resposta com uma frequência alta em Portugal, em comparação com a OCDE.

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