Com as buscas pelos dois desaparecidos do naufrágio em Troia ainda a decorrer, tendo sido alargadas esta quarta-feira de manhã para uma área de 22 quilómetros, começam a surgir mais informações sobre o dono do barco, que terá sido o único sobrevivente, e sobre a embarcação onde as cinco pessoas seguiam a bordo.
Esta terça-feira, durante uma conferência de imprensa para dar o ponto de situação sobre as buscas, o capitão do Porto de Setúbal, Serrano Augusto, revelou que o “Lingrinhas“, nome de batismo do barco, não estava registado em Portugal, mas sim na Polónia. Esse dado levou a que fosse menos controlado pelas autoridades portuguesas.
“Não tendo um registo nacional, a embarcação não é objeto de vistorias a nível da repartição marítima. Neste caso, ao nível da capitania, quer a de Setúbal ou outra”, disse, citado pela CNN.
Serrano Augusto explicou que, por esta razão, não é possível “averiguar, nesta fase, quais os equipamentos de segurança” que a embarcação tinha, nomeadamente um rádio de alerta de naufrágio.
O “Lingrinhas” chegou às mãos de Manuel Isaías, de 62 anos, em 2021, de acordo com uma publicação do próprio dono da embarcação nas redes sociais. Segundo o capitão do Porto de Setúbal, de acordo com as declarações do timoneiro – que terá ficado três horas agarrado aos destroços do barco até ser resgatado –, a embarcação era de “recreio normal”, não havendo qualquer propósito de “atividade turística”.
Depois de ser tornada pública a informação de que teriam sido cobrados 50 euros aos passageiros para poderem embarcar, o timoneiro terá dito que não cobrou qualquer valor aos tripulantes – um pai e um filho, de 45 e 11 anos, e dois irmãos, de 21 e 33 –, tendo apenas “feito um convite amigável” para “fazer uma atividade de pesca”, sublinhou Serrano Augusto.
No entanto, na sua página de Facebook, que foi entretanto apagada, Manuel Isaías costumava anunciar vagas na embarcação para atividades de pesca, mas sem colocar qualquer valor por pessoa.
Já foram abertos dois inquéritos para apurar as circunstâncias em que ocorreu o naufrágio deste domingo: um a correr no Ministério Público e outro “nas competências do Capitão do porto”.
Os cinco alentejanos saíram na madrugada de domingo para um dia de pesca de polvo – algo que é habitual naquela zona, segundo o capitão do Porto de Setúbal, Serrano Augusto, revelou ao Observador –, mas o naufrágio aconteceu antes de chegarem à zona pretendida, cerca das 7h, quando um golpe de mar os surpreendeu e acabou por virar a embarcação.
De de todos os tripulantes, Francisco Neves, a criança de 11 anos, seria o único com colete salva-vidas vestido, segundo revelou o timoneiro às autoridades, apesar de ser obrigatório que todos os que seguiam a bordo o usassem, tal como determinava a Direção Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos num documento de perguntas e respostas sobre a pesca lúdica, citando o artigo 4.º da Portaria n.º 14/2014 de 23 de janeiro: “Sempre que uma embarcação esteja a exercer a atividade de pesca lúdica, em águas oceânicas, interiores marítimas ou interiores não marítimas sob jurisdição da autoridade marítima, todos os tripulantes estão obrigados a envergar colete de salvação ou auxiliar de flutuação individual.”
Esta quarta-feira foram retomadas as buscas por Ricardo Neves, de 45 anos, e José Caeiro, de 21, tendo as autoridades alargado a área, que vai desde Troia ao Pinheiro da Cruz, cerca de 12 milhas náuticas (aproximadamente 22 quilómetros).
Retomadas buscas para encontrar desaparecidos do naufrágio perto de Troia
Nas buscas por terra estão envolvidas uma viatura de vigilância costeira com drone e uma moto todo-terreno da Polícia Marítima de manhã e, à tarde um drone da Célula de Experimentação Operacional de Veículos não tripulados (CEOV) da Marinha com apoio viatura pick-up Polícia Marítima. Já por mar, estão envolvidas as embarcações salva-vidas de Sines e Sesimbra.