A duas semanas do debate sobre o Estado da Nação, o líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, antecipou o confronto com a oposição. Por entre duras críticas dirigidas também ao PS, o líder da bancada social democrata focou-se sobretudo no Chega, que classificou repetidamente como um partido de extrema-direita, e comparou-o a Bloco de Esquerda e PCP, porque “os extremos são iguais”, orgulhando-se de o PSD “nunca ter saltado o muro, nem para um lado nem para o outro”.

Numa altura em que se discute se o PSD conseguirá o apoio de PS ou Chega para aprovar o próximo Orçamento do Estado, Hugo Soares assegurou que o “não é não” ao partido de André Ventura se mantém. Na declaração de arranque das jornadas parlamentares do PSD, em Sintra, Soares detetou uma “questão de regime” que o deixa “manifestamente preocupado”: “Quem por norma usa a força da rua como força de pressão são BE e PCP. Os extremos tocam-se mesmo, até nas questões de soberania. É o Chega a pedir às forças de segurança que se possam manifestar e cercar o Parlamento e ocupar as galerias do Parlamento”.

Neste contexto, em que assegurava que o Governo está a propor um bom aumento (cerca de 300 euros) às forças de segurança que qualquer setor “não hesitaria” em aceitar — e duvidando de que sejam os próprios profissionais da PSP e da GNR a rejeitá-lo — Soares prosseguiu. “Quando dizemos que os extremos são iguais temos mesmo razão. Podemos orgulhar-nos: nunca saltámos o muro nem para um lado nem para o outro, e o PS saltou para o lado dos extremistas, que apoiaram a invasão da Ucrânia pela Rússia”. O PSD distingue-se assim também do PS colocando-se naquilo a que chama o “centro moderado e de bom senso”, ponto de lado “extremismos e exageros” e focando-se nos problemas concretos da população.

PS e Chega querem “nivelar por baixo”

Antes, Soares já tinha juntado PS e Chega no mesmo saco para atirar outras críticas, lembrando os momentos em que a oposição se juntou contra o Governo no Parlamento, como a aprovação da baixa de IRS nos moldes que o PS tinha proposto: afinal, o PSD “esbarrou na intransigência” de que não queria “efetivamente “diálogo” e não conseguiu baixar como queria os impostos à classe média, garantiu — e isso é “uma diferença abismal, todo um mar que nos distingue”. “O PS e o Chega querem mesmo nivelar a sociedade por baixo. Entendem que é na base da dependência do Estado que podem fazer crescer as suas clientelas”, disparou.

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No caso da eliminação das portagens das ex-SCUT, outra proposta que PS e Chega também ajudaram a viabilizar, mais críticas: o PSD não leva “lições de ninguém” sobre cuidar dos territórios de baixa densidade; a proposta aprovada, do PS, faz uma redução “seletiva” e esquece os cidadãos das grandes cinturas urbanas; e o Chega promete acabar com todas as portagens, mostrando “imaturidade e falta de bom senso”.

Na Saúde, mais críticas à oposição: se o PS quer que o PSD mude o estado do SNS em tão pouco tempo, está a fazer uma “confissão de culpa” sobre os seus erros de governação. No plano ferroviário, que os socialistas querem discutir no Parlamento, idem: “Mas então quem é que tutelou as infraestruturas se não o secretário-geral do PS? O que é que esteve a fazer no Governo?“, perguntou, referindo-se a Pedro Nuno Santos.

Na questão dos aumentos pedidos pelas forças de segurança, Soares defendeu ainda a proposta faseada do Governo e justificou: “O Governo foi onde podia ir, mas o partido da extrema-direita entende que é pouco e algumas associações também. Não sei se os elementos da PSP e GNR se reveem na atitude das associações e sindicatos”.

Contas feitas, apesar de esta ser uma “legislatura atípica” em que as dificuldades políticas se concentram no Parlamento, como resumiu Hugo Soares, no que depender do PSD o país pode estar “tranquilo”. Ou seja, o ónus da agitação e da instabilidade volta a ser passado para a oposição. Esse discurso deverá chegar também ao Estado da Nação, que, como Soares justificou preventivamente, ocorre “em circunstâncias muito especiais”, em que o estado do país ainda é muito dominado pelo “histórico acumulado de um governo socialista”.