Dezenas de indígenas Mascho Piro, a tribo considerada a mais isolada do mundo, foram vistos e fotografados à beira do rio Las Piedras na região Madre de Díos, no sudoeste do Peru, perto da fronteira com o Brasil. Esta é uma tribo amazónica conhecida pela aversão ao contacto com o resto do mundo: os Mascho Piro são ariscos e costumam atacar quem deles se aproxima, tendo já sido responsáveis por mortes de estrangeiros, recorda o The New Yorker.
Porém, segundo a ONG Survival International, a tribo enfrenta um inimigo que não consegue derrotar. Os Mascho Piro terão trocado as profundezas amazónicas pelo rio, em busca de comida e de segurança. Isto porque as suas terras, assim reconhecidas como suas pelo governo peruano, estão a ser ameaçadas pela crescente indústria madeireira da Amazónia.
Quem são os Mascho Piro?
A tribo Mascho Piro é composta por cerca de 750 indivíduos, estima-se. Não é fácil ter a certeza, já que estes indígenas estão entre as comunidades mais isoladas do mundo. A sua existência remonta, pelo menos, até ao século XVII. Mas foi no século XIX que os Mascho Piro tiveram de abandonar as terras onde viviam. Eram terras ricas em látex e a comunidade indígena acabou por ser vítima do chamado “ciclo da borracha”.
Os membros que sobreviveram a esta invasão refugiaram-se nas profundezas da Amazónia, sobretudo na região de Madre de Diós no Parque Nacional de Manú, no Peru, onde estão até aos dias de hoje. São conhecidos pela sua falta de contacto com o mundo, rejeitando interações até com outros povos locais. A única exceção são os Yine.
Segundo a Survival, os Mascho Piro visitaram aldeias Yine várias vezes nos últimos anos. Muito embora falem línguas diferentes (os Mascho Piro têm uma língua própria), as duas tribos conseguem comunicar. Ainda assim, estas interações podem ser letais para os Mascho Piro: devido à isolação extrema deste grupo, uma doença ligeira na tribo Yine pode provocar uma epidemia mortal entre os Mascho Piro.
A história repete-se
A Survival garante que as imagens agora obtidas, mais do que mostrar os indígenas a mergulhar para as águas lamacentas do rio, a conversar e a montar um acampamento, evidenciam a necessidade urgente de revogar todas as licenças de exploração de madeira na zona e reconhecer que o território pertence aos Mascho Piro. Para esta ONG, a existência da tribo está novamente a ser ameaçada por forças exteriores que querem aproveitar os recursos naturais da Amazónia.
A ONG denunciou as várias concessões que o governo peruano deu a várias empresas de madeira, em concreto à Canales Tahuamanu. Esta empresa construiu 200 quilómetros de estradas para agilizar o transporte de madeira.
As suas operações são certificadas pela FSC (Forest Stewardship Council), o que devia confirmar operações sustentáveis e éticas. Porém, além desta construção, há já oito anos que a empresa extrai madeira do território Mascho Piro – uma área que o governo peruano reconheceu pertencer a estes indígenas.
Esta é uma evidência irrefutável de que muitos Mashco Piro vivem nesta área que o governo, além de não conseguir proteger, vendeu às empresas madeireiras. Os trabalhadores podem trazer novas doenças que serão mortais aos Mashco Piro, e também há risco de violência de ambos os lados”, diz a ONG.
A Survival defende, por isso, que é “muito importante que os direitos territoriais dos Mashco Piro sejam reconhecidos e protegidos por lei”, garantiu Alfredo Vargas Pinto, presidente da organização indígena FENAMAD (Federação Nativa do Rio de Madre de Dios e Afluetes).
*Editado por Edgar Caetano