O Hospital de São João, no Porto, implementou um protocolo de telemonitorização de doentes cirúrgicos graves que inclui a vigilância através de um aparelho sem fios e com sensores que gera alertas quando a situação clínica agrava.
“Identificando precocemente possíveis complicações, evitamos que os doentes, quando pioram, desçam para os cuidados intensivos já em fase crítica”, disse à agência Lusa a diretora clínica para os Cuidados Hospitalares da Unidade Local de Saúde de São João (ULSSJ), Elisabete Barbosa.
É colocado um aparelho em doentes internados em enfermaria que não têm critérios de gravidade que justifique internamento numa unidade de cuidados intensivos ou intermédios, mas que se sabe que, quer seja por complicações decorrentes da cirurgia, quer seja por comorbilidades associadas, podem agravar.
Este aparelho — que “não substitui o enfermeiro e a vigilância humana”, salvaguardou o diretor de Medicina Intensiva da ULSSJ, José Artur Paiva — monitoriza dados como a frequência cardíaca, a frequência respiratória, a saturação de oxigénio, a temperatura axilar e a tensão arterial, gerando alertas que são visionados na consola dos profissionais de saúde e na sala de enfermagem.
À Lusa, Elisabete Barbosa adiantou que no futuro se espera que os dados também possam ser vistos nos telemóveis de serviço.
Os aparelhos não têm fios e são resistentes à água, permitindo ao doente tomar banho e deslocar-se com eles.
“Se um enfermeiro for visitar o doente que está em enfermaria [nível de cuidados 0 ou 1 que antecede os intermédios, 2, ou os intensivos, 3] de duas em duas horas, o que se passa nesse intervalo está dependente da descrição do próprio doente. Se o doente não estiver capaz, esta tecnologia adiciona valor (…) e quando o doente vai, por exemplo, fazer exames, continua monitorizado”, destacou José Artur Paiva.
Além da introdução desta monitorização em tempo real, o protocolo criado inclui procedimentos que visam melhorar a comunicação e discussão clínica entre a Cirurgia Geral e a Medicina Intensiva, para facilitar a definição da estratégia clínica e agilizar, se necessário, as transferências.
“A monitorização permite identificar precocemente o agravamento, evitando a fase critica e pode até nem chegar a ingressar de forma urgente nos cuidados intensivos”, explicou Elisabete Barbosa sobre um protocolo criado em fevereiro e que “tem mostrado muitas vantagens”.
No Hospital de São João foi criada uma equipa dedicada a este protocolo, com um médico intensivista e um médico de cirurgia geral sempre disponíveis.
Em caso de alerta, esta equipa é ativada e decide os próximos passos em conjunto.
Antes, identificada a complicação, ou seja o agravamento do estado clínico, o doente ia para a sala de emergência e era aí que era avaliado.
“Em 50 e 60% dos casos o médico acha preferível vir para intensivos. Nos outros 40% pode considerar que não há necessidade de ir para intensivos, mas desde logo há uma conversa que permite melhorar o plano estratégico. O processo é sempre ganhador. Não nos importa nada ter ido lá [à cirurgia geral] e que uma parte dos doentes não tenha critérios de vir. Importa-nos que não nos escape nenhum que tenha critérios de vir [para os cuidados intensivos”, concluiu José Artur Paiva.