O compositor e musicólogo Ivan Moody morreu, esta sexta-feira, em Lisboa, aos 59 anos, informou o Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical (CESEM) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova, de cuja direção fazia parte.
“É com profundo pesar que comunicamos o falecimento de Ivan Moody”, lê-se na mensagem do CESEM, que recorda o percurso do investigador e “o seu exemplo de competência e dedicação plena”, assim como o seu impacto na promoção da prática musical portuguesa, nomeadamente através da Revista Portuguesa de Musicologia, “para cuja afirmação no panorama musicológico nacional e internacional contribuiu de forma muito significativa.”
Nascido em Londres, em junho de 1964, onde iniciou os estudos de música, Ivan Moody tinha-se estabelecido em Portugal há várias décadas, como recorda o CESEM, “desenvolvendo uma intensa carreira” de compositor e musicólogo.
Doutorado pela Universidade de York, estudou composição com Brian Dennis, John Tavener e William Brooks.
Foi professor da Universidade de Joensuu, na Finlândia, antes de se fixar em Lisboa e de aqui assumir a atividade pedagógica e de investigação. Era académico no Institute of Sacred Arts, em Nova Iorque, presidente da International Society for Orthodox Church Music e do painel de música da International Orthodox Theological Association. Era também protopresbítero da Igreja Ortodoxa (Patriarcado Ecuménico de Constantinopla) e reitor da paróquia de São João o Russo no Estoril.
Como musicólogo, publicou em particular sobre a música da Península Ibérica, da Rússia e dos Balcãs, sobre música sacra contemporânea e sobre a relação música-teologia, num percurso de investigação premiado por diversas vezes, como recorda o CESEM.
Foi editor do Journal of the International Society for Orthodox Church Music e coeditor da Revista Portuguesa de Musicologia.
Ivan Moody distinguiu-se como compositor com peças como a oratória “Passion and Resurrection”, editada pela britânica Hyperion, o “Akathistos Hymn”, gravado por Cappella Romana, e “The Dormition of the Virgin”, encomendada pela BBC, num conjunto de “obras significantes” que inclui, entre outras, o concerto para piano “Linnunlaulu”, o concerto para contrabaixo “The Morning Star” e o “Stabat Mater” para coro e quarteto de cordas.
O Centro de Investigação e Informação da Música Portuguesa recorda como a obra de Ivan Moody “tem sido executada e transmitida em todo o mundo, e gravada em etiquetas prestigiadas”, tais como ECM e ECM/New Series, Telarc, Warner Classics e Sony Classical, e cita intérpretes como os agrupamentos Chanticleer, Cappella Romana, King’s Singers, BBC Singers, Vox Luminis, Chiara Quartet, Coro de Câmara Inglês e Goeyvaerts Trio.
Para o Grupo de Música Contemporânea de Lisboa Ivan Moody compôs “Lacrime d’ambra”, e para a percussionista Elizabeth Davies e a OrchestrUtopica, “Birth of Leaves”.
Entre a sua produção mais recente contam-se obras como “Vespers Sequence”, estreada pelo ensemble New York Polyphony, em 2017, e “Isangele”, estreada pelo Coro de Câmara Inglês, no ano seguinte. No ano passado, a sua obra “Bird in Space” foi editada em disco pelo Windor Project, do saxofonista Ricardo Pires e da pianista Iryna Brazhnik.
“Para mim, qualquer obra tem de ter uma razão metafísica para existir, senão não faz sentido”, disse em entrevista ao Centro de Investigação e Informação da Música Portuguesa, em 2004, assegurando que, durante a composição se sentia “num processo”. “E esse processo tem coisas variáveis e quase me controla; não sou eu que o controlo.”
Ivan Moody era casado com a contralto e intérprete de viola da gamba Susana Moody, membro do Coro do Teatro Nacional de São Carlos, pai da trombonista Bárbara Moody e da tubista Sofia Moody.