Os eleitores franceses deram na noite de domingo uma vitória clara à esquerda, desferindo um golpe nas ambições da União Nacional, de Marine Le Pen, que tinha saído vencedora da primeira volta das eleições legislativas. A Nova Frente Popular (coligação de esquerda que reúne a França Insubmissa, socialistas, ecologistas e comunistas) foi o grupo mais votado numas eleições que bateram recordes de afluência às urnas e que deixam, agora, um parlamento muito fragmentado.

Com os votos todos contados, de 577 círculos eleitorais, os resultados mostram a NFP como a vencedora, conseguindo eleger 182 deputados. A coligação Ensemble, que incluiu o partido Renascença do Presidente Emmanuel Macron, surge em segundo lugar, com 168 deputados, e a extrema-direita com 143 deputados. Os Republicanos conseguem 45 lugares.

Preenchidos os 577 lugares da Assembleia Nacional da França, um para cada um dos seus distritos eleitorais, nenhum partido conseguiu assegurar uma maioria absoluta. Para isso seriam necessários 289 deputados. Nas eleições anteriores, por exemplo, a aliança de Macron não tinha passado dos 250 e precisava, por isso, do apoio de outros partidos para aprovar leis.

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Quem foi eleito e quem ficou fora da Assembleia Nacional?

Há vários rostos de regresso à Assembleia Nacional, mas muitos outros ficaram de fora. À esquerda, o destaque vai para o antigo Presidente francês François Hollande, que foi eleito com 37,63% dos votos contra os 30,89% do candidato de extrema-direita. Já tinha ocupado um lugar na Assembleia Nacional como deputado socialista entre 1988 e 1993, e novamente de 1997 a 2012. Torna-se agora o segundo ex-chefe de Estado a ter assento na Assembleia Nacional, depois de Valéry Giscard d’Estaing (1984).

Destaque também para alguns deputados que recentemente mudaram de partidos e acabaram eleitos. É o caso de Aurélien Rousseau, antigo ministro da Saúde macronista que abandonou o cargo no inverno passado em protesto contra a polémica lei da imigração. Foi eleito deputado pela primeira vez, mas pela Nova Frente Popular.

Entre os 168 deputados que a coligação de Emmanuel Macron conseguiu assegurar consta, por exemplo, o primeiro-ministro, Gabriel Attal, que esta noite anunciou a sua demissão, e o ex-primeira-ministra Elisabeth Borne, que se demitiu em janeiro deste ano depois da crise gerada dentro do próprio executivo pela aprovação da lei da imigração. Também chegam a deputados vários membros do governo cessante, como Gérald Darmanin, ministro do Interior, e Stéphane Séjourné, presidente do Renascença e atual ministro dos Assuntos Europeus.

Ainda assim, vários ministros de Macron não conseguiram assegurar os votos necessários para chegar à Assembleia Nacional e saíram derrotados por candidatos da NFP. À frente do ministério da Transformação e Serviços Públicos, Stanislas Guerini, foi ultrapassado pelo candidato ecologista Léa Balage El Mariky, que em 2022 tinha derrotado por uma pequena margem. Também Sarah El Haïry, que liderava o ministério da Crianças, Jovens e Famílias, perdeu para o socialista Fabrice Roussel.

Quem não assegurou lugar como deputada foi Marie-Caroline Le Pen, irmã de Marine Le Pen. Falhou a eleição pelo círculo de Sarthe, embora por uma ligeira margem, sendo superada pela candidata da Nova Frente Popular, Elise Leboucher, com 50,23% dos votos. A mais velha das três filhas de Jean-Marie Le Pen tinha ficado à frente na primeira volta, com 39,26%. Elise Leboucher (que teve 25,94% na primeira volta) parece ter beneficiado da desistência da candidata do Ensemble, que tinha ficado em terceiro lugar, a apenas 35 votos de distância.