A Marinha está a considerar “bastante” a possibilidade de poder “entrar em operações reais”, pelo que “encara” o futuro “numa perspetiva de maior prontidão”. Henrique Gouveia e Melo, chefe do Estado Maior da Armada, fez estes avisos este domingo em Aveiro, dizendo ser necessário preparar as forças armadas para o que aí vem, nomeadamente preparando as reservas materiais e humanas.
“Na perspetiva da Marinha importa perceber que, pela primeira vez em muitos anos, a possibilidade de poder vir a entrar em operações reais é bastante considerada”, havendo, pois, “a necessidade de apressar o aprestamento dos navios, reforçar o treino e preparar as reservas, sejam materiais ou humanas. Vamos viver tempos difíceis com elevada tensão e incerteza que nos obrigarão a encarar o nosso futuro numa perspetiva de maior prontidão”.
Sublinhando não pretender ser “pessimista ou alarmista”, acrescentou, num discurso em Aveiro, onde a Marinha recebeu a medalha de ouro do município, que “a dissuasão é certamente a melhor estratégia e o reforço do nosso espírito anímico para cumprirmos com os deveres que nos são exigidos será posto à prova. Tenho a certeza que a marinha portuguesa essencialmente a sua componente humana estará à altura dos acontecimentos, esteja Portugal também à altura deles”.
“Os tempos que se avizinham são perigosos, ignorá-los não é uma opção, estamos perante um momento em que dois pilares, a nossa segurança e prosperidade, NATO e União Europeia, poderão vir a ser submetidos às maiores provações e testes de stress” e Portugal “deverá ter em conta que na sua posição geoestratégica, apesar de aparentemente afastada da linha da frente de batalha, não poderá ignorar as tempestades que se aproximam”.
Gouveia e Melo pede reação da sociedade e que saia “do estado de comodismo e de indiferença e de uma certa preocupação inconsequente em que nos encontramos”. E clama que se ponha em marcha “um plano efetivo”.
“A defesa dos nossos interesses, as nossas vidas exige mais do que nunca uma atitude ativa e vigilante. Anseio que a Europa e Portugal, à dimensão dos nossos interesses, perscrutemos o horizonte, colocando em marcha um plano efetivo, percebendo que o conflito tampão da Ucrânia é decisivo para a segurança europeia”, e, por isso, é “importante desenvolver rapidamente um forte complexo militar e industrial europeu, olhar para o sistema de recrutamento e conscrição [por regra associado ao serviço militar obrigatório] generalizada e prepararmo-nos para reforçar de vez o pilar europeu da NATO.
As declarações de Gouveia e Melo sobre o serviço militar obrigatório têm vindo a suscitar algum debate público. Primeiro, em artigo de opinião no Expresso, em março deste ano, defendeu que este tipo de recrutamento poderá ter de ser reequacionado. Para mais tarde explicar que “o modelo antigo [do Serviço Militar Obrigatório] é precisamente isso, o modelo antigo. Tem que se encontrar uma nova resposta. Isso não é algo que se encontre amanhã, tem que ser discutida, tem que ser uma resposta que o poder político aceite, que a população aceite, porque só todos nós em conjunto podemos dar uma resposta que seja uma resposta do próprio país”, explicou em abril.
Gouveia e Melo rejeita antigo Serviço Militar Obrigatório e pede “nova resposta” consensual
Explicou, novamente, em Aveiro as suas preocupações. “O chapéu protetor dos EUA será posto em causa não só por Donald Trump como pelos desafios que os EUA enfrentam no Pacífico. Não havendo espaço para cooperar, na Europa dissuadir será sempre melhor e mais económico que combater. É tempo de perceber que não haverá manteiga nas nossas mesas sem canhões que as garantam”.