Está inaugurada a melhor altura do ano para os fãs de ciclismo. A Volta a França marca o início de um verão repleto de desporto velocipédico. Como não podia deixar de ser, a grande partida voltou a acontecer no exterior do território francês, com Itália a abrir as hostilidades pela primeira vez. Esse era uma das primeiras particularidades de um Tour que se espera atípico.

Ao contrário do que é tradicional, a chegada deste ano da Volta a França não acontecerá em Paris, por motivos de segurança que se prendem com a realização dos Jogos Olímpicos. Para o fim está reservado um contrarrelógio entre o Mónaco e Nice, que poderá ser essencial para as contas finais da prova. Para os especialistas, este poderá ser o melhor Tour de sempre, já que tem presentes os quatro melhores voltistas da atualidade, conhecidos como canibais: Tadej Pogacar, Jonas Vingegaard, Primoz Roglic e Remco Evenepoel. Contudo, os três últimos caíram na Volta ao País Basco e a sua forma física é uma incógnita. Em sentido inverso, o esloveno da UAE Emirates vem de triunfar na Volta a Itália e quer fazer dobradinha, algo que não acontece desde 1998, com Marco Pantani.

Uma queda arrepiante que pode marcar toda a época: Vingegaard fratura clavícula e costelas e fica com Tour em risco

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

João Almeida estreia-se na Grande Boucle e é um sério candidato a terminar no top 10. Apesar de estar ofuscado por Pogacar e pelos quatro grandes, o português aparece na segunda linha do pelotão e pode ter liberdade na Emirates para lutar por uma vitória de etapa. “Nunca fiz a Volta a França, acho que é diferente das outras grandes Voltas. É a maior prova do ciclismo. Mas, sinceramente, hoje em dia, as corridas são tão disputadas e tão difíceis todas que, no fundo, é só mais uma corrida. Espero estar bem. É um sonho realizado, sem dúvida”, partilhou o corredor à agência Lusa. A par de Almeida, Rui Costa, que já venceu três etapas do Tour e é o atual campeão nacional de fundo, e Nelson Oliveira completam o contingente português.

A 111.ª edição da Volta a França é ainda especial para Romain Bardet. O francês da dsm-firmenich vai terminar a carreira em junho de 2025, pelo que esta será a sua última presença no Tour. Nos últimos anos, o trepador assumiu-se como uma das grandes aspirações francesas à conquista da prova, mas o máximo que conseguiu foi um segundo lugar, em 2016. Sem o reformado Thibaut Pinot e Julian Alaphilippe, que está a preparar os Jogos Olímpicos, Bardet volta a assumir-se com a figura de proa dos franceses nesta edição.

Ciclista francês Romain Bardet anuncia fim da carreira em estrada em 2025

Outra das grandes história desta Volta a França prende-se com a presença de Mark Cavendish. Aos 39 anos, o britânico está de regresso à competição onde mais foi feliz com um único objetivo: somar a 35.ª vitória e destronar o mítico Eddy Merckx no número de vitórias em etapas. Dado o percurso montanhoso, que o próprio considerou “o mais duro de sempre”, a tarefa não se perspetiva fácil, mas com uma equipa feita à sua medida, as oportunidades não vão voltar.

Com partida de Florença – local onde Rui Costa se sagrou campeão do mundo – e chegada a Rimini, a primeira tirada contou com sete contagens de montanha e colocou desde logo os homens da geral à prova. Contudo, os incidentes aconteceram ainda antes da partida, com Jan Hirt (Soudal-QuickStep) a proporcionar a primeira queda desta edição, quebrando três dentes ao ser atingido pela mochila de um adepto. Com a etapa em andamento, o calor acabou por causar dificuldades ao pelotão e Cavendish (Astana) foi um dos mais afetados, acabando por ficar para trás ainda na primeira subida.

A desvantagem acabou por ser gerida com pinças e não resultou em males maiores, mesmo com o companheiro Michele Gazzoli a proporcionar o primeiro abandono desta Grande Boucle. Mais à frente, o pelotão também controlou a vantagem da fuga, que chegou a contar com nove elementos, contando com o trabalho da EF Education-EasyPost, de Rui Costa, e da Emirates. Contudo, a 50 quilómetros do fim e na antepenúltima subida do dia, Bardet saltou do pelotão e juntou-se a Valentin Madouas (Groupama-FDJ) e Jonas Abrahamsen (Uno-X Mobility) na frente da corrida, contando com a ajuda do companheiro Van den Broek. Ben Healy (EF Education-EasyPost) também tentou sair do pelotão, embora sem o mesmo sucesso.

Na parte final da corrida, a equipa de Rui Costa assumiu a perseguição ao grupo da frente, que acabou por ficar reduzido aos corredores da dsm-firmenich, mas a vantagem teimou em não desaparecer. Na reta da meta, o português ainda tentou fechar o espaço, mas Bardet conseguiu mesmo triunfar e vestir a primeira amarela deste Tour. Os pelotão chegou cinco segundos depois, não havendo diferenças entre os canibais que perderam assim a primeira oportunidade de medirem forças. Rui Costa (39.º) e João Almeida (43.º) também chegaram no grupo principal, ao passo que Nelson Oliveira (64.º) perdeu quase 19 minutos.