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A voluntária que fazia "o que amava", os três britânicos ex-militares e o palestiniano que ajudava "quem precisava". As vítimas em Gaza

Este artigo tem mais de 6 meses

Zomi é recordada como alguém que passava a vida a tentar espalhar amor. Três voluntários britânicos tinham sido militares. Funcionários humanitários que morreram em Gaza homenageados pelo mundo.

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Era voluntária, distribuía refeições por deslocados palestinianos na Faixa de Gaza e estava a sair do armazém depois da chegada de toneladas de comida por via marítima. Lalzawmi Frankcom, mais conhecida como Zomi, seguia num dos carros da Organização Não-Governamental (ONG) World Central Kitchen que foi bombardeado pelo exército israelita. O ataque matou sete pessoas.

Lalzawmi Frankcom nasceu em Melbourne e morreu aos 43 anos a “fazer o que amava”. A família não demorou a reagir à morte num comunicado onde relembrava a “coragem”, um “legado de compaixão”, “bravura” e “amor por todos os que estão à sua volta”. “Era um ser humano gentil, altruísta e notável que viajou pelo mundo a ajudar pessoas em momentos de vulnerabilidade”, contam, citados pelo The Guardian.

As imagens dos carros atingidos (diretamente) por Israel, que promete investigar “trágico incidente”

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Segundo o The Telegraph, Zomi tinha enviado uma mensagem a um colega da WCK: “Estou a habituar-me aos drones, mas as explosões ainda me fazem a barriga ficar estranha”.

Além de Zomi, que era australiana, o ataque vitimou o polaco Damian Sobol, de 35 anos. A morte foi confirmada pelo governo da Polónia e o voluntário é recordado, por aqueles que o conheceram, como Aparna Branz (antigo membro da World Central Kitchen), como um “rapaz fantástico”, que estava “sempre a sorrir”, “gentil, paciente e sempre pronto para ajudar qualquer pessoa”.

Amigos de Damian Sobol, que também esteve a distribuir refeições na Ucrânia, recordam as vítimas como “pessoas corajosas que mudaram o mundo” pelo serviço e dedicação aos outros.

Abu Taha, palestiniano de 26 anos, era o condutor de serviço e também está entre as sete vítimas do ataque. Em declarações ao The Washington Post, Yousef Sharef, um primo, descreveu-o como uma “pessoa adorável” que “fazia sempre coisas boas e apoiava as pessoas que precisavam de ajuda”.

Entre as vítimas há ainda três britânicos, que segundo a BBC foram identificados como John Chapman, James Henderson e James Kirby. O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, diz que transmitiu a Benjamin Netanyahu que estava “chocado” com a morte dos três cidadãos britânicos. Num telefonema na noite de terça-feira, Sunak exigiu respostas e apelou a uma “investigação independente, completa e transparente”.

Segundo o The Telegraph, James Henderson, de 33 anos, e John Chapman, de 57, serviram nos Royal Marines (uma força de elite da Marinha do Reino Unido), e James Kirby foi atirador do exército. A imprensa britânica também adianta que os três trabalharam como agentes de segurança privada para a empresa Solace Global, sediada no Reino Unido. Os três faziam parte da equipa de segurança da WCK.

James Henderson esteve na Marinha durante seis anos, tendo sido responsável pela análise de dados e de riscos de segurança. Antes de ser voluntário na WCK trabalhou como segurança pessoal. Estaria em Gaza há apenas algumas semanas. Já John Chapman, que tinha dois filhos, saiu dos Royal Marines há quatro anos e terá ajudado a treinar soldados na Arábia Saudita para uma empresa privada.

James Kirby, por sua vez, trabalhou como consultor de segurança na área de gestão de risco da Solace Global e chegou a descrever-se como alguém capaz de manter um “comportamento calmo sob extrema pressão, incluindo em situações de risco de vida”.

Entre os mortos está, ainda, um norte-americano-canadiano, que foi identificado como Jacob Flickinger, de 33 anos. O ataque aéreo já foi assumido pelo primeiro-ministro de Israel: “Infelizmente, nas últimas 24 horas, houve um trágico caso em que as nossas forças atingiram de forma não intencional pessoas na Faixa de Gaza”.

A organização está presente na Faixa de Gaza para distribuir refeições aos palestinianos deslocados e, nas redes sociais, dava conta da existência de “mais de 60 cozinhas no centro e sul de Gaza [onde] preparam centenas de milhares de refeições todos os dias”. Entre a produção de comida e o pagamento a membros da comunidade cujos negócios de venda ambulante foram afetados pela guerra e que estão hoje a ser pagos para distribuir comida gratuita, a World Central Kitchen está espalhada por vários locais da comunidade a providenciar refeições.

Um dos vídeos publicados mais recentemente na rede social X, antigo Twitter, tem Lalzawmi Frankcom e o chef Oli como protagonistas, em imagens onde surgem sorridentes e a explicar o que iriam servir naquele dia em Deir al-Balah. Foi exatamente naquela zona que o carro onde circulavam vários membros da ONG foi atingido por um ataque aéreo.

“Este é um ataque às organizações humanitárias que surgem nas situações mais terríveis, em que os alimentos são usados ​​como armas de guerra. Isso é imperdoável”, referiu Erin Gore, CEO da World Central Kitchen, pouco após o ataque, de “coração partido” e em choque.

Em comunicado, a World Central Kitchen esclarece que o ataque aconteceu ainda que os movimentos tenham sido “coordenados” com as forças israelitas e quando os carros deixavam o armazém em Deir al-Balah, onde tinham sido descarregadas mais de 100 toneladas de ajuda alimentar trazida para Gaza pela rota marítima”.

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Anadolu via Getty Images

Nas redes sociais multiplicam-se as homenagens a Zomi e às outras vítimas, com a ativista e ex-correspondente da ABC no Médio Oriente a lembrar que pessoas assim são “heróis”, culpando os líderes de darem “cobertura aos crimes israelitas” enquanto “os “habitantes de Gaza passam fome”. O jornalista e autor australiano Martin Flanagan recorda que “Zomi Frankcom foi a melhor de nós”.

A ONG foi criada em 2010 pelo chef espanhol e detentor de duas estrelas Michelin, José Andrés, que também reagiu no X. José Andrés pediu a Israel para “acabar com os assassínios indiscriminados” e “parar de usar a comida como arma”, referindo-se às restrições à entrega de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.

Em 2022, a ONG serviu dezenas de milhões de refeições na Ucrânia e mais de 42 milhões em Gaza em 175 dias.

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