O Millennium BCP anunciou um lucro semestral de 485,3 milhões de euros, o que representa um crescimento de 14,7% face ao mesmo período do ano passado. O presidente executivo do banco destaca que este foi o “melhor trimestre (o segundo) e o melhor semestre” do BCP em 10 anos.
Na conferência de imprensa para apresentação de resultados, Miguel Maya destaca um resultado operacional de 1.174 milhões de euros até junho, com as unidades da Polónia e Moçambique a terem resultados positivo, e os recursos a ultrapassarem os cem mil milhões de euros, uma “fasquia histórica” que corresponde ao crescimento de 8,9% face ao primeiro semestre do ano passado.
Na explicação dos valores, o gestor assinalou travagem já esperada no mercado nacional, fruto da descida das taxas de juro e do aumento dos custos dos depósitos, o que é visível na descida da margem financeira em Portugal.
Na Polónia e apesar das perdas com crédito hipotecário em francos suíços, o banco na Polónia registou um resultado positivo de 82,8 milhões de euros. Moçambique, “uma operação muito resiliente”, teve lucros de 46,8 milhões de euros. A operação internacional deu um contributo de 74,3 milhões de euros para os resultados consolidados do banco.
Apesar da “normalização do balanço”, o presidente do BCP diz que o banco prossegue uma gestão muito cuidada dos créditos não produtivos e assinala a redução das imparidades para perdas de crédito em Portugal. A carteira de crédito encolheu 3,3% no mercado doméstico que Maya atribui à política monetária que levou a uma menor procura. Considerando os elevados níveis de liquidez, o BCP está em posicionado para aumentar a concessão de crédito, desde que a procura exista, disse Miguel Maya.
Miguel Maya desvaloriza acórdão sobre troca de informação na banca
O presidente do BCP desvalorizou o impacto do acórdão do Tribunal Europeu conhecido esta semana sobre a condenação da Autoridade da Concorrência ao “cartel da banca” que, insiste Miguel Maya, não é um cartel. Para começar, e ao contrário do que parece, “não houve nenhuma acusação de cartel, nem sequer foi julgado”. O que está em causa é troca de informação entre bancos que, no entendimento do Tribunal, podem constituir uma restrição à concorrência, mas isso “não quer dizer que sejam”.
O BCP analisou todos os comportamentos sobre esta troca de informação e não identificou “consequências negativas” nem foi provado que houve prejuízos para os clientes. A informação foi de facto trocada entre bancos no âmbito do lançamento de produtos bancários. O BCP vai, por isso, continuar a defender a sua posição, afirmou.
Garantia aos jovens vai ter impacto relevante no segmento a que se destina
Questionado sobre o efeito que espera da entrada em vigor da garantia do Estado para o crédito à habitação aos jovens, o presidente do banco avisa que este diploma “não vai resolver o problema do credito à habitação”. O propósito, acrescenta, é facilitar o acesso ao crédito a um conjunto de pessoas que estavam restringidas pelas restrições regulamentares porque não tinham recursos para dar uma entrada de 10% “Este diploma veio resolver um problema específico. Acho que é uma boa solução para esse problema”.
Questionado sobre o limite de 90% do valor total da casa estabelecido para a concessão de crédito à habitação pelo Banco de Portugal, Miguel Maya assinala que a medida macroprudencial que se mantém é a que obriga os bancos a avaliar periodicamente se os rendimentos dos jovens que vão beneficiar da garantia pública têm capacidade para fazer os pagamentos do serviço da dívida. E aí, não há flexibilidade. Temos de continuar a fazer a simulação”. Mas esta medida, sublinha, tem um “impacto muito relevante” para aquele segmento do mercado. Ainda que esse segmento seja pouco expressivo.
10 anos de queda do BES. Bancos souberam aprender com o que se passou
O CEO do Millennium foi ainda instado a comentar os 10 anos da queda do Banco Espírito Santo. E declarou que a “supervisão mudou muitíssimo, está muito mais eficiente, o que é bom para os clientes, gestores e acionistas e para a economia”, destacando o papel do mecanismo único de supervisão do BCE. Para Miguel Maya, a maioria dos banco “soube interpretar, ler e aprender com o que se passou no sistema financeiro e não apenas no BES”. O problema, diz, é o que ficou de fora — apontando ao shadow banking que está a crescer muito e pode ter um grande impacto.