Foi há praticamente um mês que José Mourinho foi despedido da Roma na sequência de uma série em que somou apenas uma vitória em seis jogos. Na altura, a direção do clube italiano sublinhou a necessidade de uma “mudança imediata” e contratou Daniele De Rossi, antigo capitão, dispensando o treinador português depois de dois anos e meio de ligação e uma Liga Conferência conquistada.

Um mês depois, Mourinho já foi associado à Arábia Saudita e principalmente ao Bayern Munique, com o jornal Bild a garantir nos últimos dias que o português é o preferido da cúpula bávara para suceder a Thomas Tuchel — e que o treinador até já estaria a aprender alemão. Rumores à parte, Mourinho decidiu dar uma entrevista mais especializada ao site Football.com, do qual é embaixador, mas não deixou de espelhar a mágoa que ainda sente com o despedimento da Roma.

Um piscar de olho à procura de (mais) história: Mourinho colocado na rota do Bayern (e já a aprender alemão)

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“As competições europeias estão prestes a começar, nomeadamente a Liga dos Campeões, talvez a competição mais importante do calendário mundial. Não estarei presente nestas fases finais e não por já ter sido eliminado, mas sim por ter sido ‘eliminado’ por alguém que pouco percebe de futebol. A vida é assim, cheia de altos e baixos, e eu estou a subir apesar do despedimento tão inesperado quanto injusto. Mas voltarei a estes jogos da UEFA e ainda com mais vontade e confiança”, atirou o treinador português, num aparente recado para a família Friedkin, os norte-americanos que são donos da Roma.

Na conversa, Mourinho abordou o impacto de disputar eliminatórias das competições europeias. “Participei em muitos jogos e cheguei várias vezes à final. São mesmo jogos especiais, tanto para nós treinadores, como para os adeptos e para os jogadores. Tenho experiência e conhecimento suficientes para saber como avançar, mesmo quando temos adversários com um potencial muito superior ao nosso. Nesta fase, tenho sempre presente o seguinte: no primeiro jogo, joga-se sempre para ganhar; no segundo, sabe-se o que é preciso para passar à fase seguinte, seja ganhar por um golo, empatar ou mesmo perder por um ou dois golos. Os jogos das eliminatórias são geridos nesta base”, acrescentou, detalhando depois a forma como a estratégia tem de ser adaptada em caso de derrota na primeira mão.

Regresso ao passado, uma “homenagem”, Médio Oriente e as seleções: as quatro hipóteses para o futuro de José Mourinho

“Temos de refletir sobre o que temos de fazer e pensar no resultado acumulado, quando termina a segunda mão. Costumo rever o primeiro jogo, tentar encontrar os meus erros e os da equipa no seu conjunto, pensar no que fiz na preparação desse jogo e no que tenho de fazer na segunda mão para voltar ao objetivo de ganhar a eliminatória. E preparo os jogadores para isso, porque estão motivados pelo simples facto de disputarem uma competição tão importante”, explicou, oferecendo depois o exemplo dos oitavos de final da Liga dos Campeões de 2005, quando estava no Chelsea e eliminou o Barcelona depois de perder na Catalunha na primeira mão.

Noutro exemplo, recordou as meias-finais da Liga dos Campeões de 2010, edição que o Inter Milão acabou por vencer ao derrotar o Bayern Munique na final após eliminar o mesmo Barcelona na ronda anterior. “Na segunda mão, em Camp Nou, com o Thiago Motta expulso antes do minuto 30, joguei como tinha de jogar: para perder por apenas um golo. Perdi por 1-0, mas atingimos o nosso objetivo e chegámos à final. E ganhámos. Quando se trata de alcançar um objetivo, qualquer estratégia ou tática pode ser utilizada e não tenho qualquer problema em utilizá-las. É uma questão de inteligência e não nos devemos preocupar com o que os autoproclamados comentadores possam dizer. ‘Ah, o Mourinho pôs o autocarro à frente da baliza e o Eto’o a lateral direito’. Sim, mas joguei 10 contra 11 e fizemos um jogo defensivo verdadeiramente espetacular contra Piqué, Xavi, Busquets, Ibrahimovic e Messi. Foi uma estratégia inteligente”, terminou.

“Agradecemos ao José mas é necessária uma mudança imediata”: Roma despede Mourinho após nova derrota na Serie A

Também esta quinta-feira, no YouTube, foram divulgados alguns excertos da entrevista que José Mourinho deu a Rio Ferdinand no “Five”, o podcast do antigo central inglês. Aí, em concordância com o que já tinha dito anteriormente, o treinador português garantiu que a saída da Roma foi a que o “magoou mais”, mas que “foi uma decisão dos donos e temos de respeitar sem discutir”.

“Claro que acredito que os adeptos são o coração de um clube de futebol, sem eles não há clubes, mas existem donos e quando os donos decidem tens de respeitar. Dei tudo, dei o meu coração. Algumas opções podem ser consideradas pouco inteligentes do ponto de vista profissional, recusei grandes oportunidades de trabalho. A primeira foi muito difícil porque foi Portugal, a Seleção. Com provavelmente a melhor equipa de sempre, três anos antes do próximo Mundial. Depois recebi uma grande proposta da Arábia Saudita, na altura não escondi. Normalmente sou muito pragmático nas minhas escolhas, deixei outros clubes depois de ganhar troféus, mas desta vez não fui pragmático. Fui emocional, dei tudo. No final saí magoado”, revelou, acrescentando que também recusou um convite para treinar a seleção de Inglaterra.

(artigo atualizado às 16h48 com o excerto da entrevista de José Mourinho ao podcast de Rio Ferdinand)