Tadej Pogačar é um fenómeno. Aos 25 anos, o ciclista esloveno prepara-se para ganhar o Tour pela terceira vez, repetindo os triunfos de 2020 e 2021, e vai tornar-se o primeiro desde Marco Pantani a juntar o Giro à grande boucle num único ano. Depois de ter perdido a camisola amarela para Jonas Vingegaard nas últimas duas edições, terminando no segundo lugar e atrás do dinamarquês, voltou a mostrar-se hegemónico — mas a mudança de panorama deu trabalho.

Com cinco vitórias em etapas na 111.ª edição da Volta a França, Tadej Pogačar chegou ao fim deste sábado e do penúltimo dia da prova com mais de cinco minutos de vantagem para Jonas Vingegaard, tendo o triunfo mais do que na mão no derradeiro contrarrelógio de domingo que termina em Nice. Depois da retumbante vitória no Giro, no final de maio, o esloveno recuperou o domínio praticamente absoluto da modalidade e deixou os adversários diretos completamente para trás e sem capacidade de resposta, numa lógica que teve como clara prova a exibição na chegada a Isola 2000.

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Como? Tudo começou com uma mudança de treinador. Depois de muitos anos a trabalhar com Iñigo San Millán, um fisiologista que o levou à conquista do Tour da Flandres, do Liège-Bastogne-Liège, do Il Lombardia e de dois Tours, Pogačar decidiu cortar com o início da carreira e juntar-se ao espanhol Javier Sola, um especialista em biomecânica.

“Este ano dei outro passo. É sempre difícil melhorar de ano para ano, mas estou muito feliz e sinto-me muito sortudo por ter conseguido melhorar durante o inverno”, explicou o ciclista em maio, depois da vitória no Giro, antes de abordar a mudança de treinador. “Eu e o Iñigo tínhamos uma boa relação, o treino dele era bom para mim, mas às vezes precisamos de uma mudança de ritmo, de coisas diferentes, de um estilo diferente de treino. Não foi uma grande mudança, mas foi uma boa mudança”, acrescentou.

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Para o especialista Martin Hvastija, jornalista esloveno que acompanha a carreira de Tadej Pogačar desde os primeiros dias, a história não é assim tão simples. “Não conheço detalhes, mas a verdade é que o Tadej não estava contente com o treinador. Falámos muito abertamente sobre isso nos Mundiais de Glasgow e ele disse que queria mudar algumas coisas. Depois de vários anos com um estilo de treino muito semelhante, todos os ciclistas procuram um novo treinador, uma nova vontade, uma nova abordagem”, explicou numa entrevista recente.

E a abordagem mudou mesmo. De 2023 para cá, o esloveno dedicou-se essencialmente a uma nova filosofia de treino mais focada no corpo e no aspeto físico do ciclismo, procurando fortalecer aquelas que eram consideradas as suas fraquezas: o calor, a grande altitude e os dias consecutivos com grandes subidas e um ritmo alto do início ao fim. O novo plano de treino passou por mais ginásio, para cimentar a musculatura, muitas horas no túnel de vento e a entrada em ação de outros dois elementos.

A Tadej Pogačar e a Javier Sola juntaram-se Alexandre Baccili e Gorka Prieto. O primeiro, considerado o fisioterapeuta das celebridades, juntou o esloveno a um lote de clientes que também inclui o tenista Stefanos Tsitsipas, o piloto Carlos Sainz e os igualmente ciclistas Egan Bernal e Chris Froome. O segundo, nutricionista, foi o obreiro de uma das grandes mudanças na vida de Pogačar.

“Quando comecei a correr mais a sério, há seis anos, comia massa e arroz ao pequeno-almoço e às vezes juntava uma omelete. Agora tenho pequenos-almoços normais, com aveia, pão, panquecas. Essas pequenas coisas fazem a diferença, não ter de comer massa ao pequeno-almoço”, revelou o ciclista recentemente, explicando que deixou de precisar de consumir tantas calorias e passou a adotar uma dieta mais saudável e menos pesada.