Foi muito bom, por um par de minutos não se tornou ainda melhor, acabou com história feita. Depois das participações na fase de grupos da Liga dos Campeões onde não conseguiu mitigar o fosso que existia para as duas melhores equipas, o Benfica arriscou o passo em frente em termos europeus. Conseguiu. Com vitórias em casa que valeram seis pontos, com empates fora com Eintracht Frankfurt e Rosengärd, com a igualdade inédita frente ao todo poderoso Barcelona que só não acabou em triunfo pelo 4-4 surgido nos descontos. No entanto, as encarnadas queriam mais. Porque não tinham nada a perder, porque surgiam com tudo para ganhar. E era entre esse contexto que entravam em campo no Dia do Pai em pleno Estádio da Luz frente ao Lyon, campeão francês, um dos melhores conjuntos mundiais e campeão europeu oito vezes… em 13 anos.

Os anos-luz tornaram-se centímetros e o quase impossível esteve mesmo ali: Benfica empata com o Barcelona no Seixal

“O adversário é muito competente em termos ofensivos, atacam bem, e têm jogadoras letais na área. Na componente ofensiva, sabem pressionar e fecham bem os espaços. Estamos a falar de uma das melhores formações da Europa, por isso vamos precisar de um Benfica perfeito para anular o Lyon. Seria arrogância não atribuir favoritismo ao Lyon, devido ao palmarés, às jogadoras e à treinadora. Mesmo assim, é um patamar onde queremos chegar para perceber em que nível competitivo estamos. Não nos contentamos só por termos chegado aqui, queremos ser mais competitivas. Quanto mais subimos, mais queremos, é um vício. Crescemos, evoluímos e queremos mais. Sabemos que são uma potência mas somos um Benfica que quer continuar a subir alguns patamares. Estamos na luta para chegar às meias-finais”, anunciara Filipa Patão, treinadora das encarnadas que mais uma vez colocava a fasquia mais acima em termos desportivos.

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“De há dois anos para cá, esta equipa do Benfica cresceu muito e são mais equipa. Nós temos experiência mas elas são uma equipa capaz de jogar com muita agressividade, com muita qualidade técnica e não é qualquer um que consegue fazer quatro golos ao Barcelona, atual campeã em título. O Benfica é um clube que eu sigo muito. Quanto a nós, o nosso percurso nesta competição de nada vale se não usarmos todas as forças para levarmos de vencido esta grande equipa. Vai ser um jogo muito especial para mim porque toda a minha família do lado da minha mãe são portugueses e benfiquistas, ainda para mais jogamos no Estádio da Luz que tem muita história”, adiantara Sonia Bompastor, treinadora do Lyon que chegou a falar mesmo em português na conferência de antevisão entre muitos elogios a tudo o que o Benfica poderia fazer em jogo.

Todas essas palavras faziam sentido sobre uma equipa que não perdia há 18 jogos mas que mostrou de novo a sua melhor versão depois do empate diante do Damaiense na última ronda do Campeonato. Problema? As pilhas só duraram durante uma hora. Ao longo de 60 minutos, o Benfica não foi em nada inferior ao Lyon, esteve até em vantagem e foi conseguindo gerir da melhor forma os momentos do jogo. Depois, quebrou, foi caindo e nem com as substituições voltou a agarrar o comando da partida, permitindo que o Lyon tivesse espaço para jogar e fizesse a reviravolta que dá vantagem para a segunda mão em França.

Com a aposta no 3x4x3 a manter-se mesmo sem a opção Jéssica Silva, que ficou de fora da convocatória para este encontro e falhou o reencontro com a antiga equipa (depois de ter sido suplente utilizada no jogo com o Damaiense, tendo mesmo feito a assistência para o golo do empate de Kika Nazareth), o Benfica teve um bom início de encontro e acertou mesmo no poste, com Nycole a trabalhar bem na área antes de amortecer para o remate de Andrea Falcón que sofreu ainda um desvio da guarda-redes chilena Christian Endler (7′). Todavia, esse bom momento acabou por ser quebrado com mais uma má notícia para Filipa Patão, com Nycole a torcer o pé sozinha no meio-campo e a ter de ser substituída por Chandra Davidson logo aos 15′.

A partir daí, houve mais Lyon. Le Sommer obrigou Lena Pauels a uma primeira intervenção segura (19), Cascarino teve outra jogada individual a tirar várias adversárias do caminho até ao remate com pouco ângulo travado pela guarda-redes alemã para canto (23′) e a mesma Le Sommer voltou a tentar para nova defesa da germânica (35′). Apesar dessas oportunidades, o Benfica conseguia manter-se fiel à sua identidade e à ideia que trazia para este jogo, sendo que quando os níveis de agressividade sem bola aumentaram houve mesmo o primeiro golo da partida: Andreia Faria conseguiu perceber bem o passe lateral da defesa das francesas a meio-campo, roubou a bola antes de chegar a Mbock Bathy (capitã do Lyon que preferiu não fazer falta para não arriscar o vermelho direto) e correu 50 metros para marcar isolada na área das visitantes (43′). Pouco depois, Chandra Davidson ganhou mais uma bola em zona adiantada mas o remate saiu fraco.

O segundo tempo recomeçou dentro dos mesmos pressupostos, com o Benfica a demonstrar até mais alguns argumentos em ataque organizado ou na exploração da profundidade com Chandra Davidson, que teve um desvio de cabeça na sequência de um canto que não passou longe da baliza de Endler. Contudo, havia um novo adversário a aparecer perante as encarnadas: o desgaste físico, que levou por exemplo a que Lais Araújo tivesse de sair pouco depois dos 60′. O Lyon começava a reconhecer uma janela de oportunidade para pelo menos chegar ao empate e, já depois de mais uma defesa de Lena Pauels a remate de Diani isolada (61′), Cascarino fez o 1-1 na área após uma grande jogada de Carpenter com assistência de Dumornay (63′).

Filipa Patão percebia como a quebra física desequilibrava o encontro, fazendo de uma assentada três mexidas com as entradas de Catarina Amado, Pauleta e Andreia Norton para os lugares de Andrea Falcón, Andreia Faria e Kika Nazareth, mas nem por isso voltou a haver uma versão do Benfica sequer parecida do que tinha existido na primeira hora de jogo. Assim, o Lyon agarrou de forma natural no encontro e voltou a ter em Lena Pauels o grande obstáculo, evitando mais uma vez um lance em que Diani surgiu sozinha. No meio da mudança, a internacional norte-americana Lindsey Horan começou a aparecer cada vez mais no jogo e com espaços, o que acabaria por ser fatal no lance do 2-1 em que cruzou para o desvio de Däbritz (79′).