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Os problemas não são os milhões ou os tostões. É só a falta de intenções (a crónica do Boavista-FC Porto)

Este artigo tem mais de 6 meses

Sérgio Conceição passou a semana a falar de milhões e tostões, mas o problema do FC Porto está na falta de intenções. Dragões empataram com o Boavista no Bessa e estão a 5 pontos do Sporting (1-1).

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Evanilson foi titular no ataque dos dragões, mas não conseguiu reverter o empate

AFP via Getty Images

Evanilson foi titular no ataque dos dragões, mas não conseguiu reverter o empate

AFP via Getty Images

A primeira jornada de 2024 trazia um dérbi da Invicta e mais um loop obrigatório do autêntico carrossel que tem sido a temporada do FC Porto. Os dragões entravam em janeiro atrás de Sporting e Benfica, vindos de uma vitória tímida contra o Desp. Chaves, sem reforços confirmados e já com dois jogadores emprestados a confirmação da ausência de Taremi e Zaidu devido à CAN. Ou seja, era expectável que uma das 12 passas de Sérgio Conceição no Ano Novo tivesse pedido uma vitória clara contra o Boavista.

O FC Porto visitava o Bessa depois de alguns dias em que o mercado de transferências só funcionou na porta de saída: Gabriel Veron foi emprestado ao Cruzeiro e Fran Navarro foi cedido ao Olympiacos, falando-se ainda da possibilidade de Nico González e David Carmo serem também colocados até ao final de janeiro. Quanto a entradas, nada. Mas Sérgio Conceição garante que a matemática, entre milhões emprestados e tostões investidos, tem de ser feita de forma justa.

Ficha de jogo

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Boavista-FC Porto, 1-1

16.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Bessa, no Porto

Árbitro: Manuel Oliveira (AF Porto)

Boavista: João Gonçalves, Pedro Malheiro, Vincent Sasso, Rodrigo Abascal, Filipe Ferreira (Vukotić, 78′), Seba Pérez (Berna, 78′), Makouta, Miguel Reisinho (Ibrahima Camará, 70′), Bruno Lourenço (Luís Santos, 61′), Tiago Morais (Martim Tavares, 78′), Bozenik

Suplentes não utilizados: Tomé Sousa, Joel Silva, Masaki Watai, Jeriel De Santis

Treinador: Ricardo Paiva

FC Porto: Diogo Costa, João Mário (Danny Namaso, 80′), Pepe, Fábio Cardoso, Wendell, Stephen Eustáquio (Nico González, 69′), Grujic (Iván Jaime, 80′), André Franco (Galeno, 61′), Pepê, Evanilson, Toni Martínez (Francisco Conceição, 61′)

Suplentes não utilizados: Samuel Portugal, Zé Pedro, João Mendes, Bernardo Folha

Treinador: Sérgio Conceição

Golos: Toni Martínez (23′), Bruno Lourenço (28′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Pedro Malheiro (42′), a Luís Santos (62′), a Vukotić (88′), a Pepê (89′), a João Gonçalves (90+2′); cartão vermelho direto a Ibrahima Camará (88′)

“O nosso trabalho nos últimos anos não tem sido aquilo que querem passar, um chorrilho de mentiras diárias que me deixa estupefacto, sinceramente. Quando dizem que deito ao lixo 45 milhões, e ainda ontem disseram na televisão, são notícias enganadoras e mentirosas que não fazem parte ou não têm de fazer parte. Ditas muitas vezes até parecem verdade […] Dizem que o Sérgio Conceição deitou milhões ao lixo, o que é pura mentira. O Sérgio Conceição, em sete anos e até porque vivemos três desses sob a alçada do fairplay financeiro, trouxe 900 milhões de euros entre prémios e vendas. Em compras, dentro das soluções que temos, gastámos 250 milhões de euros nesses sete anos”, atirou o treinador dos dragões, numa conferência de imprensa onde pareceu estar preparado para responder com números.

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Era neste contexto — e depois de saber que o Sporting tinha goleado o Estoril, ou seja, que a margem de erro era ainda mais reduzida — que o FC Porto defrontava um Boavista afundado em 10 jogos seguidos sem ganhar e um drama constante devido às dificuldades financeiras que não têm permitido sequer pagar salários. Os dragões atuavam pela primeira vez sem Zaidu e Taremi, que já estão ao serviço das seleções para a CAN, e também não contavam com o castigado Alan Varela: Fábio Cardoso era titular ao lado de Pepe na defesa, Grujic assumia a titularidade no meio-campo e Toni Martínez fazia companhia a Evanilson no ataque, com Galeno a ser suplente e André Franco a surgir no onze inicial.

O jogo demorou a acelerar, com o FC Porto a assumir uma superioridade natural que não se convertia em oportunidades ou situações de perigo, já que o Boavista mantinha a organização defensiva e os dragões não demonstravam grande criatividade ou clarividência no último terço. Fábio Cardoso protagonizou o primeiro lance mais perigoso, ao atirar por cima na sequência de um passe de Grujic (11′), Pepe cabeceou para as mãos de João Gonçalves (14′) e Toni Martínez teve a primeira verdadeira ocasião de golo, ao desviar de cabeça após um canto para o guarda-redes axadrezado também defender (16′).

O Boavista só tocou na bola nos últimos 30 metros a partir dos 20 minutos, com o FC Porto a assumir o controlo do jogo e a construir a partir do meio-campo, mas sem grande intensidade. Pepê ia sendo o principal inconformado da equipa de Sérgio Conceição, com Eustáquio a tentar criar desequilíbrios e Evanilson a procurar cumprir as funções de Taremi, mas os dragões demonstravam muitas dificuldades na criação de oportunidades e na aproximação à baliza de João Gonçalves.

O golo, ainda assim, acabou por aparecer. Eustáquio soltou Pepê na área, o brasileiro tentou assistir Evanilson mas o avançado falhou o toque em jeito, conseguindo ainda desviar para Toni Martínez, que só precisou de encostar para a baliza desprotegida (23′). A desvantagem, contudo, foi a melhor coisa que poderia ter acontecido ao Boavista: a equipa de Ricardo Paiva subiu linhas, intensificou a reação à perda da bola e acabou mesmo por empatar pouco depois, com Bruno Lourenço a aproveitar a apatia da defesa adversária para cabecear quase sozinho na sequência de um livre cobrado na esquerda (28′).

Os axadrezados ainda tiveram duas oportunidades para carimbar a reviravolta, com Bozenik a cabecear ao lado na área (32′) e a rematar de muito longe para uma grande defesa de Diogo Costa (37′), e os dragões responderam com um pontapé por cima de Pepê (40′). Ao intervalo, no Bessa, Boavista e FC Porto iam empatando num jogo em que a equipa de Ricardo Paiva ia tornando a noite bem mais difícil do que o esperado a Sérgio Conceição.

[Carregue nas imagens para ver alguns dos melhores momentos do Boavista-FC Porto:]

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e o jogo manteve-se algo preso e morno, com o FC Porto a assumir o domínio da posse de bola e o Boavista a apostar nas transições rápidas e na exploração da profundidade. Seba Pérez ficou perto de surpreender com um remate pouco ortodoxo que passou ao lado (53′), João Mário quase marcou ao atirar em jeito e também ao lado (55′) e Sérgio Conceição acabou por decidir fazer uma dupla substituição à passagem da hora de jogo.

Francisco Conceição e Galeno entraram, Toni Martínez e André Franco saíram e Pepê passou a jogar mais por dentro e próximo de Evanilson, com Ricardo Paiva a responder ao trocar Bruno Lourenço por Luís Santos. O jogo manteve-se amarrado, sem que o FC Porto tivesse capacidade para criar espaços e com o Boavista a abdicar cada mais de ir para lá do meio-campo, recordando-se de que conquistar um ponto era melhor do que não conquistar nenhum.

Nico González entrou para o lugar de Eustáquio e teve uma oportunidade logo nos primeiros instantes em campo, atirando em jeito e ao lado já na grande área (72′), e Sérgio Conceição fez all in ao tirar João Mário e Grujic para lançar Iván Jaime e Danny Namaso, recuando o polivalente Pepê para a direita da defesa. As ideias, porém, continuavam a escassear. Mesmo depois de Camará ter sido expulso com cartão vermelho direto, na sequência de um desentendimento com Wendell, deixando os axadrezados em inferioridade numérica nos últimos minutos.

Mesmo com 11 minutos de tempo extra, o FC Porto não conseguiu desbloquear o empate com o Boavista e ficou desde já a cinco pontos da liderança do Sporting e correndo o risco de ficar a quatro do Benfica, podendo também ser igualado pelo Sp. Braga. Sérgio Conceição passou a semana a falar de milhões e tostões, mas o problema desta equipa é outro — a total falta de intenções.

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