O incêndio que deflagrou na manhã deste sábado no Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, foi dado como extinto por volta das 16h11. As chamas, que terão tido origem num posto de transformação elétrica por volta das 9h20, obrigaram a unidade hospitalar a retirar todos os doentes, cerca de 300, apurou o Observador junto de fonte hospitalar.
O major Rui Andrade, presidente do Serviço Regional de Proteção Civil que adiantou aos jornalistas a hora de extinção do incêndio, informou que nove bombeiros sofreram “ferimentos ligeiros” — queimaduras e intoxicação “ligeira” de fumo — e defendeu que é “completamente prematuro” discutir qual terá sido a origem do incêndio.
Entre os doentes retirados do hospital estão várias pessoas idosas em cadeira de rodas e bebés. A maioria dos doentes foi transferida para os centros de saúde da ilha. Os mais críticos, pelo menos 16, foram levados para o hospital da CUF (em Lagoa). Trata-se de dois bebés que estavam internados na Neonatologia, sete doentes que estavam nos cuidados intensivos, cinco que se encontravam nos cuidados intermédios e dois nos cuidados paliativos, segundo dados de Mónica Seidi, Secretária Regional da Saúde.
A responsável adiantou ainda, ao início da tarde, que a decisão de retirar os doentes foi tomada porque o hospital ficou “sem energia elétrica” e porque existia “presença de fumo dentro do edifício”. Mais tarde, em declarações à Rádio Observador, indicou que seriam transferidos, “em voo comercial”, para a Terceira e para o Faial doentes que precisam de fazer hemodiálise. “Vão cerca de 30 doentes para a Horta e 26 para a Terceira”, afirmou.
Mónica Seidi disse ainda que existe a possibilidade de “transferir duas grávidas que estavam internadas, com situações patológicas que neste momento estão estáveis, mas que potencialmente poderiam vir a desenvolver algum tipo de gravidade”. “Perante isso, poderemos ter a necessidade de transferir para a Madeira, uma vez que [as mulheres] estão estáveis e podemos programar a transferência sem correr riscos de maior”, acrescentou.
Em conversa com a Rádio Observador, a Secretária Regional da Saúde notou que não existe qualquer previsão para o regresso à normalidade do hospital: “Sabemos que é uma avaria irreversível, o quadro elétrico central está totalmente destruído. Quer isto dizer que nas próximas 24 a 48 horas não garantimos o normal funcionamento do hospital. Temo mesmo que esta situação levará garantidamente mais dias.”
A administração do Hospital de Ponta Delgada também já tinha dito que não tinha previsões sobre quando é que a situação ficará normalizada, mas garantiu que vai ser “reposta o mais brevemente possível”. “Ainda estamos a fazer uma inspeção, ainda temos que chegar à zona mesmo crítica do foco de incêndio, para depois termos essa noção, se são dias, se são semanas”, disse a presidente do Conselho de Administração do HDES, Manuela Menezes, citada pela agência Lusa.
Manuela Menezes referiu ainda que os familiares dos doentes internados que se queiram dirigir ao hospital para ter mais informações “deverão deslocar-se ao serviço de Fisiatria”, onde estará “uma pessoa para dar este tipo de informação”. Para além do hospital da CUF na Lagoa, em São Miguel, foram também transferidos doentes para centros de saúde, para a Casa de Saúde de Nossa Senhora da Conceição e para a Clínica do Bom Jesus. Com a ajuda do Exército foram transportados equipamentos tanto para a unidade da CUF como para os centros de saúde.
De manhã, após as chamas terem deflagrado, o hospital acionou o plano de emergência, o que levou ao encerramento do bloco operatório, do bloco de partos e do serviço de urgência. Nessa altura, Mónica Seidi mostrou-se preocupada com a assistência à população da ilha de São Miguel.
“Nestas circunstâncias, o que podemos fazer é abrir, a 24 horas, as unidades básicas de urgência dos centros de saúde da ilha de São Miguel: Ribeira Grande, Nordeste e Povoação e eventualmente Lagoa”, disse a governante regional, acrescentando que os profissionais de saúde do Hospital do Divino Espírito Santo vão dirigir-se para os centros de saúde. Quanto às situações urgentes que afetem a população da ilha, e com a urgência do hospital encerrada, as pessoas serão encaminhadas para o Hospital da CUF, adiantou a Secretária Regional da Saúde.
Os bombeiros de Ponta Delgada estiveram no hospital a combater as chamas. Não há, para já, registo de vítimas. Por razões de segurança, o Hospital pediu à população que evite a ida à unidade de saúde “a não ser em situação de urgência/emergência” e que os visitantes de doentes “não se desloquem” ao hospital “até novas informações”.
Numa nota enviada à Lusa, fonte do gabinete do primeiro-ministro disse que Luís Montenegro “está em contacto com o Presidente do Governo Regional”, José Manuel Bolieiro, para se inteirar da situação. Também a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, está a “acompanhar de perto” a situação, acrescentou.
Ainda este sábado, o Sindicato Independente dos Técnicos Auxiliares de Saúde (SITAS) manifestou-se solidário com a situação dramática vivida em Ponta Delgado, e destacou a forma exemplar no auxílio e retirada dos doentes. Num comunicado de imprensa assinado pelo dirigente do SITAS/Açores, João Mota, o sindicato envia a todos os técnicos auxiliares de saúde do Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), a maior unidade de saúde dos Açores, e a todos os profissionais de saúde “toda a sua solidariedade” pela situação dramática que passaram hoje. O SITAS destacou a “união entre todos os técnicos auxiliares de saúde” que, “de forma notável e exemplar”, ajudaram os doentes e a “evacuação total do HDES, garantindo a segurança durante todo o processo de evacuação, de forma célere”.