Começou a temporada 2024/25 no futebol português. Como é habitual, o pontapé de saída foi dado na Supertaça Cândido de Oliveira, que cumpriu este sábado a 46.ª edição. E havia melhor forma para começar a época sem ser com um dos grandes clássicos do futebol português? Em Aveiro, o campeão nacional Sporting encontrou o vencedor da Taça de Portugal, o FC Porto, numa partida que contou com duas equipas bem diferentes daquelas que entraram no relvado do Jamor há dois meses. E foi precisamente na final da Taça que começou a ser traçado o rumo desta Supertaça.

Foi o nervosismo de um miúdo que rebentou com eles (a crónica da final da Taça de Portugal)

A principal consequência desse desafio afeta os leões e prende-se com a ausência de Matheus Reis. Sem ter sido opção na final, o lateral desceu ao relvado para protestar com a equipa de arbitragem e acabou expulso… falhando o primeiro jogo da nova época. Além do brasileiro, Nuno Santos e St. Juste, lesionados, completaram o lote de ausentes, sendo certo que Rúben Amorim estava obrigado a mudanças no corredor esquerdo.

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Ficha de jogo

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Sporting-FC Porto, 3-4 (após prolongamento)

Supertaça Cândido de Oliveira 2024

Estádio Municipal de Aveiro

Árbitro: João Pinheiro (AF Braga)

Sporting: Vladan Kovacevic; Eduardo Quaresma, Zeno Debast (Ousmane Diomande, 91′), Gonçalo Inácio (Iván Fresneda, 100′); Geny Catamo, Hidemasa Morita (Daniel Bragança, 89′), Morten Hjulmand (Rodrigo Ribeiro, 103′), Geovany Quenda; Francisco Trincão (Marcus Edwards, 83′), Pote (Mateus Fernandes, 100′) e Viktor Gyökeres

Suplentes não utilizados: Franco Israel; João Muniz e Ricardo Esgaio

Treinador: Rúben Amorim

FC Porto: Diogo Costa; João Mário (Stephen Eustáquio, 63′), Otávio Ataíde, Zé Pedro, Martim Fernandes; Marko Grujic (Iván Jaime, 63′), Alan Varela; Gonçalo Borges (Fran Navarro, 83′), Nico González (Vasco Sousa, 75′), Wenderson Galeno; Danny Namaso (David Carmo, 104′)

Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos; André Franco, Gonçalo Sousa e Toni Martínez

Treinador: Vítor Bruno

Golos: Gonçalo Inácio (6′), Pote (9′), Quenda (24′), Galeno (28′ e 66′), Nico (64′) e Iván Jaime (101′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Nico (45+1′), Alan Varela (67′), Eduardo Quaresma (72′), Rúben Amorim (90+3′), Otávio (97′) e Diomande (97′)

Olhando ainda ao último jogo da temporada passada, muito mudou no balneário do Sporting, principalmente nos elementos mais experientes e na hierarquia da liderança. Coates, Adán, Paulinho e Neto saíram no defeso, “obrigando” Hjulmand a assumir a braçadeira. Kovacevic e Debast chegaram para preencher o espaço deixado na baliza e no centro da defesa, mas ainda estão longe do nível dos antecessores — como seria de esperar. Contudo, a principal notícia prende-se com a continuidade de Gyökeres… até ver.

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“É uma época diferente, um jogo diferente. Há muito entusiasmo em Alvalade, mas também do lado do FC Porto, e os ciclos são assim. Será importante para o FC Porto vencer, mas é muito importante para nós vencer. É importante termos 11 jogadores, e, nos Clássicos, às vezes, isso é difícil. Vamos ver. Acho sempre que o primeiro toque na bola, o primeiro lance de perigo, tem mais influência do que qualquer outra coisa que ocorreu. Estamos preparados, o FC Porto também, e vai ser um excelente jogo”, assumiu Amorim na antevisão da partida.

O FC Porto até venceu o último troféu da temporada, mas nas últimas semanas passou por uma grande transformação — que se alastra à estrutura do clube. Sérgio Conceição abandonou o comando técnico da equipa e foi substituído pelo seu adjunto Vítor Bruno. O trabalho do novo treinador foi bastante positivo durante a pré-época, que chegou ao fim com oito vitórias em oito jogos. Ainda assim, faltava mostrar a consistência nos jogos oficiais e nada melhor do que começar contra o campeão Sporting.

Outra das grandes decisões tomadas no defeso foi a saída de Pepe, que não renovou. Taremi também saiu, a custo zero. Em sentido inverso, Vítor Bruno decidiu recuperar os jogadores que tinham sido afastados pelo antigo treinador e Iván Jaime mostrou que está a altura de envergar a camisola do dragão. David Carmo e Fran Navarro também foram integrados no plantel e mostraram que podem ser opção nesta nova era do FC Porto.

“Ganhar é sempre importante, seja em que circunstância for, contra que adversário for. É uma Supertaça, um troféu em causa. Este clube está habituado a altos níveis de conquista. Mas é um jogo isolado, de uma época longa com Mundial de Clubes, é exigente. O que acontecer no sábado não vai ter influência no desenrolar da época. Entrar a ganhar é importante, a equipa está bem, sente-se energia, confiança e alguma desconfiança perante o alerta máximo que tem de ser diante do adversário”, partilhou o treinador.

Estavam assim lançadas as cartas para o arranque oficial da nova temporada. Nos onzes iniciais, Rúben Amorim não fez grandes mexidas, colocando Geovany Quenda na ala direita, Geny Catamo na direita e Eduardo Quaresma na defesa, em detrimento de Diomande, numa opção que se prende com a velocidade do português face a Debast. Por outro lado, Vítor Bruno apostou apenas em Diogo Costa dos internacionais — Chico Conceição sofreu uma lesão muscular —, com Stephen Eustáquio a ficar no banco. Galeno, Namaso e Gonçalo Borges compuseram um ataque móvel e sem uma referência.

E foi precisamente o FC Porto que entrou mais confortável no relvado de Aveiro. Os dragões tentaram explorar as fragilidades da renovada defensiva leonina, criaram perigo por Martim Fernandes (2′) e Namaso (4′), mas não conseguiram faturar… e pagaram caro. Na primeira vez que o Sporting se aproximou da baliza de Diogo Costa, marcou, com Gonçalo Inácio a cabecear depois de um canto estudado de Pote e Hjulmand (6′). A formação portista ressentiu-se perante o golo adversário e, três minutos depois, sofreu o segundo golo, numa jogada em que Gyökeres fez o que quis, correu quase 60 metros com a bola, e serviu Pote para o golo (9′).

O início de sonho da formação de Amorim só não ganhou contornos de goleada pouco depois porque Gyökeres e Pote atrapalharam-se e não conseguiram desviar um cruzamento de Geny à boca da baliza de Diogo Costa (16′). O segredo para desfeitear a defesa leonina continuava a passar pelo centro-direito, com Debast, Quaresma e Quenda a apresentarem muitas dificuldades sem bola. Num desses lances, Galeno recebeu de peito dentro da área, mas o remate saiu fraco e acabou nas mãos de Kovacevic. No lance seguinte, o avançado sueco voltou a ter espaço na meia-esquerda, cruzou junto à linha de fundo e Quenda, de primeira, atirou para o terceiro golo (3-0). Os dragões demoraram a recompor-se mas lá conseguiram responder, com Galeno a aproveitar um erro clamoroso de Debast (28′). Até ao intervalo, o resultado não sofreu mais alterações e o Sporting entrou no segundo tempo com uma vantagem confortável (3-1).

Na etapa complementar, a postura das duas equipas manteve-se intacta. O Sporting continuou a explorar o lado direito da defensiva portista, mas sentiu dificuldades perante a pressão alta dos dragões. Já o FC Porto continuou bem na reação à perda e descoordenado no setor defensivo. À passagem da hora de jogo, Vítor Bruno mexeu na equipa, em dose dupla, e a partir daí… tudo mudou. Os leões continuaram muito permissivos na defesa, Gonçalo Borges aproveitou, cruzou para a área e Nico atirou de pronto para o 3-2 (64′). Na jogada seguinte, o recém-entrado Eustáquio subiu até à área e colocou a bola perfeita para Galeno encostar, em cima da baliza (66′).

Com o jogo de novo relançado, Quenda voltou a criar perigo na sequência de um canto, mas desta feita o remate saiu por cima (77′). Os dragões continuaram a dominar e mais perigosos no ataque, mas Fran Navarro viu Kovacevic negar-lhe o golo da reviravolta com uma grande intervenção (87′). Com essa defesa, o bósnio segurou o empate e levou a partida para o prolongamento. No tempo extra, os leões entraram melhor, mas Diogo Costa parou o cruzamento-remate de Quenda, que podia ter dado golo (94′).

Contudo, o jogo dos bancos voltou a sair a favor do FC Porto. Antes do intervalo do prolongamento, Vasco Sousa arrancou pelo meio, deixou para Iván Jaime, e o espanhol, com um remate que embateu em Mateus Fernandes, completou a épica reviravolta, num lance em que Kovacevic aparenta ficar mal na fotografia (101′). Na reta final, Daniel Bragança tentou de longe (118′), mas o resultado estava consumado e o FC Porto conquistou a 24.ª Supertaça Cândido de Oliveira com uma reviravolta épica, de 3-0 para 3-4. Mais de dois meses e meio depois do célebre vídeo de Frederico Varandas, que pedia à equipa para “rebentar” com o dragão no Jamor, o leão voltou a sair rebentado. São duas finais seguidas a perder no prolongamento, depois de ter o jogo na mão.