O grupo VITA, organismo criado pela Igreja Católica em Portugal para acompanhar vítimas de abusos sexuais de menores no contexto eclesiástico, reconheceu este sábado que algumas vítimas deixaram de confiar no trabalho que está a ser feito. Num comunicado enviado às redações, garante, no entanto, que este número não é de modo algum representativo do universo de todas as vitimas existentes.

O comunicado, assinado pela coordenadora do grupo, Rute Agulhas, surge em resposta ao “Postal do Dia”, do jornalista Luís Osório. No podcast, este referia que o tema da pedofilia na Igreja Católica morreu com o fim da Comissão Independente e dizia que há várias vítimas que “deixaram de confiar como antes” no trabalho do novo organismo. “Viram o novo Grupo de Trabalho pôr no mesmo saco agressores e agredidos, como se a ajuda que as vítimas precisam fosse o mesmo tipo de apoio que os seus algozes necessitam”, apontava.

O autor do podcast sublinhava que não estava a acusar a Igreja Católica de silenciar o assunto nem o grupo VITA de ser pouco preparado, mas apontava que o tema tinha perdido o destaque. “É um facto que deixou de se falar dos abusados e de todos os casos relatados por uma Comissão que tinha a legítima expetativa – como o país – de que o tema seria seguido e teria alguma consequência”, apontava.

Em resposta, o grupo VITA disse que apenas um pequeno grupo de vítimas terá deixado de confiar nas capacidades do organismo. “São vítimas que se mostram focadas, apenas e tão só, na eventual possibilidade de uma reparação financeira, desvalorizando todas as outras ações preventivas e reparadoras que possam, de igual modo, ser implementadas”, pode ler-se num comunicado do organismo enviado às redações e onde se destacava outros tipos de ações do organismo, como a criação do “Manual de Prevenção da Violência Sexual contra Crianças e Adultos Vulneráveis no contexto da Igreja Católica em Portugal”.

O organismo garantia também que desde a data de início do seu funcionamento, a 22 de maio de 2023, “tem vindo a desenvolver um trabalho intenso e muito abrangente”. Disse também que as vítimas e os agressores “não estão a ser colocadas no mesmo saco, porque de pessoas se tratam” e têm “necessidades distintas que precisam de intervenções diferenciadas”. “O Grupo VITA é constituído por diversos profissionais que, de forma separada, intervêm com vítimas e com agressores, pautando a sua intervenção por aquelas que são as boas práticas, reconhecidas nacional e internacionalmente”, refere.

No comunicado refere-se ainda que o facto de o tema não estar diariamente na comunicação social não significa que tenha deixado de ser assunto. O organismo garante ainda que também está dedicado ao estudo da forma como poderá ser equacionado um processo de reparação financeira das vítimas, tendo já reunido com diversos especialistas, de modo a apresentar em breve uma proposta junto da Igreja.

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