A lista de espera por uma cirurgia nos Açores aumenta há 10 meses consecutivos, tendo atingido os 10.752 utentes em fevereiro, mais 7,8% do que no mesmo mês em 2023, segundo dados da Direção Regional da Saúde. Em resposta, a secretária regional da Saúde e Segurança Social dos Açores, Mónica Seidi, disse que o aumento das listas de espera em cirurgia na região reflete um aumento do acesso à saúde.
De acordo com o boletim informativo mensal da Unidade Central de Gestão de Inscritos para Cirurgia dos Açores, de fevereiro, consultado esta sexta-feira pela agência Lusa e disponível na página da Internet da Direção Regional da Saúde, no fim do mês, aguardavam por uma ou mais cirurgias 10.752 utentes, tendo havido um aumento de 0,2% face a janeiro e de 7,8% face a fevereiro de 2023.
Desde maio que o número de utentes em lista de espera é superior ao verificado no período homólogo. O último boletim informativo mensal tinha sido divulgado no mês de dezembro, com dados referentes ao final de novembro.
O Presidente da República dissolveu o parlamento açoriano em dezembro, convocando eleições antecipadas para 4 de fevereiro, depois de as propostas de Plano e Orçamento da região para 2024 terem sido rejeitadas.
A coligação PSD/CDS/PPM, que governa os Açores desde 2020, ganhou as eleições e o novo executivo, que sofreu poucas alterações, tomou posse em 4 de março.
Segundo os dados mais recentes, o Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, o maior da região, é o que concentra mais doentes em lista de espera para cirurgia nos Açores (6.533). Apesar de ter registado uma descida de 27 utentes (0,4%) face ao mês anterior, apresenta mais 338 (5,5%) do que em fevereiro de 2023.
Já o Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira (HSEIT) tem 2.906 utentes a aguardar por uma cirurgia, o mesmo número do que em janeiro, mas mais 381 (15,1%) do que no período homólogo.
Na ilha do Faial, o Hospital da Horta (HH) conta com 1.313 utentes em espera, mais 49 (3,9%) do que no mês anterior e mais 81 (6,6%) do que em fevereiro de 2023.
Tendo em conta que há utentes inscritos para várias cirurgias, o número de propostas cirúrgicas em espera nos Açores atingiu os 11.975 no final de fevereiro, mais 0,3% do que em janeiro e mais 7,6% do que no período homólogo.
Também o tempo médio de espera por uma cirurgia na região aumentou face a 2023, sendo de 389 dias (cerca de um ano e um mês), mais 28 do que em fevereiro de 2023, mas ainda assim menos dois do que em janeiro.
As três unidades de saúde apresentavam um tempo médio de espera acima dos tempos máximos de resposta garantidos (TMRG) regulamentados, que preveem que uma cirurgia com prioridade normal seja realizada no máximo em 270 dias.
Apenas 54,1% das cirurgias realizadas em fevereiro nos Açores ocorreram dentro do TMRG, mais 1,9 pontos percentuais do que no mesmo mês em 2023.
Apesar do aumento da lista de espera, a produção cirúrgica no Serviço Regional de Saúde dos Açores em fevereiro aumentou, tendo sido realizadas 906 operações, mais 75 (8,9%) do que no período homólogo.
Em comparação com fevereiro de 2023, o número de novas propostas cirúrgicas (1.156) aumentou 13,6% e o número de cancelamentos (220) subiu 15,6%.
A Direção Regional da Saúde publicou também o relatório anual de 2023, que dá conta de um aumento de 961 utentes (9,9%) inscritos para cirurgia e de uma diminuição de 619 cirurgias realizadas, entre o final de 2022 e o final de 2023.
Este relatório, mais pormenorizado, indica que das 11.905 propostas cirúrgicas em espera, no final de 2023, as especialidades com maior peso eram ortopedia (3.332 propostas), cirurgia geral (2.419), oftalmologia (1.768), otorrinolaringologia (1.193) e cirurgia vascular (901).
Os aumentos mais expressivos das listas de espera no ano de 2023 foram registados em otorrinolaringologia (mais 316 propostas), ortopedia (mais 313), cirurgia plástica (mais 198) e cirurgia geral (mais 154).
Quanto aos tempos médios de espera, no final do ano, eram superiores em cirurgia plástica (621 dias), ortopedia (491), cirurgia geral (385), cirurgia vascular (359) e otorrinolaringologia (349).
Governo dos Açores diz que aumento de listas de espera em cirurgia reflete melhor acesso à saúde
Em resposta aos dados da Direção Regional da Saúde, a secretária regional da Saúde e Segurança Social dos Açores, Mónica Seidi, disse que o aumento das listas de espera em cirurgia na região reflete um aumento do acesso à saúde.
“Estes números refletem uma melhoria da acessibilidade à saúde relativamente aos nossos utentes, na medida em que estamos cada vez mais a fazer mais consultas, mais exames e obviamente que o número de diagnósticos terá de aumentar e, consequentemente, de forma indireta, também as indicações para cirurgia”, explicou.
Mónica Seidi disse que “apesar de cada vez serem realizadas mais cirurgias, sobretudo ao nível dos doentes operados dentro dos tempos máximos de resposta garantidos, essa resposta não tem acompanhado o número de doentes que entra”.
A governante do executivo PSD/CDS/PPM destacou a redução do número de cancelamentos, que baixou 30,5% entre o final de 2022 e o final de 2023.
Mónica Seidi realçou, por outro lado, que a percentagem de doentes operadores dentro dos tempos máximos de resposta garantidos aumentou em 6,3 pontos percentuais, no ano de 2023.
Segundo a secretária Regional, entre cirurgia programada, cirurgia urgente e produção acrescida, foram realizadas, em 2023, nos Açores, 26.591 operações, um número só superado pelo de 2022.
Quanto aos planos de execução dos três hospitais, apenas o de Ponta Delgada “produziu mais do que se propôs” no programa CIRURGE, tendo realizado 1.858 cirurgias, quando se tinha comprometido a realizar 1.391, segundo Mónica Seidi.
“O hospital da Terceira e o hospital da Horta não conseguiram, por vários motivos, acompanhar essa tendência e da parte da tutela merecerá uma reflexão junto dos próprios hospitais, dos diretores clínicos e dos próprios diretores do bloco operatório”, adiantou.
Está ainda previsto “um levantamento da severidade das cirurgias”, para compreender se influencia os números. “Já foi pedido, para percebermos se estamos a operar menos, porque os doentes nos chegam por situações clínicas que exigem mais cuidados e isso pode condicionar a rentabilidade dos blocos operatórios”, justificou.