Os treinos livres não tinham sido os melhores apesar de ter ficado sempre a ideia de que era possível corrigir alguns pequenos pontos para colocar a mota a rodar mais próxima das outras Aprilias, depois a qualificação confirmou esse cenário mais complicado com um modesto 17.º lugar na grelha de partida. Miguel Oliveira tem vindo a recuperar aquela “fiabilidade” em pista que o colocou como destaque quando conseguiu subir ao MotoGP, onde podia rodar mais ou menos rápido mas garantia quase sempre corridas completas e pontos, mas até pelo contexto que enfrenta em termos presentes e de futuro necessitava de mais. Um “mais” que não chegou na sprint, onde foi 12.º sem pontos. Um “mais” que queria atingir agora na corrida em Assen.

Miguel Oliveira é 12.º em Assen num dia em que só Pecco Bagnaia gritou (e ganhou)

“Foi um pouco melhor a sprint. Foi a melhor moto que até ao momento este fim de semana pilotei e vês imediatamente o salto qualitativo. Isso é bom, bom de se sentir. O ritmo foi razoável, de onde arranquei não foi claro fantástico mas nos 31 segundos como o Pecco [Bagnaia] está a fazer. Seja como for, foi bom para estar lá próximo ao top dez. Consegui estar ali até à última volta mas depois vi a bandeira amarela e decidi abrandar, depois veio a verde. Pensei em demasia, travei demais na última chicane – porque tinha um aviso por exceder os limites da pista –, tive de fazer super lento e o [Marco] Bezzecchi e o [Pedro] Acosta ultrapassaram-me na linha da meta. Foi uma chatice, sem pontos, mas ao menos conseguimos alguns dados para amanhã e vamos tentar melhorar um pouco mais a moto”, referiu, citado pela Motorcycle Sports.

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“Hoje [sábado] a questão da capacidade de curvar foi corrigida mas tivemos muitos problemas com a movimentação da mota em curvas a alta velocidade, nas muito más, mas a equipa resolveu isso para a sprint e agora queremos dar mais um passo em frente e ver onde podemos ganhar tempo”, acrescentou, antes de chegar a confirmação de que a Aprilia teria menos uma opção com a desistência de Aleix Espargaró.

Em paralelo com os resultados em pista, Miguel Oliveira preparava também aquilo que poderá ser o futuro no MotoGP. “Manter a atual equipa? Não sei, talvez metade. No sentido em que estamos a falar com ambos, com o Raúl [Fernández] e com o Miguel, para ver um bocado. A prioridade é trabalhar com eles, tentar mantê-los. Não é tudo fácil mas não é um dado adquirido que os mantenhamos. Depois disso veremos o que acontece. Sinceramente acredito que com o Raúl há mais possibilidades, estamos a falar com o Miguel para ver se conseguimos criar uma situação para ele da qual ele goste”, apontou Davide Brivio, chefe da Trackhouse Racing, em declarações à Sky Sport. Sem “confirmações”, o italiano admitia que o português estava (e está) em conversações com outras equipas numa fase em que Joan Mir e Joe Roberts têm vindo a ser apontados como possibilidades para a formação norte-americana que faz estreia este ano no Mundial.

Neste particular, os resultados que o português fosse capaz de alcançar nesta segunda fase da época, que teve uma paragem de quase um mês antes do Grande Prémio dos Países Baixos, podiam ser determinantes para encontrar melhores ou piores condições para ficar na Trackhouse ou para rumar a outra equipa, numa semana em que se falou muito na possibilidade de poder reforçar a Pramac que vai deixar a Ducati e passar a trabalhar como a Yamaha. E era por isso também que o objetivo voltava a centrar-se no top 10, numa fase em que o piloto de Almada começava numa modesta 15.ª posição do Mundial a um ponto de Raúl Fernández.

O arranque, que teve Pecco Bagnaia a disparar na frente tendo Jorge Martín e Maverick Viñales como os dois principais adversários diretos, foi marcado sobretudo pelo voo disparado de Álex Rins na primeira curva (que não teve aparentes problemas físicos da queda). Já Miguel Oliveira conseguiu ganhar duas posições logo na volta inicial, passando de 16.º para 14.º atrás de Quartararo. Raúl Fernández, companheiro de equipa do português, tentava estabilizar na décima posição havendo ainda o destaque de Pedro Acosta que, após um dia e meio com algumas dificuldades de adaptação, conseguia ir rodando no quinto posto. Ainda nas voltas iniciais, Marco Bezzecchi, que perseguia Oliveira (que subiu a 13.º), perdeu mesmo a frente e caiu.

Pecco Bagnaia dominava por completo, Martín tentava não perder mais tempo, Marc Márquez alcançara na terceira posição Maverick Viñales, Fabio Di Giannantonio subia a quinto com um ritmo incrível. Mais atrás, havia um duelo particular entre Miguel Oliveira e Fabio Quartararo pelo 13.º lugar, sendo que um pouco à frente Jack Miller ia perdendo algum tempo. Os grandes destaques da prova começavam a fixar-se na luta pelo terceiro lugar, com Di Giannantonio a passar para a frente de Marc Márquez, Viñales e Acosta, e na baralha pelo sétimo posto que contava com Enea Bastianini, Álex Márquez e Brad Binder. Joan Mir caiu.

A 14 voltas do final, Miguel Oliveira, que tentava forçar andamento para se aproximar de Quartararo, ficou com o aviso de limites de pista (até aí só Marc Márquez tinha), vendo-se a partir daí mais condicionado nessa perseguição ao piloto francês. Condicionado e… penalizado: depois de passar mais uma vez os limites, teve de fazer uma long lap que valeu a descida de algumas posições apesar de Augusto Fernández estar ainda muito longe. A corrida estava “fechada” para o português, que caía para fora dos lugares pontuáveis. Como um mal nunca veio só, saiu das linhas e teve de cumprir mais uma sanção, com mais de 15 segundos perdidos no meio de toda esta confusão que confirmou esta espécie de lei de Murphy que não deixa o piloto nacional.

Maverick Viñales aproveitou uma sucessão de erros que colou de vez Enea Bastianini aos primeiros para ir para a terceira posição numa corrida que mais à frente não tinha história, perante o total domínio de Pecco Bagnaia e a incapacidade de Jorge Martín fazer algo mais que não fosse segurar o segundo posto. Já Miguel Oliveira passava Nakagami e subia a 16.º já mais estabilizado depois de mais uma série de azares que foram marcando a corrida. Para se ter noção, quando passou o japonês, o português estava a ganhar 1,5 segundos a Johann Zarco, que seguia em 15.º, mas acabou por entrar nos pontos depois da queda de Pedro Acosta. Já Enea Bastianini, numa luta que andou sempre ao rubro, terminou mesmo no último lugar do pódio.