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Arthur guardou as palavras para falar em campo (a crónica do Casa Pia-Benfica)

Este artigo tem mais de 6 meses

Num momento marcado pela explosiva entrevista de Kökçü, que ficou de fora por castigo, Arthur voltou a começar no banco e entrou para dar uma lição ao turco sobre como ganhar espaço numa equipa (0-1).

Arthur Cabral entrou na segunda parte e voltou aos golos um mês depois para dar a vitória ao Benfica frente ao Casa Pia
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Arthur Cabral entrou na segunda parte e voltou aos golos um mês depois para dar a vitória ao Benfica frente ao Casa Pia

CARLOS COSTA

Arthur Cabral entrou na segunda parte e voltou aos golos um mês depois para dar a vitória ao Benfica frente ao Casa Pia

CARLOS COSTA

Era uma realidade que estava no oito, foi passando ao longo das últimas décadas para o 80 (ou mais). Nos anos 80 e 90, muito longe da era das redes sociais onde uma notícia chega aos quatro cantos do mundo num par de minutos, os jornalistas acompanhavam os treinos, muitas vezes iam à conversa com os jogadores da saída dos balneários até aos campos e no final ainda podiam esperar na zona do estacionamento para mais umas trocas de impressões. Depois, tudo foi mudando. As sessões de trabalho passaram de 15 minutos para imagens para a porta fechada, o contacto com a imprensa é cada vez menor, os próprios meios do clube ainda aumentaram esse fosso. Assim, quando um jogador dá uma entrevista que não seja num contexto de antes ou depois de jogos, em conferência ou zona de entrevistas rápidas, é quase um happening. Um happening que ganha outros contornos quando as palavras ganham um tom crítico numa fase decisiva da temporada.

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Foi isso que aconteceu com Orkun Kökçü, contratação mais cara de sempre do Benfica que falou ao jornal neerlandês De Telegraaf sobre os primeiros seis meses na Luz de uma forma aberta e com vários reparos ao que tem sido a passagem pelos encarnados. “Não, não era o que eu esperava. Fiz uma escolha consciente pelo Benfica com a ideia de que este era o melhor passo na minha carreira para me desenvolver mais em todas as áreas. Isso aconteceu apenas em parte. Desde o início que nunca me fizeram sentir importante, nem pelo treinador. Mas não sou o tipo de pessoa que bate o punho na mesa ou faz exigências, mas talvez tenha sido modesto demais justamente pelo papel que ele me deu… Ainda posso significar muito mais para o Benfica, talvez seja aí que reside uma parte da minha frustração. Substituições? Isso deixou-me com raiva e dececionado. Naqueles exatos momentos, sabia que poderia significar muito para a equipa…”, apontou.

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“Já ouvi falar da entrevista. Ainda não tive a oportunidade de a ler, tenciono fazê-lo depois da conferência. Claro que vou ter de falar com o jogador. Nestes momentos, é preciso obter alguma informação do jogador. Quero falar com ele e depois tomarei as minhas decisões”, referiu ainda este sábado Roger Schmidt, naquele que foi o primeiro comentário às declarações do internacional turco. No entanto, a “mossa” estava feita. E o próprio universo encarnado parou no tempo para discutir as palavras do médio, pelo seu timing, pelo seu conteúdo e pela sua “razoabilidade” na época de estreia no Benfica. Mas poderia isso ser um revés na atual caminhada do conjunto da Luz, o único ainda em todas as provas apesar desses “casos” surgidos?

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“Somos uma equipa profissional, a época é longa e temos vários jogos a disputar. É algo perfeitamente normal, faz parte do futebol orientar os jogadores da melhor maneira e falar com eles sobre os problemas, que têm de ser resolvidos. Estou muito satisfeito com a personalidade da nossa equipa e, na época passada, também atingimos um nível elevadíssimo. Estou muito feliz por orientar esta equipa. Gosto do ambiente e claro que os problemas têm de ser resolvidos quando aparecem. Tenho de ler a entrevista de Kökçü mas tem jogado bem. Claro que teve algumas dificuldades, chegou a estar lesionado. A primeira época nunca é tão fácil como esperamos, são coisas que fazem parte. De forma geral, acho que temos uma equipa com muita personalidade e o espírito de equipa é muito bom”, destacou o germânico ainda sobre o tema, sem revelar se existiria uma punição para o médio, a começar pela saída das opções no encontro com o Casa Pia.

Em paralelo, e depois da vitória em Glasgow frente ao Rangers que carimbou a passagem aos quartos da Liga Europa, Schmidt abordou também a relação com os adeptos que nem nos melhores momentos parece voltar a ser o que foi ao longo da primeira temporada. “Não consigo observar tudo e não quero fazê-lo. Já o disse há algumas semanas: quando treinamos o Benfica, as críticas existem. É quase impossível não acontecer. O que reconheço é que também existe muito apoio à nossa equipa e eu faço parte da equipa do Benfica. Não sou importante, o importante é o Benfica. Quero ganhar títulos e sei que quando o fazemos, os adeptos ficam satisfeitos. Estou a preparar a equipa para que possa ganhar jogos e, em momentos difíceis, o meu foco está no relvado. Não podemos fingir que todos estão contra o Benfica, mas quem tem um espírito negativo, quase sempre faz mais ruído. Isto faz parte do futebol e da sociedade mas não me afeta”, apontou.

Era assim que chegava o jogo em Rio Maior com o Casa Pia, com o Benfica a poder (pelo menos à condição) regressar à liderança do Campeonato antes da paragem para as seleções mas a ter de lidar com uma série de “fenómenos” externos que de forma indireta chegavam à equipa. Curiosamente, parecia que estava escrito que tudo isso seria apagado pela inspiração individual do jogador que talvez mais vontade tivesse de dar uma entrevista nesta fase: Arthur Cabral. Depois da série de quatro encontros consecutivos a marcar, onde fez ainda mais duas assistências, o avançado deixou de entrar nas opções de Schmidt e foi tentando sempre ir à procura do seu espaço que entretanto tinha sido ganho por Marcos Leonardo, por Tengstedt e pelo modelo que não previa um avançado mais fixo. Perante tudo isso, o avançado foi continuando a fazer o seu trabalho e, em Rio Maior, ao contrário de Kökçü, deu a sua entrevista em campo que valeu uma vitória.

Ficha de jogo

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Casa Pia-Benfica, 0-1

26.ª jornada da Primeira Liga

Estádio Municipal de Rio Maior

Árbitro: Cláudio Pereira (AF Aveiro)

Casa Pia: Ricardo Batista; Fernando Varela (Fernando Andrade, 86′), Zolotic, Tchamba; Larrazabal, Neto, Pablo Roberto (Rúben Lameiras, 62′), Lelo; Telasco (Samuel Justo, 74′), Nuno Moreira (Soma, 62′) e Felippe (André, 74′)

Suplentes não utilizados: Lucas Paes, João Nunes, Krygärd e André Geraldes

Treinador: Gonçalo Santos

Benfica: Trubin; Bah (Tomás Araújo, 89′), António Silva, Otamendi, Aursnes; Florentino Luís (David Neres, 58′), João Neves; Di María, Rafa, João Mário e Marcos Leonardo (Arthur Cabral, 58′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Álvaro Carreras, Morato, Rollheiser, Tiago Gouveia e Tengstedt

Treinador: Roger Schmidt

Golo: Arthur Cabral (74′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Florentino Luís (45′) e António Silva (77′)

O encontro começou numa toada muito morna. Bola longe das balizas, controlo em posse do Benfica sem chegadas ao último terço que pudessem depois criar oportunidades, um par de pontapés de cantos que não deram também para desmontar a muralha dos visitados. Aliás, num deles por pouco não deu o golo… ao Casa Pia: Di María combinou mal na esquerda, os gansos conseguiram fazer o corte para saírem depois pela direita em transição, Felippe descaiu mais na linha para arrastar a defesa e Larrazabal surgiu isolado na área a atirar ao lado baliza de Trubin (10′). Não seria a única tentativa no quarto de hora inicial, sempre para a equipa de Pina Manique: Paulo Roberto viu bem a desmarcação de Lelo pela esquerda com um passe de rutura, centro sofreu ainda um desvio e Felippe atirou por cima (15′). Logo no minuto seguinte, Nuno Moreira foi a uma zona mais central, arriscou a meia distância mas saiu quase à figura de Trubin (16′).

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Casa Pia-Benfica em vídeo]

A seguir, houve uma reação. O Benfica conseguiu acertar posicionamentos sem bola quando o Casa Pia saía em transições e começou também a ter outro pragmatismo nos lances em posse no último terço, com João Neves a conseguir marcar após canto num lance que seria anulado por fora de jogo no início da jogada (18′) e Marcos Leonardo a aproveitar um movimento diagonal para receber em velocidade e rematar forte para a defesa de Ricardo Baptista (20′). A malha começava a apertar, com essa capacidade melhorada do conjunto encarnado em não permitir que os gansos saíssem a colocar todo o jogo no meio-campo contrário, tendo mais um remate que poderia ter sido perigoso de Di María e um grande passe na profundidade de António Silva para Bah que terminou com o corte de Fernando Varela para canto antes do desvio final (31′).

Apesar dessa fase melhor dos encarnados no jogo, seria o Casa Pia a ficar novamente perto do golo por Pablo Roberto, com uma grande jogada individual pela direita a ganhar espaço para um remate travado para canto por Trubin (38′). Havia dois pontos nesta fase que ajudavam a explicar o que se passava em campo, entre as perdas de bola de Di María (que perdeu também oito dos primeiros nove duelos que teve) e a falta de ações defensivas das três unidades de apoio a Marcos Leonardo, entre Rafa, Di María e João Mário. Com isso, o intervalo chegaria mesmo sem golos mas com as melhores oportunidades a pertencerem aos visitados, o que poderia levar a que Schmidt fizesse algumas correções ao intervalo no sentido de ganhar outro peso em termos ofensivos perante a falta de uma chance clara e os meros oito toques na bola de Marcos Leonardo.

Apesar dessas insuficiências, o técnico dos encarnados acreditou que seria possível mexer naquela que estava a ser a história do jogo com os mesmos 11 elementos que tinham sido escalados de início. Em grande parte, esse objetivo foi alcançado. Nesses minutos iniciais o Casa Pia praticamente não saiu do seu meio-campo, com uma série de bolas despejadas na frente sem destino apenas para aliviar a pressão que o Benfica estava a conseguir exercer. Foi numa dessas ações que surgiu a primeira oportunidade flagrante para os visitantes, com Di María a conseguir antecipar-se a Neto no meio-campo, a lançar Rafa na velocidade e o avançado a levar a bola até ao fim com um desvio que saiu a rasar o poste da baliza de Ricardo Baptista (54′). Pouco depois, e por duas ocasiões, Di María arriscou a meia distância mas a bola saiu por cima. E, de seguida, foi António Silva a desviar de cabeça após livre lateral a rasar o poste (60′). Golos, nem um para amostra.

Foi nessa fase de maior pressão que Schmidt começou a mexer na equipa, com as saídas de Florentino Luís e Marcos Leonardo para as entradas de David Neres e Arthur Cabral. O esquerdino teve um impacto imediato na partida pela esquerda, com várias ações para cruzamento ou remate, mas o nulo permanecia com o Casa Pia sem capacidade de saída até que apareceu o herói da partida: após uma saída rápida que passou por David Neres e João Mário, a bola chegou ao lado direito onde estava Arthur Cabral e o avançado avançou bem para a jogada individual antes do remate de pé esquerdo para o 1-0 (74′). Estava encontrada a chave do encontro, que não ganhou outra expressão nos minutos seguintes porque Ricardo Baptista evitou com uma defesa apertada para canto o bis do brasileiro (79′) mas que iria perdurar até ao final da partida.

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