Tadej Pogacar, esloveno de 21 anos, venceu este sábado a Volta a França depois de anular os 57 segundos de desvantagem que trazia para o compatriota Primoz Roglic. Num dos contra-relógios mais emotivos e imprevisíveis dos últimos anos, o jovem ciclista completou uma penúltima etapa impressionante, orquestrou um autêntico golpe de teatro e tem este domingo a consagração nos Campos Elísios.

No contra-relógio deste sábado, com a subida de La Planche des Belles Filles, algo era certo: o vencedor da Volta a França 2020 ficaria decidido quando todos os ciclistas cruzassem a meta, sem ser necessário esperar pela derradeira etapa deste domingo. Primoz Roglic, outro esloveno, tinha 57 segundos de vantagem e parecia ter a vitória praticamente garantida antes sequer de subir para cima da bicicleta. Pogacar, que estava em segundo na classificação geral antes do decisivo contra-relógio, fez uma prova impressionante, anulou a desvantagem, venceu sem grandes dúvidas e juntou a conquista do Tour ao primeiro lugar nas classificações de montanha, juventude e à vitória na etapa.

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Tadej Pogacar tornou-se assim o primeiro esloveno de sempre a ganhar a Volta a França e o segundo mais novo de sempre a alcançá-lo, apenas atrás de Henri Cornet, que tinha 19 anos quando venceu a segunda edição da prova, em 1904. O ciclista da UAE Team Emirates, que ficou em primeiro na Volta ao Algarve do ano passado e em terceiro na estreia na Vuelta, termina a primeira participação no Tour com a conquista da competição e três vitórias em etapas.

A ainda curta carreira do esloveno começou há mais ou menos 10 anos — não necessariamente por aquilo que fez mas especialmente por quem estava a vê-lo. Andrej Hauptman, antigo ciclista e medalha de bronze pela Eslovénia nos Mundiais de 2011, era o treinador de topo no país na altura e decidiu assistir a uma corrida de pequenos atletas. “Cheguei um pouco atrasado e a primeira coisa que vi foi um grande grupo de ciclistas adolescentes a liderar e um tipo pequeno, muito mais novo, 100 metros atrás e a tentar acompanhar”, recordou Hauptman numa entrevista recente à Procycling. A imagem, porém, era apenas ilusão de ótica.

“Disse aos organizadores que tinham de fazer alguma coisa para ajudar aquele tipo pequeno a chegar à frente outra vez. Eles disseram: ‘Não, não é aquilo que estás a pensar. Ele está à frente. Tem uma volta de avanço’. E esse tipo pequeno era o Tadej”, contou o treinador. Esse primeiro encontro fez com que Andrej Hauptman continuasse a acompanhar o jovem ciclista, tornando-se seu treinador e mentor. “O Hauptman mostrou-me o caminho para o ciclismo”, já disse Pogacar, quando questionado sobre a influência do antigo ciclista na própria carreira.

72nd Criterium du Dauphine 2020 - Stage 5

O ciclista de 21 anos nunca tinha participado na principal competição de ciclismo do mundo

A influência de Hauptman mostrou-se instrumental no momento de saltar para uma grande equipa internacional e Pogacar acabou por assinar com a UAE Team Emirates, devido aos contactos próximos do treinador com o atual team-manager, Mauro Gianetti. “Todos os ciclistas que acompanho vão para esta equipa. Disse-lhes que tinha mais um. Que era novo, que tínhamos de ver como lidar com ele. Mas se olharmos para tudo o que ele fez este ano [2019], dá para ver que foi a hora certa para o Tadej se tornar profissional. Não foi demasiado cedo”, completou o treinador.

Este encontro, fortuito e ocasional, acabou por ser o ponto decisivo na carreira de Pogacar. “Eu tinha nove anos. Estava a correr com rapazes dois anos mais velhos do que eu porque não tínhamos na Eslovénia categorias para ciclistas tão novos como eu. Era uma corrida só com algumas voltas a um circuito de três quilómetros, mas eu adiantei-me e ganhei. Nesses dois anos, corri sempre com ciclistas mais velhos. Só quando fiz 11 anos é que comecei a correr com os da minha idade. Tecnicamente, eu era demasiado novo para estar ali naquelas corridas. Mas não tinha outra alternativa”, recordou o agora vencedor do Tour.