Mais de quatro em cada cinco encarregados de educação que responderam a um inquérito sobre o projeto-piloto do Ministério da Educação para introduzir manuais digitais nas escolas estão insatisfeitos e defendem o fim do programa.

“Globalmente, 85% dos encarregados de educação estão insatisfeitos com o projeto-piloto manuais digitais (PPMD) e gostariam que o mesmo terminasse. Apenas 15% têm, em 2024, uma perceção positiva”, lê-se nas conclusões do inquérito.

Realizado pelo Movimento Menos Ecrãs, Mais Vida, que já pediu uma audiência ao Ministério da Educação, Ciência e Inovação, o estudo resulta de 462 respostas, provenientes de escolas de quase 70 localidades, de norte a sul do país e ilhas, com representação do 3.º ao 12.º ano.

Segundo o estudo, 90% dos encarregados de educação dizem preferir os livros em papel por permitirem uma maior concentração dos alunos e apenas 8% preferem os manuais digitais.

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Mais de metade (51,1%) dos inquiridos dizem que os seus educandos aprendem pior quando estudam com manuais digitais porque retêm menos informação e quase um terço (33%) continuam a comprar os manuais em papel.

Dois em cada cinco (41,3%) dizem que os alunos se distraem com a Internet, nomeadamente com vídeos, jogos e redes sociais, e 34% relatam que os educandos não gostam de estudar por manuais digitais.

O Movimento Menos Ecrãs, Mais Vida alerta ainda que metade dos encarregados de educação nunca testou se o equipamento utilizado pelo aluno tem filtros que impeçam a visualização de conteúdos para adultos e, dos que testaram, 14% referem a inexistência desses filtros.

O movimento lembra que PPMD, que visa a substituição dos manuais escolares em papel por suporte digital, vai no seu quarto ano de aplicação e abrange atualmente mais de 23.000 alunos do 3.º ao 12.º ano, de 160 escolas-piloto.

Embora todos os anos os envolvidos preencham inquéritos oficiais sobre o projeto, o movimento lamenta que desde 2021 não haja informação oficial sobre as perceções de encarregados de educação, professores ou alunos, razão que levou à realização do inquérito agora divulgado.

“Ao fim de quatro anos, é difícil encontrar quem tenha opiniões positivas sobre o PPMD”, alerta o movimento, numa carta enviada ao ministro da Educação, Ciência e Inovação, Fernando Alexandre.

Constituído em janeiro por quatro mães professoras, o movimento está também a promover um inquérito junto dos docentes, que segundo os dados recolhidos até agora revelam “uma esmagadora maioria de docentes insatisfeitos com o PPMD”.

O Movimento Menos Ecrãs, Mais Vida quer sensibilizar e informar sobre os malefícios da exposição excessiva a ecrãs na infância e adolescência, nomeadamente “o retrocesso intelectual, os malefícios para a saúde e uma certa desumanização provocada pelo uso excessivo da tecnologia pelas crianças”.