Chegar, ver e vencer. É este o resumo da estreia de João Almeida na Volta a França, a principal prova velocipédica do planeta. Aos 25 anos, o português da UAE Team Emirates chegou a terras gaulesas com um papel secundário, mas a sua passagem pela prova termina em grande plano e mó de cima. Para a história fica o quarto lugar e um português a lutar pelos lugares cimeiros 20 anos depois de José Azevedo — foi quinto em 2004. Almeida tornou-se no quarto português a terminar no top 10, depois de Joaquim Agostinho (em oito ocasiões), Azevedo (2) e Alves Barbosa (1).

Com uma prova irrepreensível e em constante crescimento do início ao fim, o português sabia que o seu papel passava por trabalhar e ajudar o máximo possível Tadej Pogacar a reconquistar a prova. O objetivo foi conseguido e, só por isso, João Almeida já é um dos vencedores deste Tour. O corredor de A dos Francos é apenas o quarto português a fazer parte da equipa do vencedor da Volta a França: Joaquim Agostinho (1973), Sérgio Paulinho (2007 e 2009) e Rui Costa (2021, também na Emirates e com Pogacar).

Deste modo, a primeira etapa de montanha desta 111.ª edição colocou à vista aquilo que todos esperavam: João Almeida foi chamado a trabalhar para o líder. A tarefa foi de tal forma bem sucedida que, em poucos minutos, o português reduziu drasticamente o grupo e catapultou o esloveno para o triunfo. Seguiu-se o contrarrelógio e a subida de Almeida ao sexto lugar, a apenas um segundo do top 5.

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Na segunda semana apareceram mais dificuldades. Na 11.ª etapa, que contou com mais de 4.000 metros de subida acumulada, o português voltou a andar com os melhores e ascendeu ao quinto lugar. De lá para cá nunca mais abandonou o top 5. Já no impensável quarto lugar, beneficiando da desistência de Primoz Roglic, Almeida cimentou a sua presença nos lugares cimeiros em Plateau de Beille.

O dia em que o duo imbatível transformou uma etapa de montanha num final ao sprint: Jonas derrotou Tadej e aproximou-se, João no top 5

Na entrada para a derradeira semana do Tour seria impensável ver João Almeida fora dos quatro primeiro lugares e até havia quem pensasse ser possível sonhar com o pódio. O sonho não passou do papel, já que Remco Evenepoel, Jonas Vingegaard e Tadej Pogacar estavam uns furos acima de toda a concorrência. Nas duas etapas dos Alpes, o português voltou a exibir toda a sua força, e chegou a ser o único a conseguir aguentar o ritmo dos três mosqueteiros.

Assim, João Almeida terminou a Volta a França na quarta posição, naquele que é o melhor registo de um português depois dos terceiros lugares de Joaquim Agostinho em 1978 e 1979, e tornou-se no português mais sucedido na estreia — Agostinho foi oitavo na estreia, mas venceu duas etapas. Para além disso, o Bota Lume é, a partir deste domingo, o único português a conseguir um top 5 nas três Grandes Voltas — a Agostinho faltou o Giro, a Azevedo a Vuelta.

Para a história fica um Tour fabuloso do português, com um crescimento constante na geral e sete top 10 em etapas. Fora da estrada, o forte apoio dos adeptos portugueses a João Almeida são uma das imagens mais bonitas que ficam desta edição. A presença foi de tal forma sonante que chegou a surpreender os colegas de equipa de Almeida.

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