O risco de problemas de saúde mental e os sintomas de burnout são maiores nos trabalhadores da saúde, que pedem formação das chefias em liderança humanizada, segundo dados do Laboratório Português de Ambientes de Trabalho Saudáveis (LABPATS).

Os dados constam de um estudo que vai ser apresentado na quarta-feira na Ordem dos Médicos e que analisou mais de 2.100 trabalhadores da área da Saúde, entre enfermeiros, médicos, assistentes operacionais, técnicos superiores, farmacêuticos, psicólogos, administrativos e gestores.

A coordenadora deste trabalho, Tânia Gaspar, que lidera o LABPATS, recorda que a situação se tinha agravado após a pandemia, depois estabilizou, mas não se conseguiu ainda recuperar para valores pré-Covid-19.

Tânia Gaspar, que já tinha liderado o estudo nacional sobre ambientes de trabalho saudáveis em diversas áreas laborais — divulgado em maio — diz que os valores recolhidos “são preocupantes”.

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“Precisamos de ação urgente. Aquelas pessoas que achavam que depois da pandemia podiam não fazer nada e que as coisas iam por si voltar ao normal, está provado que não está a acontecer”, alertou a especialista, lembrando que os profissionais começam a “desligar”, que “o vestir a camisola tem diminuído” e que o setor privado é cada vez mais concorrencial, pois atualmente investe muito na possibilidade de investigação.

Doutorada em gestão de organizações de saúde, Tânia Gaspar estudou as Parcerias Público Privadas (PPP), os hospitais privados e os públicos e recorda que “as PPP tinham o melhor de dois mundos porque não tinham que ir a arranjar clientes, (…) os clientes eram fixos, mas realmente o modelo de garantia da qualidade era muito mais robusto, eficaz e dava outras condições”.

“Temos mesmo de repensar tudo e ter uma ação urgente nesta área pois os profissionais da saúde, em comparação com os outros profissionais, estão em maior risco”, disse.

Além de atribuir um risco elevado à dimensão da Saúde Mental, o estudo conclui que são os profissionais das gerações mais novas (Z e Y, com idades até aos 40/45 anos) que revelam menos envolvimento no trabalho e menor perceção de desempenho. São igualmente os da geração Z (até aos 34 anos) que têm piores indicadores de saúde mental.

Saúde mental dos profissionais deve preocupar empresas aponta estudo do Laboratório Português de Ambientes de Trabalho Saudáveis

“Um profissional de saúde que não está bem vai afetar a sua ação junto doente e as situações podem ser mesmo muito graves”, recorda a investigadora.

Por outro lado, os profissionais das gerações mais velhas (geração X e baby boom, ou seja, acima dos 44 anos) têm uma perceção mais positiva do envolvimento da comunidade.

“Notamos que os alunos do ensino superior também têm dificuldades na área da saúde mental e esta área da saúde acaba por ter um grande investimento, uma grande sobrecarga. Estes jovens já vêm da sua formação bastante fragilizados e depois entram no mercado de trabalho e acabam por revelar mais dificuldades”, explica.

Tânia Gaspar diz que, relativamente às expectativas dos jovens em relação ao mundo do trabalho, “o que está a acontecer é um mecanismo de defesa. Abre-se a porta do futuro a estes jovens e realmente é tudo uma incerteza, uma falta de felicidade, de bem-estar… é só coisas negativas. E aí eles pensam: ‘não vou investir a minha energia, a minha expectativa, numa coisa que parece tão negativa'”.

A investigadora considera ainda que os jovens que não são da área da saúde estão a conseguir lidar melhor com esta questão.

Os jovens valorizam mais a conciliação da vida profissional com o bem-estar e com a sua vida pessoal. Aqui, na área da saúde, provavelmente pela exigência que tem a profissão, eles não conseguem fazer isso”, alertou.

A especialista chama ainda a atenção para outro fator agravante: mais de um em cada quatro (25,4%) profissionais de saúde diz-se alvo de ameaças ou outra forma de abuso físico e psicológico.

Um em cada quatro médicos internos tem sintomas graves de “burnout”

“O assédio laboral é maior nos profissionais de saúde do que nos outros profissionais, onde tínhamos valores de 19%”, disse a investigadora, alertando igualmente para a urgência de tomar medidas nesta área.

“Se eu fosse ministra da Saúde estaria realmente preocupada”, concluiu.