Ponto prévio: segundo as regras da FIFA em relação ao prémio The Best, é contabilizado o período entre 19 de dezembro de 2022 e 20 de agosto de 2023. Ou seja, e para que não existam mesmo dúvidas, a janela de avaliação começa no dia seguinte à conquista do Campeonato do Mundo de 2022 pela Argentina e termina por altura do regresso das competições nacionais. É aqui, e apenas aqui, que os jogadores são avaliados.

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Olhando para o trajeto de Lionel Messi, o argentino realizou um total de 32 jogos entre PSG, Inter Miami e Argentina, com um total de 24 golos e oito assistências entre a vitória na Ligue 1 e na Leagues Cup dos EUA após desempate nas grandes penalidades. Já Erling Haaland participou em 41 partidas com 32 golos e seis assistências entre Manchester City e Noruega, conquistando a Premier League, a Taça de Inglaterra e a Liga dos Campeões, por sinal a primeira do clube, além da Supertaça Europeia nas grandes penalidades frente ao Sevilha já no início da época 2023/24. No final, Pep Guardiola baixou a cabeça, Alf-Inge Haaland fechou os olhos e foi notória a surpresa em toda a sala: Messi conquistou o prémio The Best, acabando com os mesmos 48 pontos do norueguês mas tendo mais votos para primeiro classificado no desempate entre selecionadores, capitães, jornalistas e adeptos dos países representados na FIFA. Ninguém queria acreditar num troféu que ficou nas mãos do apresentador Thierry Henry, face à ausência do número 10 em Londres.

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A melhor temporada de Haaland que não chegou para ser o Melhor Jogador da FIFA

Quando Erling Haaland chegou ao topo do futebol europeu, à semelhança do que já tinha acontecido com Kylian Mbappé antes dele e do que aconteceu com Jude Bellingham depois dele, depressa lhe foi atribuído o rótulo de próximo vencedor em série de prémios, troféus e distinções individuais. A apoteótica conquista do Mundial do Qatar por parte da Argentina, no final de 2022, deu a oitava Bola de Ouro e o terceiro The Best a Lionel Messi, adiando a renovação por mais um ano. Esta segunda-feira, e ao contrário do que todos pensavam, essa viragem voltou a ficar congelada entre a “festa” do Manchester City.

Aos 23 anos, Haaland falhou o seu primeiro The Best em Londres, na gala da FIFA, falhando a coroação para  melhor jogador do mundo entre o final de dezembro de 2022 e agosto de 2023 no “desempate”. O jogador norueguês foi o mais escolhido entre treinadores e jornalistas mas acabou em segundo entre os votos dos capitães e dos adeptos, perdendo depois no desempate previsto nas regras que entronca em quem tem mais votos de cinco pontos entre os capitães (107-64). Por isso, o primeiro grande prémio individual da carreira ficou adiado apesar de já ter recebido o Troféu Gerd Müller, para o maior goleador do ano.

Assim, o avançado do Manchester City ficou sem a derradeira coroação (ao contrário do que aconteceu com Pep Guardiola e Ederson) numa temporada em que conquistou Premier League, Taça de Inglaterra e Liga dos Campeões e marcou 52 golos em 53 jogos. Pelo meio, tornou-se o jogador a marcar mais golos numa única edição da liga inglesa no atual formato (destronando Salah, recordista desde 2018), o jogador a marcar mais golos numa única edição da Premier de forma absoluta (destronando Andy Cole e Alan Shearer, recordistas desde 1994 e 1995) e ainda ultrapassou a fasquia dos 50 golos em todas as competições na mesma época, algo que só Messi, Ronaldo, Müller, Puskás e Pelé tinham alcançado.

Mais do que isso, talvez, Haaland conseguiu destruir o mito de que não iria conseguir adaptar-se ao estilo de Pep Guardiola e do Manchester City, por ser um ‘9’ puro numa equipa que preferia jogar sem referência ofensiva fixa. Com o norueguês, os ingleses habituaram-se a jogar mais para Haaland e nunca apesar de Haaland, tornando-se uma autêntica máquina de golear que só descansou depois de conquistar três troféus numa única temporada, por sinal a melhor de sempre dos citizens. Nada está a ser tão simples esta época, até porque o avançado tem estado lesionado e o próprio City tem estado alguns furos abaixo a nível exibicional, mas a verdade é que já leva 19 golos em 22 jogos em todas as competições.

O coração de vaca, os óculos especiais, a água filtrada: a vida de Haaland, a contradição que continua a bater recordes

Em termos globais, em 2022/23, Haaland só falhou o objetivo de qualificar a Noruega para o Europeu de 2024 – um handicap internacional que poderá deixá-lo em desvantagem na hora de o comparar a Mbappé ou a Bellingham neste tipo de corridas, já que França e Inglaterra terão sempre maiores chances de chegar perto de títulos do que os noruegueses. Ainda assim, e mais à semelhança de Bellingham do que de Mbappé, Haaland tem a particularidade de ser um herói não problemático.

Ao contrário do avançado do PSG e das eternas novelas que o afastam e aproximam do Real, o norueguês só faz manchetes pelos golos, os hat-tricks, a forma despreocupada como vive a vida e a personalidade quase cómica que o torna um bom gigante de cabelo comprido que nunca quis fazer mais nada que não jogar à bola. Choca quando diz que come coração de vaca, diz que o leite é o seu super-poder e usa óculos especiais que bloqueiam a luz azul dos ecrãs – e pelo meio deixa todos a rir com vídeos como o deste sábado, onde surgia em casa a celebrar efusivamente a vitória do City contra o Newcastle.