“Eu espero que o Presidente Lukashenko me perdoe e me absolva.” Foi com estas palavras que Rico Krieger, de 30 anos, se dirigiu ao Chefe de Estado da Bielorrússia na televisão estatal do país. O homem de nacionalidade alemã foi condenado à morte num julgamento secreto que ocorreu no final de junho. Citada pela Reuters, a ministra dos Negócios Estrangeiros germânica, Annalena Baerbock, já reagiu ao sucedido e considerou “intolerável como o regime bielorrusso humilhou um cidadão alemão na televisão”.
A Alemanha tem contestado não só a forma como ocorreu o julgamento, como também os métodos utilizados pela Bielorrússia, opondo-se fortemente à pena de morte. “Devemos fazer tudo para garantir que os seus direitos são protegidos — a pena de morte foi abolida na Europa”, assinalou Annalena Baerbock. Contudo, o regime bielorrusso ainda a permite.
Na intervenção da televisão estatal, Rico Krieger revelou que trabalhava à revelia para os serviços secretos ucranianos, o SBU. O homem de 30 anos disse que tinha como missão fotografias bases militares na Bielorrússia e admitiu que foi ele a fazer explodir uma linha de caminho de ferros no sudeste de Minsk em outubro de 2023. “Eu estou profundamente arrependido pelo que fiz e estou aliviado de que não tenha havido vítimas.”
“Foi o maior erro da minha vida. E provavelmente o último. Sou culpado”, lamentou Rico Krieger, que lembrou a sua história de vida. “Trabalhei como socorrista por mais de um ano, providenciei assistência, por exemplo, em acidentes e ataques cardíacos”, disse o homem de 30 anos, que referiu que trabalhou no “serviço de segurança na embaixada norte-americana em Berlim”: “Foi aí que aprendi a mexer em armas”. Foi neste posto de trabalho que foi convidado pelos serviços secretos da Ucrânia e foi contratado para levar a cabo atividades disruptivas na Bielorrússia.
Foi por isso que foi condenado à morte pelo sistema judicial bielorrusso. Após a pena, na televisão, o cidadão de nacionalidade alemão culpa o governo alemão por “não fazer nada”. “Sinto-me como uma girafa prestes a ser abatida”, desabafou, lamentando: “Era suposto que o governo lutasse por mim, mas apenas a minha família o faz.”
Não obstante, o governo germânico tem-se reunido com dirigentes bielorrussos e tem expressado a apreensão. Esta sexta-feira, o chanceler alemão, Olaf Scholz, manifestou-se “preocupado” pela pena a que foi condenado Rico Krieger, frisou um porta-voz do governo.
A porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Katrin Deschauer, também destacou que o executivo está “muito preocupado com o facto de a dignidade humana estar a ser violada” pelo vídeo transmitido na televisão estatal e que está a fazer de tudo para libertar o homem de 30 anos. A Deutsche Welle escreve que a diplomacia germânica se tem empenhado diplomaticamente e que se tem reunido com dirigentes da Bielorrússia.
Mas o governo bielorrusso pode está a querer fazer pressão às autoridades alemãs para uma eventual troca de prisioneiros. Segundo a Deutsche Welle, Minsk pondera trocar Rico Krieger por Vadim Krasikov, um membro dos serviços secretos russos que matou o comandante checheno Zelimkhan Khangoshvili em Berlim, no ano de 2019, e foi condenado à prisão perpétua. Aliás, a Rússia estaria a pensar trocar Alexei Navalny, o maior opositor de Vladimir Putin, por Vadim Krasikov.
O porta-voz diplomático da Bielorrússia, Anatoli Glaz, já referiu terem sido propostas “soluções concretas” com base “nas possibilidades disponíveis para alterar a situação”.”Estão a ser realizadas consultas sobre este assunto” entre os serviços diplomáticos dos dois países, acrescentou a mesma fonte, sem dar pormenores sobre quais são as possíveis soluções.