Não é uma tradicional casa de madeira, nem na cor nem nas proporções. Toda preta, telhado incluído, a Granary House foi construída no lugar de um antigo espigueiro, com a mesma forma elevada e comprida, típica do Norte de Portugal. É esbelta porque sai ao pai.

Marta Brandão, arquiteta e co-fundadora da empresa de casas modulares Mima Housing, não conseguiu aproveitar nada da estrutura original de pedra, em tempos usada para guardar cereais e “já muito degradada”, mas fez questão de respeitar a área de implantação original. “A forma da casa foi definida por isso”, diz, começando a apresentar este projeto pessoal, feito para uma familiar em Arouca, em parceria com a Mima. Os cerca de 50 metros quadrados iniciais deram lugar a 105 graças à construção de um segundo piso, e no final de 2022 a Granary House (Casa Espigueiro) começou a receber os primeiros hóspedes. Tem capacidade para quatro pessoas e até uma pequena piscina, acessível a partir do terraço.

A pré-existência foi respeitada não só na forma mas também noutros pormenores originais, como as aberturas usadas nos espigueiros para secar os cereais, aqui recriadas em traves de madeira que acabam por ter outra função. “As ripas que revestem a casa nas traseiras, na parte da frente são deslizantes e servem como portadas”, explica a arquiteta. “Se se quiser ter a vista para a natureza desimpedida, podem ser corridas completamente, mas também podem ser usadas quase como um filtro, para controlar o sol e dar privacidade. Acaba por ser uma fachada muito viva e orgânica.”

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De cima a vista também é especial, graças ao telhado em ardósia, típico de algumas aldeias da região como a mítica Drave – “a aldeia mágica” escondida no meio das montanhas e à qual só se acede depois de uma caminhada de quatro quilómetros –, e que aqui acabou por obrigar também a alguma ginástica. “Queríamos que o telhado tivesse um ar envelhecido, por isso andámos com o empreiteiro pela Serra da Freita, a bater às portas e a perguntar às pessoas com casas em ruínas se tinham placas de lousa antigas”, conta a arquiteta. O efeito pretendido é visível nas fotografias: é como se a casa sempre tivesse estado neste lugar.

À exceção da ardósia, é a madeira que impera por dentro e por fora. No exterior, foi aplicada uma velatura preta “para fugir da cabana de madeira tradicional e conseguir um ar mais sofisticado, mais depurado e minimalista”, diz Marta Brandão. No interior, o pinho termotratado na sua cor original é usado na cozinha, nos roupeiros, no tecto e nas janelas panorâmicas. Apesar de estar inserida numa aldeia e de haver uma outra casa de pedra mais acima no terreno, disponível também para arrendar (a Casa Rústica Arouca), da Granary House só se vê verde e é possível ouvir a água do rio Urtigosa, que nasce na Serra da Freita e passa na propriedade.

No piso de baixo fica a zona social, com salamandra na sala, cozinha equipada e um dos quartos, e através de uma escada em caracol acede-se à segunda suíte, mais espaçosa. À chegada, os hóspedes encontram um tabuleiro de boas vindas com os ingredientes do pequeno-almoço: pão fresco, ovos caseiros, fruta da época, leite, sumos, manteiga, doces, aveia e cereais. “Se vier um bebé, deixamos as papinhas”, diz a proprietária, Maria Elisabete Almeida, que conseguiu ainda uma parceria com um restaurante local para entregar na quinta pratos típicos como a vitela arouquesa, nos tradicionais tabuleiros de barro. “São bastantes curvas para cá chegar, afinal estamos no meio das montanhas, e por isso há quem queira ficar sossegado e simplesmente aproveitar a casa”, diz. O ideal é reservar alguns dias – a estadia mínima são duas noites – e deixar tempo para os passadiços do Paiva e a ponte suspensa de Arouca, a terceira mais longa do mundo, que fica a cerca de 20 minutos de carro.

The Granary House

Arouca

250€/noite (estadia mínima de duas noites)

966 491 412

rustic-complex.com

Este artigo foi originalmente publicado na revista Observador Lifestyle, n.º19, lançada em março de 2023.