O cinema feito em Moçambique, desde os anos 1970 até à atualidade, abre na quinta-feira um novo ciclo da Cinemateca Portuguesa, em Lisboa, sobre “independências africanas” e em ano de celebrações dos 50 anos do 25 de Abril.

O ciclo intitula-se “Do Cinema de Estado ao Cinema Fora do Estado” e percorrerá as cinematografias de Moçambique, Guiné-Bissau e Angola em três momentos distintos ao longo deste ano.

Coordenado pela investigadora Maria do Carmo Piçarra, o programa arranca com a cinematografia moçambicana, que a curadora considera “referencial no contexto africano”, logo após a independência daquele país.

A primeira sessão, na quinta-feira, apresenta a curta-metragem “O preto”, uma metáfora sobre corrupção, que valeu ao realizador Ivo Mabjaia o Prémio Novos Autores Moçambique em 2021, e a longa-metragem “Mueda, Memória e Massacre” (1979), de Ruy Guerra.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Este filme é considerado a primeira longa-metragem produzida em Moçambique depois da independência (proclamada em junho de 1975) e Ruy Guerra, hoje com 92 anos e radicado no Brasil, esteve na fundação do Instituto Nacional de Cinema do país.

“Mueda, Memória e Massacre”, que cruza ficção e documentário, reconstitui o Massacre de Mueda, ocorrido a 16 de junho de 1960, quando militares portugueses abriram fogo contra centenas de moçambicanos que se tinham reunido na sede da vila de Mueda com a administração colonial portuguesa, para um encontro sobre as injustiças e repressão do sistema colonial.

O massacre mereceu condenação internacional e aprofundou o isolamento do regime colonial português, abrindo caminho a luta pela independência de Moçambique, alcançada em 25 de junho de 1975.

“O modo original como o filme trabalha a dramatização e os depoimentos que a acompanham para evocar um acontecimento traumático que foi um marco histórico da luta anticolonial, torna-a uma obra fundamental da filmografia moçambicana”, afirmou Maria do Carmo Piçarra sobre a obra de Ruy Guerra.

Ainda na quinta-feira, serão exibidos três filmes de Inadelso Cossa: “Xilunguine, a terra prometida” (2011), “Uma memória quieta” (2014) e “Uma memória em três atos” (2017).

Inadelso Cossa, que estará na Cinemateca, faz parte de uma nova geração de realizadores moçambicanos e cuja obra tem ganho maior projeção internacional. Este ano, em Berlim, apresentou o filme “As noites ainda cheiram a pólvora”.

Deste ciclo fazem parte ainda filmes de Lopes Barbosa, Licínio Azevedo ou da realizadora e fotógrafa Moira Forjaz — que também marcará presença em Lisboa.

No dia 20 está prevista uma mesa redonda com José Luís Cabaço, ministro da Informação de Moçambique a partir de 1980, Luís Carlos Patraquim, escritor e argumentista, e os realizadores Camilo de Sousa e Inadelso Cossa.

O ciclo da Cinemateca prossegue em maio dedicado ao cinema da Guiné-Bissau e termina em novembro com o cinema de Angola.