Dois milhões de euros por dia. O Novo Banco obteve lucros de 180,7 milhões nos primeiros 90 dias de 2024, continuando a beneficiar – tal como os outros bancos – da diferença favorável entre os juros cobrados (nos créditos) e os juros pagos (nos depósitos). O presidente executivo do banco reitera que seria “do interesse de todos” encerrar antecipadamente o mecanismo de capital contingente ao abrigo do qual o Fundo de Resolução injetou mais de 3.000 milhões de euros no banco.

Os resultados deste primeiro trimestre, comunicados esta quinta-feira pelo Novo Banco ao mercado, apontam para um aumento de quase 22% nos lucros em comparação com os primeiros três meses do ano passado, em que os resultados tinham ascendido a 148,4 milhões de euros.

A tal diferença entre os juros que o banco cobra nos créditos que concede e aqueles que paga pelo seu financiamento (grosso modo, depósitos) ascendeu a 299 milhões de euros – ao passo que no primeiro trimestre de 2023, a margem financeira tinha ficado em 246,3 milhões.

Em contraste com outros bancos do sistema financeiro português, o Novo Banco conseguiu ter um aumento de 8,8% na cobrança de comissões – para 75 milhões de euros, o que também contribuiu para o aumento do resultado.

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A rentabilidade dos capitais próprios, indicador que os bancos usam normalmente para enquadrar os volumes de lucros, saltou para 17,3% – os bancos passaram vários anos a assinalar que a rentabilidade dos capitais próprios era muito baixa, de apenas um dígito, mas essa realidade mudou nos anos mais recentes graças à subida das taxas Euribor.

“O banco apresentou um sólido conjunto de resultados em linha com as expetativas”, indicou Mark Bourke, presidente da comissão executiva do banco, em comunicado de imprensa. “Continuamos a cumprir consistentemente a nossa estratégia, com crescimento sustentado da atividade e dos resultados, e operações eficientes destinadas a apoiar famílias e empresas, ao longo da sua vida”, afirma o presidente do banco que admite vender parte do capital em bolsa nos próximos meses/trimestres.

“Seria do interesse de todos” acabar com o CCA

O banco não marcou conferência de imprensa para apresentar estes resultados, como tem sido hábito nos últimos anos, mas numa teleconferência com analistas o presidente-executivo reiterou que o banco está interessado em terminar, antecipadamente, o mecanismo de capital contingente cujo fim está previsto para finais de 2025.

É ao abrigo desse mecanismo que o Fundo de Resolução (um organismo público, gerido pelo Banco de Portugal) injetou mais de 3.000 milhões de euros no Novo Banco nos últimos anos, nos termos do acordo de venda ao fundo Lone Star. Nesta fase apenas se prevê que seja necessário injetar mais dinheiro no Novo Banco se houver decisões desfavoráveis (para o Fundo de Resolução) nos vários processos em tribunal que estão em curso.

A questão é que enquanto esse mecanismo (conhecido pela sigla anglo-saxónica CCA) estiver ativo, o Novo Banco está proibido de distribuir dividendos acionistas, o que é algo que vários bancos internacionais e portugueses estão a fazer graças aos lucros mais elevados dos últimos anos. Terminando esse mecanismo, essa proibição de pagar dividendos seria levantada, o que seria decisivo para aumentar o valor do banco – designadamente o valor que teria o banco numa eventual venda de parte do capital em bolsa.

Mark Bourke afirmou, nessa teleconferência, que o banco “não está em negociações de forma ativa” para interromper o acordo de CCA mas não escondeu que “seria bom para todas as partes, para todos os acionistas e para todos os stakeholders” que esse mecanismo fosse eliminado. Além do Lone Star, que tem 75% do banco, o Fundo de Resolução e o Estado português repartem os restantes 25% do capital acionista do Novo Banco.

“Não conseguimos prever” como vai evoluir esse processo nos próximos meses, afirmou Mark Bourke, garantindo que o banco trabalha diariamente no pressuposto de que nada acontece – isto é, que o CCA termina normalmente no final de 2025 – mas seria “positivo para o banco e uma coisa boa para todos os stakeholders” que o acordo existisse para acabar com o mecanismo e desbloquear o pagamento de dividendos.

Bourke acrescentou que num dos tais stakeholders, o Estado, ainda recentemente tomou posse um novo Governo pelo que é necessário esperar mais um pouco para entrar em negociações mais “ativas” que o Novo Banco mostra interesse em ter.