“Estamos em estado de guerra e não podemos ceder a estes grupos terroristas”. Foram estas as palavras escolhidas pelo Presidente do Equador, Daniel Noboa Azin, para abrir a sua primeira entrevista após ter assinado um decreto executivo a declarar o estado de “conflito interno” no país.

Em declarações à Radio Canela, um dia após ter ordenado “às forças armadas que executem operação militares” para “neutralizar” as operações “terroristas” e “atores não estatais beligerantes”, o chefe de Estado sublinhou que o país está “num conflito armado, não internacional”.

Estamos a lutar pela paz nacional. Estamos também a lutar contra grupos terroristas, que hoje são constituídos por mais de 20.000 pessoas e não tinham sido nomeados nem determinados. Era como se estivessem no ar”, destacou, citado pela Radio 580.

Além disso, o Presidente disse que os 20 grupos transacionais que referiu no decreto “queriam que fossem tratados por grupos de crime organizado, porque é mais fácil”. “Quando eles são terroristas e vivemos num estado de conflito, num estado de guerra, aplicam-se outras leis. O direito internacional humanitário também se aplica”, referiu.

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Noboa também aproveitou para se referir aos vídeos que circulam nas redes sociais, a mostrar a execução de guardas prisionais e a ameaçá-lo: “Declarou guerra e guerra terá. Declarou estado de exceção. Nós declaramos guerra a polícias, civis e militares. Qualquer pessoa que estiver nas ruas a partir das onze da noite será executada”, vê-se um polícia sequestrado que foi obrigado a ler uma mensagem, de acordo com a Agence France-Presse.

“Divulgam imagens para assustar o público e derrubar o Presidente da República, e isso não vai acontecer. Estou solidário com as famílias”, garantiu, citado pelo jornal Infobae.

O chefe de Estado deixou ainda um recado para os profissionais judiciais: “Não podemos combater isto apenas de um lado, e não é apenas com balas, é também com o sistema judicial. Consideraremos que os juízes e os procuradores que apoiam os líderes identificados destes grupos terroristas fazem parte do grupo terrorista“.

A entrevista surgiu depois de uma vaga de violência na terça-feira ter feito, pelo menos, dez mortos em Guaiaquil e em Nobol, de acordo com o jornal equatoriano El Comercio.

O decreto do estado de “conflito armado” foi assinado depois de um grupo armado e encapuçado de dez homens ter tomado de assalto os estúdios do canal TC, com sede em Guayaquil, obrigando os jornalistas e colaboradores a deitarem-se no chão durante uma transmissão em direto. Houve uma ação semelhante numa universidade de Machala. Nesta cidade, três policias foram inclusivamente sequestrados, com um quarto a ser levado pelos criminosos na capital Quito, escreve o The Guardian.

Nas imagens, os homens armados com pistolas, espingardas e granadas caseiras, são vistos a agredir os trabalhadores e a obrigá-los a permanecerem no chão, exigindo que pedissem a saída da polícia que chegou entretanto ao local.

Mais tarde, ouviram-se vários tiros e gritos de pessoas enquanto a transmissão em direto continuava. “Não atire, por favor, não atire!”, grita uma mulher durante o tiroteio.

As imagens mostram ainda alguns dos homens encapuzados e outros com a cara destapada, a filmarem-se com telemóveis, enquanto faziam sinais com as mãos dos grupos ligados ao tráfico de drogas que estão a causar uma onda de terror no Equador.

“Eles vieram para nos matar, meu Deus proteja-nos”, escreveu um dos jornalistas numa mensagem enviada por WhatsApp a um correspondente da agência France-Presse. Os homens que entraram no estúdio televisivo já foram, entretanto, capturados pelas autoridades, avançou a polícia equatoriana, que adiantou que foram detidas 13 pessoas e apreendidas pelo menos quatro armas de fogo, duas granadas e “material explosivo”.

E a Procuradoria do Equador disse entretanto na na rede social X que irá acusar 13 pessoas pelo crime de terrorismo pelo ataque. Houve igualmente um tiroteio nas ruas de Guayaquil e de Quito, as maiores cidades equatorianas.

Na primeira cidade, no sudoeste do Equador, pelo menos oito pessoas morreram e outras três ficaram feridas, incluindo um agente da polícia, em vários ataques armados, confirmou o autarca.

Aquiles Álvarez manifestou solidariedade às famílias das vítimas e disse que o seu compromisso “é com a segurança” da cidade costeira.

“Vamos trabalhar de forma proativa e colaborativa com as forças públicas, a quem apoiamos de forma absoluta para fortalecer a resposta conjunta à grave crise de segurança”, acrescentou o autarca.

Álvarez apelou também à “unidade nacional” e mostrou-se confiante de que “as Forças Armadas e a Polícia Nacional” tomarão as medidas necessárias para restabelecer a ordem e a paz no Equador.

Epicentro da vaga de violência que varre o país, e segunda maior cidade, Guayaquil viu na terça-feira ocorrerem roubos, saques e tiroteios em áreas comerciais, admitiu na polícia, numa conferência de imprensa.

Na zona norte da cidade costeira, vários indivíduos dispararam contra veículos que passavam nas imediações, provocando a morte de cinco pessoas e ferindo um estudante. Na mesma zona, um grupo armado invadiu um armazém e assassinou três pessoas.

Em comunicado citado pela CNN, a Assembleia Nacional equatoriana também apoiou a decisão presidencial, expressando o apoio “às forças armadas, polícia nacional e todos os funcionários encarregues de cumprir e fazer cumprir a constituição”. “Reconhecemos e valorizamos a sua dedicação e esforço na preservação de segurança, da paz e da vida para os cidadãos.”

Embaixada dos EUA suspende os serviços consulares esta quarta-feira

Esta quarta-feira, dia 10, a Embaixada dos Estados Unidos da América (EUA) em Quito e no Consulado em Guayaquil, cancelaram todos os vistos, passaportes e outras marcações consulares, que serão posteriormente reagendadas, segundo um comunicado da Embaixada e informação divulgada pelo El Universo.

O comunicado informou também que serão contactados via e-mail, com uma nova data, todos os requerentes de serviços consulares com entrevista marcada para esta quarta-feira. A Embaixada dos EUA acrescenta que atualizará sobre os cuidados a ter no seu website e redes sociais (@USEmbassyEC).

Devido ao estado de emergência declarado no país, as autoridades dos EUA no Equador enviaram um alerta de segurança aos cidadãos norte-americanos de visita ou residentes, avisando-os para continuarem a respeitar todas as restrições locais de mobilidade que impedem a circulação entre as 23h00 e as 05h00. Além disso, especificaram alguns conselhos no alerta enviado: evitar multidões; acompanhar os meios de comunicação locais de modo a obter informações atualizadas; manter uma vigilância acrescida; e assegurar o abastecimento adequado de água, alimentos, medicamentos, dinheiro e combustível.

Argentina pronta a enviar polícias para lidar com violência no Equador

A Argentina disse na terça-feira estar disponível para enviar membros das forças de segurança para ajudar o Equador a enfrentar uma vaga de violência que já causou pelo menos dez mortos.

A Argentina expressou “firme apoio” às autoridades e ao povo equatorianos e ofereceu o envio das “forças de segurança, se necessário, para ajudar” o país numa “questão continental”. A ministra da Segurança argentina, Patricia Bullrich, lamentou que o Equador “tenha passado de um país tranquilo, com baixo índice de homicídios, para um país dominado pelo narcoterrorismo”.

O Governo dos EUA está a acompanhar “de perto” os relatos de “violência, sequestros e uma série de explosões no Equador” e está pronto “a prestar assistência”, disse à agência de notícias EFE um porta-voz do Departamento de Estado norte-americano.

“Estamos atentos a todo o apoio que o governo do Equador nos solicite”, disse o Presidente da Colômbia, Gustavo Petro, na rede social X.

Também na terça-feira, o Governo do Peru anunciou a imposição do estado de emergência em toda a fronteira de 1.500 quilómetros com o Equador e o envio das forças armadas para vigiar a área em conjunto com a polícia.

No final de uma reunião urgente com vários membros do executivo para analisar a situação no Equador, o primeiro-ministro peruano, Alberto Otárola, disse que seria aplicado “um controle mais intenso do trânsito de pessoas e migrantes que entram” no país.

Pelo menos dez pessoas morreram, incluindo dois agentes da polícia e outras três ficaram feridas, em vários ataques armados registados na terça-feira na capital Quito e em várias cidades do Equador. A polícia equatoriana anunciou nas redes sociais a morte de dois agentes “vilmente assassinados por criminosos armados” na cidade de Nobol, na região de Guayas, no oeste do país.

Pelo menos oito pessoas morreram e outras três ficaram feridas em vários ataques armados em Guayaquil, uma cidade costeira do sudoeste do Equador.

Ainda na terça-feira, a polícia anunciou a libertação de três agentes que tinham sido sequestrados na cidade costeira de Machala, no sudoeste do país, e a detenção de dez pessoas, supostamente envolvidas no rapto. Um quarto polícia foi sequestrado em Quito por três indivíduos num “veículo com vidros escuros e sem placa”, referiu a polícia local.

A situação de segurança interna do Equador deteriorou-se nos últimos dias. Como explica o jornal El Pais, sete estabelecimentos prisionais foram tomados pelos reclusos, tendo sido sequestrados seguranças e guardas prisionais. A tensão escalou ainda mais após José Adolfo Macías, conhecido como o criminoso mais perigoso equatoriano, ter fugido de uma prisão em Guayaquil, estando agora a monte.

Eleito em novembro, o Presidente Daniel Noboa Azin chegou ao cargo com a promessa de que iria travar a onda de violência do narcotráfico, um fenómeno que atinge o Equador. Para isso, e também em resposta à fuga de José Adolfo Macías, o Chefe de Estado declarou esta segunda-feira o estado de exceção, que vigorará durante 60 dias, aumentando a presença policial nas ruas e prisões e declarando o recolher obrigatório.