A saída do FC Porto era anunciada, o passo seguinte ainda não era conhecido: aos 41 anos e menos de um mês depois do final do Euro 2024, Pepe anunciou o final da carreira. O central comunicou a decisão através de um longo vídeo nas redes sociais, acrescentando apenas a legenda “obrigado”.

Rodeado por todos os troféus que conquistou ao longo da carreira e a assistir a imagens que vão desde a infância ao profissionalismo, passando pela adolescência, Pepe recorda os melhores momentos de um percurso que terminou com o último Campeonato da Europa. Na altura, logo depois da eliminação de Portugal contra França nos quartos de final e de não ter conseguido esconder as lágrimas na sequência das grandes penalidades, o central disse que teria “tempo” para falar sobre o futuro.

“Terei tempo de falar sobre o meu futuro, temos de passar por esta dor muito grande. Tínhamos capacidade para vencer a prova e agora temos de levantar a cabeça. Se é o meu último jogo? O importante não é isso, vou ter tempo para falar do meu futuro. O mais importante é dar os parabéns aos meus companheiros pela entrega que tiveram no jogo. Vou ter tempo para poder falar nisso. Hoje não é o momento de falar do futuro do Pepe”, atirou o internacional português que se tornou o mais velho de sempre a jogar em Europeus, sendo que anteriormente já tinha sublinhado não estar preocupado “com o amanhã”, mas sim “com o dia a dia”.

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O fim da carreira de Pepe acaba por surgir no meio de alguma surpresa, já que a saída do FC Porto como um todo parecia associada à intenção do central de continuar a jogar pelo menos na próxima temporada. André Villas-Boas justificou a não renovação de contrato com uma “redução de custos” na folha salarial, mas foram muitos os rumores sobre o alegado convite ao jogador para que integrasse a estrutura do futebol dos dragões, algo que este teria recusado precisamente por querer prosseguir a carreira.

Aprendeu a correr menos para correr melhor: Pepe e uma masterclass de quem tem sempre de contar

“O que transmiti ao Pepe, de certa forma e que é de bom senso comum, é que todo o seu futuro está intimamente ligado ao FC Porto, seja do ponto de vista apenas emocional ou até do ponto de vista profissional. Sobre a sua continuidade, enquanto jogador do FC Porto, isso não irá acontecer. Foram-lhe explicadas as razões pelas quais, infelizmente, não poderá acontecer. no entanto, temos o máximo de respeito pela sua carreira. Há um caminho diferente e há também uma preocupação, de certa forma, de o novo FC Porto reduzir massa salarial e custos. Isto foi explicado ao Pepe e ele entendeu assim. Irá tomar a decisão que entender relativamente à sua carreira e as portas do FC Porto estarão sempre abertas para ele”, disse André Villas-Boas em entrevista ao canal Now.

Pouco depois de o anúncio de Pepe ser tornado público, o presidente da Federação Portuguesa de Futebol deixou um comunicado de homenagem ao central na página oficial do organismo. “Ao terminar a sua carreira de futebolista, o Pepe deixa-nos como legado um exemplo de profissionalismo, dedicação e, acima de tudo, de enorme paixão pelo futebol e pela Seleção Nacional […] Pepe é um exemplo de profissionalismo extraordinário. Recordo bem a forma como participou na final do Euro 2016, ou como jogou com uma fratura no braço o desafio diante Marrocos no Mundial no Qatar e como se apresentou, aos 41 anos, com a mesma paixão, dedicação e pundonor no Euro 2024. Neste momento em que Pepe decidiu terminar a carreira de futebolista, não posso, como presidente da FPF, deixar de lhe agradecer estes 17 anos ao serviço da seleção”, pode ler-se.

Também Cristiano Ronaldo, que foi colega de Pepe tanto na Seleção Nacional como no Real Madrid, para além dos tais treinos no Sporting, deixou uma mensagem ao amigo. “Não existem palavras suficientes para expressar o quanto significas para mim, amigo. Ganhámos tudo o que havia para ganhar em campo, mas a maior conquista é a amizade e o respeito que tenho por ti. És único, meu irmão. Obrigado por tanto”, escreveu.

Pepe, que na verdade é Kepler Laveran de Lima Ferreira, cumpriu a formação ainda no Brasil e no Corinthians Alagoano antes de se mudar para Lisboa para integrar o Marítimo. Estreou-se pela equipa B antes de assumir a titularidade nos madeirenses entre 2002 e 2004 e chegou a treinar com o Sporting, sendo mítica a fotografia em que surge ao lado de um jovem Cristiano Ronaldo nos relvados da Academia de Alcochete.

A contratação nunca se materializou, por falta de acordo entre os clubes, e Pepe assinou pelo FC Porto em 2004. Até 2007, conquistou dois Campeonatos, uma Taça de Portugal, uma Supertaça Cândido de Oliveira e também uma Taça Intercontinental. Saltou para o Real Madrid dois anos antes de Cristiano Ronaldo o fazer e por lá ficou uma década inteira, acrescentando três Ligas, duas Taças do Rei, duas Supertaças, três Champions, uma Supertaça Europeia e dois Mundiais de Clubes ao palmarés.

Saiu de Espanha em 2017 e para passar dois anos no Besiktas da Turquia antes de voltar a Portugal para ser capitão e figura maior do FC Porto nas últimas seis temporadas. Voltou a ser campeão nacional em duas ocasiões e ganhou mais quatro Taças, duas Supertaças e uma Taça da Liga. Pelo meio, num percurso na Seleção Nacional que foi de 2007 a 2024 e que incluiu a conquista do Euro 2016 e da Liga das Nações 2019, somou 141 internacionalizações e é o terceiro mais internacional de sempre, apenas atrás de Cristiano Ronaldo e João Moutinho.