A campanha de pesca do atum-rabilho começou esta semana no Algarve com a captura de 100 peixes, o maior deles com 330 quilos, numa armação de pesca a quatro quilómetros a sul da Ilha de Tavira.
“Foi um dia que nos correu bem. Esperamos que seja um presságio para o resto da campanha. Pescámos 100 atuns, a maior parte deles sempre com pesos superiores a 200 quilos. Um que se destacou em particular, porque pesava 330 quilos”, disse Miguel Socorro, diretor-geral da Real Atunara, à agência Lusa.
A Real Atunara e a Tunipex são as duas empresas que em Olhão se dedicam à pesca do atum-rabilho seguindo o método secular da almadrava, uma armação de pesca, ou arte de pesca sustentável, que, em oposição ao arrasto, evita a destruição do fundo do mar e que respeita a preservação da espécie.
A agência Lusa acompanhou a primeira operação de captura em 2024 do conhecido atum-rabilho, na armação do Barril, a cerca de quatro quilómetros a sul da Ilha de Tavira, no distrito de Faro.
O dia começou às 06h30 no Porto de Pesca de Olhão com a chegada e preparação de uma equipa de cerca de 30 pessoas a dois barcos, que pouco depois iniciaram a viagem de cerca de 15 quilómetros até à armação de pesca.
A almadrava — do árabe almadraba, que junta “alma”, que significa lugar e “darab”, que significa luta — é, neste caso, uma estrutura suportada por âncoras e cabos, composta por redes verticais que criam um sofisticado labirinto, uma armadilha que apanha o atum-rabilho que viaja em direção do Mediterrâneo.
Esta arte de pesca existe há mais de 3.000 anos e em 1898, segundo os historiadores, chegou a haver 18 armações na costa algarvia. Mas, nos anos cinquenta do século passado, a crise da pesca do atum no Algarve ditou o quase desaparecimento desta técnica.
A temporada da almadrava decorre normalmente entre maio e setembro. Em maio, o atum-rabilho migra das águas frias do Atlântico para as águas mais quentes do Mediterrâneo para desovar, passando pelo Estreito de Gibraltar. A partir de julho, a espécie faz o seu percurso de regresso ao Atlântico.
Questionado pela Lusa sobre as dificuldades associadas a este tipo de operação, o capitão da armação e mestre do barco principal, Rui Ornelas, contou que depende das condições do mar, admitindo que às vezes pode ser complicado.
“[…] Porque isto não é um trabalho em terra com o chão estável, mas tem um movimento. Mas desde que esteja tudo estruturado e organizado, as coisas são sempre iguais, são sempre repetitivas. Portanto, não há muita dificuldade”, afirmou Rui Ornelas, antecipando esperar uma boa época e que se atinja a quota definida para a captura de atuns.
Segundo Miguel Socorro, este ano, a Real Atunara vai poder capturar 220 toneladas de atum, operação que envolve uma equipa de 35 pessoas, fundamentalmente composta por marinheiros, mestres e maquinistas da sua frota de embarcações e uma equipa de mergulhadores.
Depois de anos de excessos de captura que ditaram uma redução assinalável das existências da espécie no mar, a pesca de atum foi regulada, para reconstituir o ‘stock’, tendo a pesca do atum-rabilho passado a ser uma operação sustentável, respeitando o ciclo natural dos animais e cumprindo as recomendações do ICCAT (International Commission for the Conservation of Atlantic Tunas) e as diretivas da União Europeia.
“É uma mercadoria que 100% vai ser exportada e vai seguramente fazer as delicias dos chefes mais exigentes, que só trabalham com produtos de primeira qualidade”, afirmou, ainda, o diretor-geral da Real Atunara.
À hora do almoço, as duas embarcações regressaram ao porto de Olhão, onde tinham à espera dois camiões TIR, que transportaram os 100 atuns para clientes em Espanha.
O atum-rabilho faz parte da gastronomia tradicional de vários países, e muito particularmente no Japão, com a sua popularidade e o seu preço a crescer constantemente, sendo considerado uma jóia culinária, cobiçada por cozinheiros de grandes restaurantes e apreciada por consumidores em todo o mundo.